Hacker que tentou extorquir primeira-dama ameaçou jogar nome
de Temer na ‘lama’
Esposa do presidente teria dito que ele tinha um marqueteiro que ‘faz parte baixo nível’
10/02/2017 - 20H23 - ATUALIZADA ÀS 20H23 - POR AGÊNCIA O
GLOBO
O PRESIDENTE MICHEL TEMER E A PRIMEIRA-DAMA
MARCELA TEMER EM
CERIMÔNIA COM OFICIAIS
MILITARES (FOTO: ADRIANO MACHADO/REUTERS)
O hacker que tentou extorquir a primeira-dama Marcela
Temer em abril do ano passado não ameaçou divulgar apenas imagens íntimas
da família, mas também o conteúdo de uma gravação obtida por ele no celular da
vítima, que segundo ele comprometeria o presidente Michel Temer.
Na troca de mensagens que consta do processo sigiloso que
investigou o caso, obtido pelo GLOBO, o hacker Silvonei José de Jesus Souza
ameaçou divulgar um áudio enviado por Marcela ao irmão, Karlo Tedeschi.
De
acordo com o hacker, na mensagem a esposa de Temer teria dito que o marido
tinha um marqueteiro que "faz a parte baixo nível". As mensagens
foram trocadas no período em que se discutia o impeachment da então presidente Dilma
Rousseff.
"Achei que esse vídeo (que na verdade é um áudio) joga
o nome de vosso marido na lama. Quando você disse que ele tem um marqueteiro
que faz a parte baixo nível, pensei em ganhar algum", escreveu Silvonei a
Marcela Temer, no período que antecedeu ao impeachment da ex-presidente Dilma
Rousseff.
O áudio mencionado pelo hacker - que teve acesso a todas
imagens e conversas de Marcela Temer - não foi anexado ao inquérito, nem
solicitado pelo Ministério Público ao pedir sua condenação na Justiça.
O caso foi investigado pela Polícia Civil de São Paulo sob a
supervisão do então secretário de segurança Alexandre de Moraes. Moraes
foi convidado para integrar o Ministério da Justiça após a investigação e
recentemente foi indicado por Temer como ministro do Supremo Tribunal
Federal.
De acordo com documentos do inquérito, Marcela respondeu ao
hacker ao ser ameaçada:
"Você acha que isso prejudica alguém??? Então você quer
dinheiro por causa desse áudio!? Você faz uma interpretação de um áudio e acha
que tem algo errado aí!? Será que sou eu mesmo falando? Você me conhece? Minha
voz?", escreveu a primeira-dama.
Interpretação e contexto
Nesta sexta-feira, a assessoria de Temer divulgou nota
informando que "a primeira-dama não fará comentários sobre esse conteúdo
que já foi usado para fins criminosos e gerou condenação na esfera
judicial". A assessoria não quis responder quem é o marqueteiro citado na
conversa.
"A frase está fora de contexto, misturando assuntos e
referências para fins de chantagem e extorsão", escreveu a assessoria do
presidente, que citou a Lei Carolina Dieckmann como medida que "preserva
os direitos de privacidade das pessoas que tenham seu sigilo violado no meio
digital".
Em depoimento, Silvonei afirmou ter tido acesso a dados de
Marcela quando explorava aleatoriamente os arquivos do HD pirata que adquiriu
no Centro de São Paulo. Ele clonou o aparelho e escreveu ao irmão de Marcela,
Karlo Tedeschi fingindo ser a primeira-dama.
Na mensagem, a falsa Marcela dizia ao irmão que precisava de
R$ 15 mil para pagar mão de obra de pintura. Karlo achou a mensagem estranha,
mas fez o depósito em conta indicada na mensagem. Dois dias depois Karlo
localizou a irmã, que negou ter lhe solicitado dinheiro e disse que seu
telefone havia sido clonado.
Ao perceber que estava em posse de dados de Temer, o hacker
tentou obter R$ 300 mil da família, sob ameaça de constranger Marcela
"perante amigos, outros familiares e a mídia", segundo denúncia
apresentada na Justiça pela promotora Mara Silvia Gazzi.
Silvonei foi condenado no ano passado pelo Tribunal de
Justiça de São Paulo a cinco anos e 10 meses de prisão por estelionato e
extorsão.
Reação
Pressionada a pagar R$ 300 mil para que as mensagens não
fossem divulgadas, Marcela Temer reagiu à tentativa de extorsão:
"Não devo nada pra ninguém, ok? Qual seu problema?
Bandido aqui é você!! Sou do bem e você invadiu meu iphone!! E aí? Como você
fica? Isso é montagem... e aí, vai fazer o que? Quer me encontrar?"
Silvonei respondeu à primeira-dama:
"Sabe que não é montagem, não tem cortes. É sua voz se
identificando que estudava no porfírio", escreveu o hacker, mencionando a
Escola Estadual General Porfírio da Paz, que tem a primeira-dama na galeria de
alunos ilustres.
"Bandido criminoso, minha vida é limpa e basta.
Montagem é montagem. Não tenho medo de você. Não se a mando de quem que
você...", escreveu Marcela.
Fonte: http://globo.com/
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