Embaixador português na Rússia explica como Portugal pode ligar Brasil e OTAN
18:00 14.02.2017(atualizado 18:26 14.02.2017)
© AFP 2016/ FRANCISCO LEONG
Hoje (14), na sede da agência russa Rossiya Segodnya, foi
aberto o 6º Modelo Internacional da ONU do qual participou, dando uma palestra
sobre o balanço da diplomacia portuguesa, o embaixador de Portugal na Rússia,
Mário Godinho de Matos. A Sputnik Brasil conversou com o diplomata sobre os
temas mais recentes ligados ao mundo lusófono.
Sputnik: Há dois dias, houve uma reunião entre os ministros
da Defesa português e brasileiro, durante a qual o titular da pasta brasileiro
disse que Portugal era, vamos dizer, uma plataforma para se aproximar à OTAN.
Então, como o senhor avalia as perspectivas da cooperação na área de
defesa e segurança?
Mário Godinho de Matos: Exatamente, nós notamos essas
afirmações que foram feitas há poucos dias. Como sabe, entre Portugal e o
Brasil há um largo espectro de relações a todos os níveis: econômicos,
culturais, políticas também… A área de defesa é uma área em que também se pode
fazer progressos e avanços.
Portugal, como sabe, é um país-fundador da NATO [OTAN], ou
seja, somos membros desta organização desde o início da sua constituição. E
dados os laços tão fortes que temos com o Brasil, obviamente que estaremos
sempre num algo de ligação entre aquilo que o Brasil quer fazer em termos da
defesa e aquilo que nós, inseridos na Europa, numa estrutura da defesa europeia
e transatlântica, também podemos propor.
S: Há pouco, o primeiro-ministro português António Costa foi
à República Centro-Africana onde ficam 160 militares portugueses que tomam
parte de uma missão das Nações Unidas. Como o senhor embaixador poderia
comentar e explicar e importância desta missão para o seu país?
MGM: As missões das Forças Armadas portuguesas no
estrangeiro e nesse tipo de missões de paz como essa que referiu, na África, e
outras também — temos colaborado nos Bálcãs, no Médio Oriente — são
um vetor muito importante da nossa política externa, porque, justamente como
membros da NATO [OTAN] e da União Europeia, fizemos um esforço muito grande,
também do ponto de vista orçamental, para estar presente no maior número de
frentes possíveis de luta contra o terrorismo, contra, enfim, as situações
como essa que referiu [guerra civil na República Centro-Africana] em que se
deve garantir o respeito pelos direitos humanos e, portanto, essa é uma frente
que temos.
Temos dado muita atenção [a estes assuntos] e participamos
em várias áreas no mundo com esse tipo de participação das nossas Forças
Armadas.
S: António Guterres assumiu funções há pouco, e já houve uma
situação em que o secretário-geral [da ONU António Guterres] propôs a
candidatura de Salam Fayyad, palestino, para o posto do enviado especial na
Líbia.
Esta candidatura foi rejeitada, rechaçada primeiramente pelos EUA. Como
o senhor embaixador pode comentar a situação, quais são os obstáculos neste
caminho, digamos, e como pode avaliar o empenho que António Guterres já fez na
ONU?
MGM: Bem, como pode imaginar, para mim é muito difícil
estando aqui, em Moscovo [Moscou], comentar uma iniciativa do secretário-geral
das Nações Unidas.
Enfim, sendo [ele] cidadão português e hoje [em dia ele é
também] secretário-geral das Nações Unidas quem tenta interpretar, no âmbito
das Nações Unidas, quais são as forças que estão presentes.
Portanto, não conheço os detalhes dessa nomeação, nem como é
que ela se desenvolveu, apenas posso comentar que, como comentou aqui o
vice-ministro [das Relações Exteriores russo] Gatilov, as Nações Unidas
são uma realidade muito complexa, onde se cruzam muitos interesses nacionais de
diversos países e isso é visível em todos os níveis — no Conselho de Segurança,
na Assembleia Geral.
E é dentro dessa complexidade "onusiana", como
se costuma dizer, que todos esses processos se desenvolvem, mas eu sinceramente
não conheço os detalhes para comentar.
S: Também há poucos dias, os ministros da Defesa italiana,
português, espanhola e francês escreveram uma carta conjunta ao
secretário-geral da OTAN, dizendo que queriam um reforço, vamos dizer, do
flanco Sul da OTAN.
Então, será que isto pode ser ligado, por exemplo, às
preocupações dos países europeus com a nova administração norte-americana, com
Trump que várias vezes questionou a eficácia da OTAN? Qual pode ser o motivo de
tais ações?
MGM: Não, eu penso que essa é uma questão antiga. Eu próprio
trabalhei na delegação portuguesa na NATO [OTAN] durante vários anos. E já
nessa altura tínhamos uma relação com o flanco Sul da NATO [OTAN], ou seja, com
os países do Magreb [região africana que está limitado pelo Mar Mediterrâneo a
norte e fica em proximidade dos respectivos países europeus]. Chamava-se
então essa iniciativa [de] Diálogo Mediterrâneo.
Agora tem outros nomes, mas a ideia é a mesma: é reforçar o
flanco Sul da NATO [OTAN]. Então, há um flanco Leste, como sabe, e um flanco
Sul. Evidentemente que estes países que referiu, entre os quais o meu,
Portugal, Espanha, Itália, França e talvez Grécia também, temos uma preocupação
muito específica com o terrorismo e com instabilidade, melhor dizendo, que hoje
em dia existe em vários países na outra costa do Mediterrâneo. Está muito perto
de nós.
É um assunto que nos diz diretamente respeito. E essa manifestação dos
ministros da Defesa foi justamente para, junto do secretário-geral da NATO
[OTAN], frisar que esse era também um aspecto muito importante.
Fonte: https://br.sputniknews.com/
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