SEG, 27/02/2017 - 12:08
ATUALIZADO EM 27/02/2017 - 13:19
Apesar focos de protesto em todo o país, ampla cobertura da
Globo omitiu "Fora Temer" gritado por milhares de foliões
O Jornal Nacional deste sábado (25) fez uma ampla cobertura sobre o carnaval de
rua em todo o país e conseguiu esconder os inúmeros protestos contra o covil
golpista. Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Salvador foram
destaque em três blocos do telejornal de maior audiência da tevê brasileira.
Mas a TV Globo simplesmente omitiu o "Fora Temer" gritado por
centenas de milhares de foliões.
Por Altamiro Borges*
Na Praça Campo Grande, por exemplo, a banda System puxou um gigantesco coro
contra o usurpador diante do camarote do prefeito de Salvador, o demo ACM Neto.
Não saiu nada no JN. Já no tradicional Pelourinho, o cantor Caetano Veloso
apareceu de surpresa, cantou a música "Alegria, alegria" e foi
acompanhado de um alegre refrão contra o Judas. Também nada no JN.
A mesma cena se repetiu nas outras capitais.
A TV Globo simplesmente censurou
os protestos. A irreverência dos carnavalescos só não se perdeu graças à
internet, que viralizou dezenas de vídeos das manifestações, e à cobertura da
mídia alternativa.
O jornal Brasil de Fato tem postado várias matérias sobre as
manifestações de rebeldia. Segundo relata o jornalista Wallace Oliveira, o
"Fora Temer" está incendiando o carnaval em Belo Horizonte. "Me
beija que eu não sou golpista”. Com esse lema, o protesto contra o governo não
eleito de Michel Temer (PMDB) tomou as ruas da capital mineira, unindo a
alegria do carnaval à consciência política".
"A história começou há alguns meses. Em abril de 2016, no auge do processo
de impeachment contra a presidenta eleita Dilma Rousseff, um grupo de fiscais
da receita estadual se uniu para lutar contra o golpe e a fragilização da
democracia.
De lá para cá, ele produziu milhares de materiais de agitação, como
cartazes, faixas, camisas e adesivos, espalhando o 'Fora, Temer' por todo canto
da cidade. Para o carnaval, o grupo produziu mais de 260 mil adesivos e está
entregando kits 'Fora, Temer' para 30 blocos. Cada kit contém 1.000 adesivos
com a logo do bloco e mais mil adesivos genéricos, além de outros materiais. O
grupo financia seu trabalho vendendo camisetas, abadás e panos de chão".
Irreverência e protestos nas capitais
Já a jornalista Fania Rodrigues dá detalhes sobre vários blocos de rua do Rio
de Janeiro. "A política também caiu no samba e os blocos de esquerda estão
na boca do povo... Sem dúvida o mais esperado pelos foliões é o Bloco Fora
Temer.
No evento do Facebook mais de 20 mil pessoas demonstraram interesse e
confirmaram presença na atividade na Cinelândia. O Bloco Fora Temer marca a
abertura do Carnaval carioca, nessa sexta-feira (24), em grande estilo. Na
verdade, esse é um evento de união de vários blocos já consagrados, entre eles
estão os Boêmios da Lapa, Bloco dos Bancários, Meu Bem, Volto Já, entre outros.
Nas redes sociais, os organizadores assim definem o perfil desse bloco dos
blocos.
'Somos bem alegres e irreverentes, contra o golpe de 2016 e o atual
governo entreguista que quer retirar direitos do povo brasileiro com retrocesso
s trabalhistas e previdenciários'".
Também no jornal Brasil de Fato, a repórter Elen Carvalho descreve a folia em
Pernambuco - com a "embriaguez dos diversos frevos, o batuque dos
maracatus, as marchinhas e cores dos blocos líricos, a imensidão dos bonecos
gigantes, o calor de sol e de gente no Galo da Madrugada". Entre os
maiores blocos, ela cita o "Eu acho é pouco", fundado em 1976,
"que no espírito da defesa da democracia tem estampado na camisa deste ano
tem o 'Fora Temer'". Segundo o professor e designer gráfico Rafael Efrem, "o
bloco Eu Acho é Pouco sempre se declarou de esquerda.
Ele tem essa
característica de unir as pessoas de esquerda de Pernambuco desde seu
surgimento. Então, acho extremamente necessário, mesmo um bloco de carnaval,
que a priori estaria aí para a folia tão plena e loucamente, demonstrar
publicamente essa tomada de posição. O Fora Tem er precisa estar presente
também no Carnaval".
Há ainda o relato da repórter Nadine Nascimento sobre os mais de 70 blocos que
decidiram protestar na capital paulista. "Se os blocos de carnaval de rua
de São Paulo assumiram um papel importante nos últimos anos, ocupando o espaço
público e revertendo a visão que se tinha sobre a festa na cidade, neste ano
eles marcam posição também no âmbito político.
Blocos populares e tradicionais
como Vai Quem Qué, Bloco da Abolição, Jegue Elétrico e Ilú Obá de Min,
articulados através do Arrastão dos Blocos, protestam juntos contra possíveis
mudanças no carnaval de rua da cidade.
O Arrastão reúne mais de 70 blocos de
carnaval da capital paulista. A articulação se iniciou pela primeira vez em
abril de 2016 para defender a democracia e protestar contra o impeachment de
Dilma Rousseff (PT). Em 2017, vo ltam às ruas utilizando a música para defender
a própria festa".
Doria foi varrido do sambódromo
Como se observa, o protesto político - em especial, o "Fora Temer" -
já é uma marca do carnaval de rua de 2017. A TV Globo, porém, preferiu esconder
este fato dos seus alienados telespectadores. Até na reportagem do JN deste
sábado sobre a abertura do desfile das escolas de samba de São Paulo, a
emissora escondeu o protesto contra o prefeito "cinzento" João Doria.
Os âncoras do telejornal até parece que não leram uma notinha publicada no
próprio jornal O Globo, da mesma famiglia Marinho:
"Passava pouco das 23 horas quando o prefeito de São Paulo, João Doria,
chegou ao Anhembi para acompanhar os desfiles da primeira noite das escolas de
samba do Grupo Especial. A princípio, disse que sambar seria um “risco muito
alto” a tomar.
Mas, assediado continuamente, o prefeito se soltou, arriscou
soquinhos no ar ao lado de uma ala da agremiação Tom Maior e, depois da
passagem da escola, pegou uma vassoura e deu varridas na passarela do samba.
Ensaiou passos de samba, levantou a vassoura pro ar ao lado de garis até que o
coro da arquibancada tomou forma:
- Ei, Doria, vai tomar no c…
O tucano foi rapidamente retirado de cena pelos assessores e seguranças.
Nem este singelo protesto foi citado pelo âncora Heraldo Pereira. Haja
manipulação!
*Altamiro Borges é jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia
Alternativa Barão de Itararé
Fonte: http://jornalggn.com.br/
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