Ex-presidente da OAS delata ministro do STF Dias Toffoli
VEJA.com Sidclei
Sobral1 dia atrás 22/08/2016
Era um encontro de trabalho como muitos que acontecem em
Brasília. O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, e o empreiteiro
José Aldemário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro, então presidente da
construtora OAS, já se conheciam, mas não eram amigos nem tinham intimidade. No
meio da conversa, o ministro falou sobre um tema que lhe causava dor de cabeça.
Sua casa, localizada num bairro nobre de Brasília, apresentava infiltrações e
problemas na estrutura de alvenaria. De temperamento afável e voluntarioso, o
empreiteiro não hesitou. Dias depois, mandou uma equipe de engenheiros da OAS
até a residência de Toffoli para fazer uma vistoria. Os técnicos constataram as
avarias, relataram a Léo Pinheiro que havia falhas na impermeabilização da
cobertura e sugeriram a solução. É um serviço complicado e, em geral, de custo
salgado. O empreiteiro indicou uma empresa especializada para executar o
trabalho. Terminada a obra, os engenheiros da OAS fizeram uma nova vistoria
para se certificarem de que tudo estava de acordo. Estava. O ministro não teria
mais problemas com as infiltrações — mas só com as infiltrações.
A história descrita está relatada em um dos capítulos da
proposta de delação do empreiteiro Léo Pinheiro, apresentada recentemente à
Procuradoria-Geral da República e à qual VEJA teve acesso. Condenado a
dezesseis anos e quatro meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e
organização criminosa no escândalo do petrolão, Léo Pinheiro decidiu confessar
seus crimes para não passar o resto dos seus dias na cadeia. Para ganhar uma
redução de pena, o executivo está disposto a sacrificar a fidelidade de longa
data a alguns figurões da República com os quais conviveu de perto na última
década. As histórias que se dispõe a contar, segundo os investigadores, só são
comparáveis às do empreiteiro Marcelo Odebrecht em poder destrutivo. No anexo a
que VEJA teve acesso, pela primeira vez uma delação no âmbito da Lava-Jato
chega a um ministro do Supremo Tribunal Federal.
image/jpeg DIAS-TOFFOLI-2016
No documento, VEJA constatou que Léo Pinheiro, como é
próprio nas propostas de delação, não fornece detalhes sobre o encontro entre
ele e Dias Toffoli. Onde? Quando? Como? Por quê? Essas são perguntas a que o
candidato a delator responde apenas numa segunda etapa, caso a colaboração seja
aceita. Nessa primeira fase, ele apresenta apenas um cardápio de eventos que
podem ajudar os investigadores a solucionar crimes, rastrear dinheiro,
localizar contas secretas ou identificar personagens novos. É nesse contexto
que se insere o capítulo que trata da obra na casa do ministro do STF.
Tal como está, a narrativa de Léo Pinheiro deixa uma dúvida
central: existe algum problema em um ministro do STF pedir um favor
despretensioso a um empreiteiro da OAS? Há um impedimento moral, pois esse tipo
de pedido abre brecha para situações altamente indesejadas, mas qual é o crime?
Léo Pinheiro conta que a empresa de impermeabilização que indicou para o
serviço é de Brasília e diz mais: que a correção da tal impermeabilização foi
integralmente custeada pelo ministro Toffoli. Então, onde está o crime? A
questão é que ninguém se propõe a fazer uma delação para contar frivolidades.
Portanto, se Léo Pinheiro, depois de meses e meses de negociação, propôs um
anexo em que menciona uma obra na casa do ministro Toffoli, isso é um sinal de
que algo subterrâneo está para vir à luz no momento em que a delação for
homologada e os detalhes começarem a aparecer.
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