quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Santos ordena cessar-fogo definitivo com as Farc para a próxima semana

25/08/2016 15h02 - Atualizado em 25/08/2016 21h24
Santos ordena cessar-fogo definitivo com as Farc para a próxima semana
Acordo definitivo de paz foi assinado nesta quarta.Início de cessar-fogo foi ordenado para a próxima segunda-feira.
Do G1, em São Paulo
 O presidente colombiano Juan Manuel Santos e a primeira-dama Maria Clemencia de Santos chegam ao Congresso nesta quinta-feira (25) para entregar o acordo de paz assinado pelo governo e as Farc (Foto: REUTERS/John Vizcaino)
O presidente colombiano Juan Manuel Santos e a primeira-dama 
Maria Clemencia de Santos chegam ao Congresso nesta quinta-feira
 (25) para entregar o acordo de paz assinado pelo governo e as Farc
 (Foto: REUTERS/John Vizcaino)

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, ordenou nesta quinta-feira (25) que o cessar-fogo definitivo das forças militares da Colômbia com os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) comece no próximo dia 29. O anúncio é feito um dia depois de o governo e a guerrilha assinaram, em Havana, o histórico acordo de paz definitivo no país. O cessar-fogo foi um dos pontos acordados, mas ainda não tinha data definida para começar.
"Como chefe de Estado e como comandante em chefe das nossas forças militares ordenei o cessar-fogo definitivo com as Farc a partir das 0h da próxima segunda-feira, 29 de agosto. Assim chega ao fim o conflito armado com as Farc", anunciou o presidente.
O anúncio foi feito em uma praça no centro de Bogotá, logo após o presidente entregar o texto do acordo definitivo ao Congresso colombiano, para que inicie os trâmites de convocação do plebiscito que visa a referendar o que foi negociado. O documento considera a desmobilização dos guerrilheiros, o abandono das armas e a transformação das Farc em um movimento político, entre outros pontos.

Durantes as negociações de paz, que começaram em 2012, as Farc realizaram várias tréguas unilaterais como demonstração de seu compromisso com os diálogos: nas festas de Natal e nas eleições-gerais de 2014, entre 20 de dezembro de 2014 e 23 de maio de 2015; e entre 20 de julho de 2015 até agora.

O governo respondeu a este gesto da guerrilha marxista com a suspensão dos bombardeios aéreos a acampamentos rebeldes, mas mantendo sua função constitucional de combater grupos armados ilegais como as Farc.

Acordo histórico
Depois de quase quatro anos de diálogos em Cuba, as Farc e o governo da Colômbiaanunciaram nesta quarta que chegaram a um acordo de paz definitivo para o conflito armado de mais de 50 anos no país.

O acordo com as Farc, grupo armado desde 1964 e maior guerrilha da Colômbia, permitirá superar em grande parte um confronto que já deixou 260 mil mortos, quase 7 milhões de deslocados e 45 mil desaparecidos.
O acordo é histórico porque desde 1983 o país fracassou em três tentativas de negociar a paz, como informa o jornal "El Tiempo". Essas tentativas ocorreram durante os governos de Belisario Betancur, César Gaviria e de Andrés Pastrana.
Plebiscito
O acordo deve ser aprovado pela população colombiana, que votará em plebiscito no dia 2 de outubro, segundo anunciou o presidente Juan Manuel Santos em pronunciamento na televisão. “Hoje começa o fim do sofrimento, da dor e da tragédia da guerra. A esperança nacional virou realidade. Alcançamos um acordo final para pôr fim ao conflito”, disse o presidente durante seu discurso.

Se o acordo passar na prova das urnas (para o qual requer ao menos 4,4 milhões de votos afirmativos), será possível dizer que o último conflito armado na América está em vias de ser extinto.
 O comandante das Farc Iván Marquéz (esquerda) e o chefe da delegação de paz colombiana Humberto de la Calle (direita) apertam as mãos nesta quarta-feira (24) em Havana, Cuba, após assinarem o acordo definitivo de paz na Colômbia (Foto: YAMIL LAGE / AFP)
O comandante das Farc Iván Marquéz (esquerda) e o chefe 
da delegação de paz colombiana Humberto de la Calle (direita) 
apertam as mãos nesta quarta-feira (24) em Havana, Cuba, 
após assinarem o acordo definitivo de paz na Colômbia (Foto:
 YAMIL LAGE / AFP)

Pontos acordados em Havana
Na última semana, as equipes negociadoras das Farc e do governo trabalharam de forma ininterrupta para terminar o acordo.

Os assuntos que ainda estavam sendo discutidos eram o alcance da anistia para as Farc (que exclui os responsáveis por crimes como sequestro, deslocamento e violência sexual) e a participação política dos rebeldes.
O pacto da Havana prevê acordos e compromissos em seis pontos: reforma rural, participação política dos ex-combatentes da guerrilha, cessar-fogo bilateral e definitivo, solução ao problema das drogas ilícitas, ressarcimento das vítimas e Mecanismos de implementação e verificação.

O compromisso alcançado em Cuba estabelece que quem confessar seus crimes diante de um tribunal especial poderá evitar a prisão e receber penas alternativas. Se não for feito dessa forma e forem declarados culpados, serão condenados a penas de 8 a 20 anos de prisão.
Além disso, espera-se que as Farc iniciem seu desarme uma vez que sejam referendados os acordos em um prazo de seis meses contados a partir de sua concentração em 23 áreas e oito acampamentos na Colômbia.
Observadores desarmados da ONU, delegados das Farc e o governo verificarão o processo de abandono das armas, com as quais serão levantados três monumentos.

Paz é mais barata
Os negociadores de paz do governo da Colômbia reagiram nesta quinta aos críticos do acordo dizendo que o custo de acolher os combatentes rebeldes na sociedade é muito menor do que os gastos do conflito.

Os opositores do acordo, liderados pelo ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, afirmam que o pacto anistia os rebeldes de crimes demais e é injusto com os cidadãos cumpridores da lei porque pede subsídios para os combatentes que deixam seus esconderijos nas florestas e montanhas enquanto procuram trabalho.
A equipe que passou quase quatro anos negociando com as Farc em Havana realizou uma coletiva de imprensa para defender o pacto, dizendo que o governo e a sociedade precisam ajudar a integrar os combatentes, alguns dos quais passaram décadas em campos.
"Isto é pela Colômbia, para que o que aconteceu na América Central não aconteça aqui – nós os abandonarmos depois de eles deporem as armas e eles terminarem em grupos criminosos ou pegarem em armas novamente", disse o senador Roy Barreras, um dos negociadores.

Temer liga
O presidente em exercício Michel Temer ligou esta noite, por volta das 20h30, para Juan Manuel Santos para cumprimentá-lo pelo acordo de paz. Temer lembrou que na posse de Santos, na qual ele estava presente, o presidente colombiano já reforçava a importância de colocar fim ao conflito. Santos agradeceu a ligação, ressaltou a importância do acordo e disse que deseja se encontrar com Temer em breve. Ambos conversaram também sobre a importância de estreitar ainda mais as relações bilaterais entre Brasil e Colômbia.

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