Temer é vaiado ao abrir os Jogos Rio-2016
VEJA.com Carolina
Farina6 horas atrás 05/08/2016
Fornecido por Abril Comunicações S.A. Cerimônia de
abertura
Rio-2016: Michel Temer e Thomas Bach
Imerso em profunda crise política e econômica, o Brasil
celebrou a tolerância e a diversidade na abertura dos Jogos Rio-2016 – uma
festa que refletiu de fato o “espírito da gambiarra”, definido pelos
organizadores como “o talento para fazer algo grande a partir de quase nada”.
Mas a tensão no país se fez sentir no Maracanã. Para evitar vaias, o nome do
presidente interino Michel Temer não foi anunciado ao lado do presidente do
Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, no início da cerimônia. O peemedebista,
contudo, não escapou dos protestos: ao declarar aberta a Olimpíada, Temer foi
alvo de sonoras vaias – e de alguns aplausos. Ao fazer seu discurso, já no
final da cerimônia, Bach apenas agradeceu às autoridades brasileiras, sem citar
Temer nominalmente.
Antes do início da festa, um grupo chegou a ensaiar um ”fora
Temer” das arquibancadas – e outra parcela do estádio vaiou a manifestação. Ao
fim do Hino Nacional, houve quem gritasse o nome do juiz Sergio Moro, que
comanda as ações decorrentes da Operação Lava Jato em Curitiba. Na última
sexta-feira, Temer afirmou que estava “preparadíssimo” para ouvir eventuais
vaias no Maracanã. Na cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 2014, a
presidente afastada Dilma Rousseff foi alvo de vaias e xingamentos no estádio
Itaquerão.
Estiveram presentes à cerimônia 38 chefes de Estado e
governo – número muito inferior aos 70 que assistiram a festa londrina em 2012
e aos 80 que estiveram em Pequim em 2008. O presidente americano Barack Obama
prestigiou a abertura em Londres ao lado da mulher, Michelle. Desta vez, os
Estados Unidos enviaram o secretário de Estado John Kerry.
No começo da tarde, em Copacabana, na Zona Sul da cidade, um
protesto contra Temer alterou o trajeto do revezamento da tocha olímpica, que
deixou de passar por um trecho da orla e seguiu por ruas internas do bairro.
Diversos movimentos de esquerda e centrais sindicais protestaram com faixas e
cartazes em português e em inglês, em frente ao Hotel Copacabana Palace. Houve
um momento de tensão, quando a manifestação foi impedida de avançar, até que a
tocha deixasse Copacabana.
Em São Paulo, houve protesto contra os Jogos na Avenida
Paulista. A Polícia Militar paulista reprimiu com cassetetes e spray de pimenta
cerca de 200 manifestantes que iniciaram uma caminhada a partir do vão do Masp.
Em meio à tensão no país, a festa no Maracanã deu espaço a
causas socioambientais. As favelas foram representadas com um show de ritmos
como o samba e o funk, que reuniu as cantoras Elza Soare e Ludmilla. O rapper
Marcelo D2 e o cantor Zeca Pagodinho simularam um duelo de ritmos,
representando a diversidade da música do Rio de Janeiro. A importância dos
negros para a cultura nacional foi celebrada com as rappers Karol Conka e
McSofia. Manifestações culturais como o maracatu, os bate-bolas e o
bumba-meu-boi também dividiram o espaço no palco do Maracanã e o treme-treme,
do Pará, foi representado pela Gang do Eletro. Houve também espaço para um
alerta sobre o aquecimento global.
Os protestos não ofuscaram a festa no Maracanã. Nas redes
sociais, a beleza da cerimônia provocou manifestações de orgulho cada vez mais
raras em um país desiludido. A Copa do Mundo de 2014 teve como grande legado a
alegria que tomou conta do país ao longo da competição – e que sobreviveu até
mesmo ao 7 a 1 da semifinal contra a Alemanha. Há dois anos o mundo conheceu o
soft power brasileiro: o termo é usado na diplomacia para definir a competência
de um país para conseguir o que deseja por meio de sua cultura e de sua imagem,
de sorrisos e paciência, em oposição a balas e canhões.
Ao discursar, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro
(COB), Carlos Arthur Nuzman, apelou a esse poder: “Nunca desistimos, essa é a
força do nosso povo. Os filhos do Brasil não fogem à luta”. Foi ovacionado.
Pouco depois, foi vaiado ao falar da cooperação entre os três níveis de
governo. É o espírito olímpico em tempos de crise política.
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