ESPORTES - OLIMPÍADAS
Quarta-feira, 10 de Agosto de 2016
Alejandra Benitez: esgrimista denuncia golpe, despreza Temer
e conquista o ouro
Da Redação
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A combatividade ela carrega na alma. A destreza, no sabre.
Daí a desafiar o status quo de uma instituição conservadora como o Comitê
Olímpico Internacional (COI) passa a ser apenas um novo desafio. O mesmo
representou chegar ao país sede dos jogos e criticar a ausência da presidenta
que queria ver substituída forçadamente por um presidente usurpador. Alejandra
Benitez conquistou ouro e corações. Ela é a personagem que a jornalista
Penélope Toledo apresenta no site
Vermelho e que reproduzimos aqui.
Que os deuses do Olimpo nos protejam dos golpistas
Por Penélope Toledo
A esgrimista venezuelana Alejandra Benitez se recusou a
saudar Michel Temer. Disse que esperava encontrar a Dilma como presidenta do Brasil e
lamentou que em seu lugar haja um golpista. Denunciou o golpe como sendo um
"ato machista, patriarcal, contra a mulher". E ganhou medalha de
ouro.
Por Penélope Toledo*
Ao que parece, os deuses do Olimpo concordam com a esgrimista, que também é
ex-ministra do Esporte da Venezuela e deputada pelo Partido
Socialista. Coroaram a sua coragem e ousadia com o lugar mais alto do pódio,
como um gesto de aprovação de que os Jogos Olímpicos se tornem palco de
denúncia do golpe.
Nas arquibancadas das arenas esportivas, torcedores também aproveitam que os
olhares do mundoestão voltados para o Brasil neste momento e escancaram a
nossa realidade: tivemos uma presidenta afastada à revelia das leis e da
Constituição Federal, e seu lugar foi tomado por golpistas.
O ápice foi a cerimônia de abertura da Olimpíada. Consciente das vaias que o
aguardavam, Temer foi covarde e preferiu que seu nome não fosse anunciado, como
manda a tradição olímpica. Mas não adiantou, os gritos de "Fora
Temer" tomaram conta do Maracanã e nem mesmo aumento proposital do volume
do som da solenidade foi capaz de abafar o coro.
Não tardou para que as faixas e cartazes de protestos, escritos em diversos
idiomas, fossem censurados. A medida ignora o Artigo 5º da Constituição, que
diz que "é livre a manifestação do pensamento" e que "é livre a
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença".
Jogos Olímpicos e protestos
Usar as Olimpíadas como palco de denúncias e protestos não é novo. O caso mais
famoso foi no México, em 1968, quando atletas negros, no pódio, ergueram
desafiadoramente um braço com luva preta, repetindo a saudação dos Panteras
Negras, grupo que combatia o racismo nos Estados Unidos. O gesto foi durante a
execução do hino estadunidense.
Com desfecho mais trágico, o grupo palestino Setembro Negro usou os Jogos
Olímpicos de Munique (Alemanha), em 1972, para reivindicar a libertação de 234
palestinos detidos em Israel e de dois terroristas alemães. O grupo manteve 11
esportistas israelense como reféns durante a madrugada, culminando na morte de
dois deles.
Na Olimpíada de Seul, em 1988, o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Coreia
do Sul excluíram da organização do evento a Coreia do Norte, que havia se
reaproximado da União Soviética. Milhares de estudantes sul-coreanos favoráveis
à reunificação, saíram às ruas e foram reprimidos por forças policiais. A
Coreia do Norte boicotou os Jogos, seguida por Cuba, Etiópia e Nicarágua.
Situação parecida com a do Brasil, que reuniu 30 mil pessoas em Copacabana na
última sexta (5) para denunciar o golpe, aconteceu na Austrália, em 2000.
Também no dia da abertura, grupos aborígenes aproveitaram para acusar a
discriminação sofrida durante "os 212 anos de guerra genocida do australiano
branco contra o povo indígena", como disseram. Outros movimentos aderiram
à manifestação.
O "jeitinho" brasileiro
As forças repressoras dos golpistas bem que tentam, mas não conseguem censurar
o povo brasileiro. Nos quesitos rebeldia e irreverência, a nossa gente é
medalha de ouro! E os protestos, mesmo com todas as proibições e controles,
continuam.
No Mineirão, pessoas vestiram camisetas com letras que, somadas, formavam a
frase "Fora Temer". No Estádio Mané Garrincha, em Brasília, uma moça
pintou no próprio braço, com batom, a mesma frase. Frase esta que também
estampou, em vermelho, o crachá de um voluntário que decidiu abandonar os Jogos
Olímpicos em retaliação às censuras. As imagens viralizaram nas redes sociais.
Estes são só alguns dos muitos exemplos que evidenciam que os deuses do Olimpo
estão contra o golpe e iluminam a criatividade dxs torcedorxs, dentro e fora
das arenas esportivas. Que eles continuem nos protegendo nos tempos sombrios
que se anunciam!
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