Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como
Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de
treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O
Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de
sonhos" e "Dragonfly" (lançamento setembro 2016)
Fora
Temer, todos foram aplaudidos
6 de Agosto de 2016
É um engano continuar repetindo a boutade de Nelson
Rodrigues segundo quem “o Maracanã vaia até minuto de silêncio”.
Pode ter sido assim no tempo dele, mas não é
mais.
O Maracanã aplaudiu cada segundo do
esplendoroso show de abertura, de pé, cantou junto, sambou junto. O Maracanã se
extasiou com cada frase, com cada nota, com cada efeito visual, com cada
surpresa dos nossos melhores artistas.
O Maracanã saboreou e aplaudiu cada palavra,
seja em português, inglês ou francês, carregada de vida, de energia, de
otimismo de Carlos Arthur Nuzman. Por mais que suas mãos tremessem a sua alma
vibrava e todos puderam ver que ali estava um homem de bem. Em nenhum momento o
Maracanã pediu que ele parasse de falar, apesar de ter sido um texto longo, mas
valia a pena ouvir.
O Maracanã aplaudiu com alegria o discurso do
presidente do COI, pleno de entusiasmo, de confiança, de amizade, de espírito
olímpico. Ele não foi interrompido em momento algum.
Mas quando falou Temer, que diferença!
Toda a energia que fluía das palavras que o
antecederam parece ter sido absorvida por um buraco negro, instaurou-se um
clima sombrio, adverso, inamistoso, perverso. Nenhuma luz era suficiente para
clarear a escuridão que se formou em torno dele.
Foi Temer se levantar para despertar os piores
sentimentos da plateia do Maracanã. Aquela figura de vilão de filme policial
não tinha nada a ver com o Brasil que desfilou no espetáculo. Ele não fazia
parte daquilo nem como cidadão, e muito menos como presidente da República,
ainda que provisório.
Não podia ser aquele o presidente do país
alegre, sensual, cheio de vitalidade, criatividade, amor, hospitalidade, samba
no pé que os artistas brasileiros tinham acabado de mostrar.
Ele não combinava com aquele país nem aquele
país combinava com ele.
Ele pronunciou seu texto de dez segundos de
forma ríspida, sinistra, antipática, sem carisma, canhestra, canastrona.
Queria ser rápido para escapar das vaias, mas
não adiantou.
Foi vaiado gostosamente, antes, durante e
depois de falar e só não foi vaiado mais porque o Maracanã preferiu voltar suas
atenções para a festa que continuava relegando aquele presidente postiço,
maligno, oco à solidão.
Não à solidão do poder, mas à solidão do vilão,
aquele contra quem todo mundo torce, aquele que todos querem que se
ferre, aquele que morre antes do final do filme.
Ele não foi citado por Nuzman nem por Bach. Não
foi abraçado por seus convidados. Era um estranho no ninho. Aquela festa não
era dele. Nunca foi. A Olimpíada foi conquistada por Lula, foi produzida por
Dilma.
Além de ser o usurpador da presidência, tentou
usurpar a Olimpíada.
Mas a única medalha que merece é a medalha de
ouro da traição.
Fora Temer, todos foram aplaudidos.
E se todos foram aplaudidos, menos ele, o que o
Maracanã quis dizer foi: fora Temer!
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