Odebrecht e Pinheiro entregam Aécio, Alckmin, Aloysio e
Serra
Itamar Calado 21:47:00 22/08/2016
Pinheiro e Marcelo Odebrecht, às autoridades, disseram que
apontavam os atos ilícitos de Aécio Neves “com prazer”, por
considerá-lo
oportunista
Por Redação – de Belo Horizonte, Brasília, Curitiba e São
Paulo
As delações premiadas na Operação Lava Jato acabam de causar
o comprometimento dos três principais líderes do PSDB. O senador Aécio Neves
(PSDB/MG), o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o chanceler
do governo golpista, José Serra, foram citados em delações premiadas e, agora,
homologadas no Supremo Tribunal Federal (STF). Tanto o presidente da
empreiteira OAS, Léo Pinheiro, quanto Marcelo Odebrecht, principal executivo da
empresa que leva seu nome, confessaram em juízo que os três líderes tucanos
receberam propina de esquemas fraudulentos montados na Petrobras e em outras
empresas públicas.
Pinheiro, às autoridades, disse que apontava os atos
ilícitos de Aécio Neves “com prazer”, por considerá-lo oportunista ao se
beneficiar do ambiente de instabilidade política instaurado, com apoio da mídia
conservadora, e golpista, após as eleições de 2014. Em seu depoimento, Léo
Pinheiro revela pagamentos de propinas, ao então governador, no total de 3%
sobre os valores superfaturados nas obras da Cidade Administrativa de Minas
Gerais. Quem recebeu, segundo o empreiteiro, foi o tesoureiro informal da
campanha de Aécio Neves, o empresário Oswaldo Borges da Costa.
O segundo a cair na malha fina da Lava Jato foi o senador
José Serra.
O candidato derrotado por Dilma Rousseff, em 2010, já deixou
pegadas no lodo do escândalo conhecido como ‘Privataria Tucana’ e, dessa vez,
foi apontado como beneficiário do dinheiro ilícito apurado nas obras viárias do
Rodoanel, pagas por Marcelo Odebrecht. Em sua defesa, disse apenas que nunca
autorizou ninguém a falar em seu nome, sem admitir, ou negar, os fatos.
Alckmin, por último, mas não menos importante, vê-se
enredado na Operação Alba Branca, na qual o aliado e seu
ex-secretário-chefe da Casa Civil Luiz Roberto dos Santos – ou Moita, como
é conhecidio – posa ao lado de Edson Aparecido, acusado de comandar a máfia da
merenda. Aparecido foi fotografado ao lado de Alckmin, em seu gabinete no
Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
Moita, segundo os investigadores, comandava também — a
partir de seu gabinete — contatos diretos com suspeitos de fraudar licitações e
superfaturar produtos agrícolas destinados à merenda escolar. Um dia antes de
deflagrada a operação policial, Luiz Roberto foi exonerado do cargo de confiança
por Geraldo Alckmin e voltou para sua função de origem, na Companhia Paulista
de Trens Metropolitanos (CPTM). Na CPTM, o Moita é apontado como um
dos suspeitos na formação do cartel que superfaturou as obras do Metrô
paulista, em um escândalo de proporções internacionais, com a participação de
gigantes do setor, como a empreiteira francesa Alston e a alemã Siemens.
Depois de comprometidas as possíveis candidaturas dos chefes
tucanos, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) — líder do governo golpista,
no Senado, suspeito de trair o líder guerrilheiro Carlos Marighella, na década
de 70, e levá-lo para a morte em armadilha montada na capital paulista — foi
tragado nas investigações da Lava Jato. Nunes fora também citado na delação
premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia e da Constran.
Pessoa confessou pagamentos ao caixa 2 de Aloysio, na campanha dele em 2010.
O senador repele a denúncia, ao afirmar que “não há nem
haverá provas” de que ele usou dinheiro sujo na campanha, mas a partir desta
segunda-feira, passa a enfrentar uma nova denúncia, dessa vez, com origem em
seu passado nebuloso. Diretor financeiro da UTC, Walmir Pinheiro teve aprovada,
no STF, a denúncia contra Aloysio, de que entregara a um amigo do senador da
década de 1970, quando integravam o grupo guerrilheiro Aliança Libertadora
Nacional (ALN), liderado por Marighella.
O delator confirmou à PF uma doação de R$ 200 mil em
dinheiro vivo, para a campanha de Aloysio, entregue na sede da empresa em São
Paulo ao advogado Marco Moro, que mantém relação de amizade com Nunes desde a
década de 70, quando ambos, perseguidos da ditadura, exilaram-se na Europa.
Moro nega a denúncia.
Além dos R$ 200 mil alegadamente destinados ao caixa dois da campanha tucana,
Pinheiro relatou aos investigadores que a UTC doou R$ 300 mil, por vias
oficiais, em duas parcelas, uma de R$ 100 mil e outra de R$ 200 mil,
registradas na prestação de contas de Nunes, o que confirma a delação de Pessoa
sobre o dinheiro vivo pago a contratados na boca de urna, uma prática
considerada também ilegal pelas autoridades eleitorais do país.
Mais podres de Alckmin a Serra
O calvário dos tucanos até o cadafalso eleitoral, porém, está longe de
terminar. Nesta manhã, o advogado responsável pelas negociações da delação
premiada de Marcos Valério com o Ministério Público de Minas Gerais confirmou
que pretende revelar “entre 15 e 20” autoridades, que incluiriam atuais
integrantes do governo do presidente de facto, Michel Temer, até políticos do
PT, do PSDB, do PMDB e de outras siglas, em troca da redução nas penas
previstas em Lei.
Os acusados, dessa vez, estão envolvidos no escândalo conhecido como ‘mensalão
mineiro’, na origem da ação penal 470. Entre os principais envolvidos está o
ex-governador mineiro Eduardo Azeredo (PSDB), do mensalão do PT e da Lava Jato.
— Tem gente sobre quem ele pode falar e ainda não apareceu. Tem deputados
estaduais, federais, senadores e ex-senadores. Alguns não teriam sido reeleitos
se ele já tivesse feito a delação. Tem também gente do atual governo de Michel
Temer — encerra Jean Robert Kobayashi, em recente entrevista a jornalistas.
Valério foi condenado em 2012 a 37 anos de prisão pelo esquema do chamado
mensalão do PT.
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