22/08/2016 14h31 - Atualizado em 22/08/2016 20h24
MP denuncia quatro advogados e diretor da Oi por fraude
milionária
Segundo operação da PF, Maurício Dal Agnol recebeu R$ 50
milhões. Diretor da empresa procurou advogado para acordo que lesaria clientes.
Advogado Maurício Dal Agnol foi preso em Passo
Fundo em setembro de 2014 (Foto: MP/Divulgação)
O Ministério Público do Rio Grande do Sul denunciou à
Justiça os advogados Maurício Dal Agnol, Pablo Pacheco dos Santos, Marco
Antonio Bezerra Campos e Gabriel de Freitas Melro Magadan, e o diretor jurídico
da empresa de telefonia Oi Eurico de Jesus Teles Neto por um esquema de fraude
a clientes da empresa. A denúncia foi recebida na 3ª Vara Criminal de Passo
Fundo, na Região Norte do estado.
(Correção: ao ser publicada, esta reportagem errou ao
informar que Eurico de Jesus Teles Neto era ex-diretor jurídico da Oi. O erro
foi corrigido às 15h11 do dia 22 de agosto.)
Trata-se de um esquema de estelionato que, segundo a Polícia
Federal, lesou mais de 30 mil pessoas no estado. O golpe começou em 2009, mas o
caso só foi descoberto durante a Operação Carmelina, deflagrada em fevereiro de
2014.
Conforme descrito na denúncia, Eurico Teles firmou acordos
com advogados que atuavam em processos contra a empresa de telefonia Oi. O
grupo captava clientes e entrava com ações para reivindicar valores referentes
à propriedade de linhas telefônicas fixas. As ações eram julgadas procedentes,
mas o valor recebido não era repassado aos clientes ou era pago em quantia
muito menor da que havia sido estipulada.
A operação foi batizada de Carmelina porque este era o nome
de uma mulher que teve cerca de R$ 100 mil desviados no golpe. Segundo a PF,
ela morreu de câncer, e poderia ter custeado um tratamento se tivesse recebido
o valor da maneira adequada.
O esquema
De acordo com o MP, Eurico Teles procurou o escritório de advogacia de Dal
Agnol e propôs um acordo. Ofereceu o valor de R$ 50 milhões para que ele
renunciasse a 50% dos créditos de clientes em 5.557 processos em favor da Oi.Com
o esquema, o advogado enriqueceu rapidamente.
Em 21
de fevereiro de 2014, a Polícia Federal deflagrou a operação, cumprindo
mandados de busca e apreensão. Na ocasião, os agentes apreenderam, entre
outros objetos e valores, uma via do contrato assinado por Eurico Teles e Dal
Agnol, além de Pablo Pacheco dos Santos, funcionário do escritório de
advocacia, e Marco Antonio Bezerra Campos, advogado da empresa de telefonia. O
documento é datado de 21 de outubro de 2009, com cláusula de confidencialidade.
De acordo com o MP, os advogados Pablo Pacheco dos Santos e
Gabriel de Freitas Melro Magadan, cientes do ajuste após a celebração do
contrato, firmaram acordos que prejudicaram os clientes do escritório.
Segundo o MP, em nenhum dos acordos os envolvidos
mencionaram a existência do contrato firmado com a Oi. Os cinco foram
denunciados pelos crimes de quadrilha, lavagem de dinheiro e de patrocínio
infiel.
No contrato, os denunciados declararam que o pagamento de R$
50 milhões se destinava a saldo de honorários, quando, na verdade, o dinheiro
era proveniente de pagamento indevido para a realização de acordos judiciais
prejudiciais aos clientes.
Valor oferecido a Dal Agnol hoje corresponde a R$ 75 milhões
Por fim, segundo o MP, Dal Agnol emitiu notas fiscais de empresas das quais
consta como sócio-proprietário para comprovar o recebimento dos R$ 50 milhões,
mas registrou que a quantia se prestava ao pagamento de serviços de análise de
cadastros, motivo pelo qual o advogado foi denunciado também pelo crime de
falsidade ideológica.
Os R$ 50 milhões recebidos por Dal Agnol correspondem, hoje,
segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a R$
75.146.588,91. O Ministério Público pediu ainda o sequestro do montante, com o
objetivo de resguardar rendas e patrimônio suficientes para o futuro
ressarcimento de vítimas. O pedido, no entanto, ainda não foi analisado pela
Justiça.
Posicionamentos
Maurício Dal Agnol estava em uma audiência no começo da tarde em Novo Hamburgo,
e retorna a Passo Fundo na quarta-feira (24). O portal ainda tenta falar com o
advogado.
O advogado de Marco Antonio Bezerra Campos disse que seu
cliente "tem total tranquilidade com sua conduta como advogado".
Segundo Norberto Flach, "ele atuou representando a Oi e celebrou contratos
idênticos, que vários escritórios celebraram. Acordos celebrados ocorreram com
muitos outros escritórios", disse.
"A mesma atuação do Marco Antonio outros advogados
realizaram. Isso chama a atenção. Parece que a Polícia Federal e o Ministério
Público escolheram esse caso, quando houve centenas de casos semelhantes. Causa
estranheza", completou ele, que acrescentou que a OAB já apurou o contrato
e que na época "não identificou ilicitude".
Já Gabriel de Freitas Melro Magadan afirmou que "discorda da denúncia e
dos argumentos apresentados, que foram colocados de maneira equivocada".
Já o advogado de Pablo Pacheco dos Santos, Daniel Achutti, disse que não vai se
manifestar por não ter ciência da acusação.
O advogado Márcio Albuquerque, representante de Maurício
Dal'Agnol, nega que ele tenha recebido propina, e diz que os R$ 50 milhões se
referem ao pagamento de honorários que o advogado tinha direito a receber, sem
prejudicar os clientes. Segundo Albuquerque, seu cliente abriu mão de parte dos
honorários, recebendo um valor inferior ao que teria direito.
"Ele abriu mão de todas as execuções. Eram honorários
que ele tinha direito caso as execuções tivessem chegado até o final",
afirma o defensor.
O motivo de Dal'Agnol ter recebido o ressarcimento, segundo
explica Albuquerque, é um acordo que foi firmado entre o acusado e a Oi.
Segundo ele, o objetivo era garantir que os clientes dele recebessem algum
valor, já que em 2009 o Superior Tribunal de Justiça (STJ) publicou a súmula
371, que diz o seguinte: "o pagamento resultante da diferença de ações
devida em razão do contrato de participação financeira celebrado entre as
partes seja baseado no valor patrimonial da ação (VPA) apurado pelo balancete
do mês da respectiva integralização".
Segundo o representante de Dal'Agnol, com esta súmula, os
autores da ação ficariam sem receber nada. Assim, o advogado firmou um acordo
para garantir que os clientes recebessem algum valor. "Aquelas pessoas que
estavam discutindo há muitos anos na Justiça, no final das contas, não teriam
nada para receber, como aconteceu em muitos casos sobre clientes que não
aceitaram o acordo", explica.
O G1 entrou em contato com a empresa Oi, e recebeu
retorno por e-mail. Confira a íntegra da nota:
“Em virtude da notícia publicada sobre denúncia do
Ministério Público Estadual de Passo Fundo contra representante legal da Oi, a
companhia esclarece que:
Com o objetivo de proteger a companhia e defender-se judicialmente de centenas
de milhares de ações judiciais (cerca de 120 mil no total apenas do estado do
Rio Grande do Sul) herdadas de processos relativos ao período de antiga estatal
de telecomunicações, a Oi decidiu buscar acordos no maior número possível para
minimizar prejuízos seguindo todos os ritos legais e previstos na lei.
Segundo noticiado, os valores recebidos pelo representante
dos autores das ações não foram repassados a seus respectivos clientes, do que
decorre, obviamente, a responsabilidade exclusiva, cível e criminal, desses
advogados, e não da Oi ou de seus representantes legais. A companhia prestou
todas as informações solicitadas, como testemunha, e esclareceu que firmou
contrato com o advogado Dal Agnol, representado e assistido nas negociações
pelo eminente advogado Dr. Luis Carlos Madeira, para o pagamento de verba de
sucumbência já devida, por força de decisões judiciais condenatórias nos
tribunais do RS. A Oi esclarece que indenizar o advogado dos autores por
parcela da verba de sucumbência que ele faria jus, mas perderia diante dos
termos do acordo, não representa e nem poderia representar pagamento ilícito,
lavagem de dinheiro ou patrocínio infiel.
A OAB/RS, instada a se manifestar sobre o contrato a pedido do delegado da
Polícia Federal de Passo Fundo, determinou o arquivamento de processo
disciplinar. Além disso, o Grupo de Ação e Combate ao Crime Organizado (GAECO)
do MP de Porto Alegre também requereu arquivamento de procedimento criminal. O
requerimento foi acolhido pela Justiça em março de 2016, isentando os
colaboradores da empresa de responsabilidade criminal sobre o assunto.
A Oi adotará, com empenho e obstinação, todas as medidas necessárias a sua
defesa e de seu representante legal. A Oi e seu corpo jurídico ressaltam a sua
confiança na coerência e na tecnicidade dos órgãos investigativos, acreditando
que o tema será devidamente esclarecido e seu representante legal será
inocentado”.
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