By: Francisco Castro on 06:02 09/12/2016
Temer, “Brasileiro do Ano” para a Istoé, e Caco
Alzugaray,
A edição de 2016 do prêmio Brasileiro do Ano coincide com a
comemoração dos 40 anos da Istoé.
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Para celebrar a efeméride, a Editora Três, proprietária da
publicação, cunhou um novo slogan: “Conectada com o espírito do seu tempo”.
É mais apropriado substituir por “conectada com o governo de
plantão”. Isso explica a concessão do principal troféu da noite de terça feira,
6 de dezembro, a Michel Temer.
Temer recebeu a honraria no mesmo local, o Credicard Hall,
em São Paulo, onde sua antecessora foi consagrada Brasileira do Ano de 2011.
Antes dela, o presidente Lula foi homenageado em 2009.
A lista ainda contém os nomes de Palocci (2003), José Dirceu
(2004), Ricardo Teixeira (2007), Sérgio Cabral (2008, na categoria gestão
pública) e Aécio Neves (2010).
Cerca de 500 pessoas espalhavam-se pelas mesas distribuídas
ao longo do salão.
Poucos empresários de peso, como Luiz Fernando Furlan,
um dos acionistas da BRF e presidente do Lide, a companhia de lobbies de
João Doria, Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, Mario Garnero, do
Brasilinvest, Marco Stefanini, da Stefanini IT, Abilio Diniz, da BRF, e Flávio
Rocha (estes dois últimos premiados) foram vistos no evento.
Em sua maioria, o público era composto de assessores do
governo federal, publicitários, relações públicas e assessores de imprensa,
além de executivos de segundo e terceiro escalões.
A estrela da noite foi Sérgio Moro. O juiz, que compareceu
acompanhado de sua mulher, a advogada Rosângela Wolff, foi ovacionado
quando teve seu nome mencionado e foi disputado para selfies por seu fã clube.
Também mereceram aplausos a cantora Ludmilla, a atriz Grazi
Mazzafera e o canoísta baiano Isaquias Queiroz dos Santos, tríplice medalhista
na Olimpíada do Rio de Janeiro.
A comoção provocada pelo Catão de Curitiba não deixou,
certamente, de causar preocupação entre os políticos presentes.
A maior parte deles, à exceção do prefeito eleito de São
Paulo, João Doria, e do governador Geraldo Alckmin, foi recebida com frieza
pela plateia.
Ministros como Henrique Meirelles (Fazenda),Gilberto Kassab
(Ciência e Tecnologia), José Serra (Relações Exteriores) e Roberto Freire
(Cultura) foram praticamente ignorados, assim como o senador Aécio.
Temer recebeu tímidos aplausos de uma parte restrita da
plateia. E em seu breve discurso de agradecimento não foi além das platitudes
de sempre.
“Este prêmio é um incentivo para mim e para o nosso
governo num momento de grandes dificuldades para o País”, afirmou.
“Nós temos que aproveitar a crise, que, no geral, é
mobilizadora dos governos e das pessoas.
O Brasil tem potencialidades
extraordinárias e tem um povo extraordinário. Embora tenhamos apanhado um País
em crise, um País em recessão – vamos sair dela. Vamos alcançar o crescimento e
o pleno emprego. O prêmio serve de mobilizador e motivador para que
nós salvemos o País.”
Ao final de sua fala, fez uma revelação surpreendente: ““Na
viagem para São Paulo, em conversa com o senador Aécio, descobri que a Istoé
apura as notícias, não apenas publica os fatos.”
É quase no nível do agradecimento ao Roda Viva por “mais
essa propaganda”. Se Michel colocasse um ponto no ouvido para impedi-lo de
falar bobagem, era capaz do aparelho fundir.
Uma das notas da noite foi o clima de confraternização entre
o chefão da Lava Jato, escolhido o Brasileiro do Ano na categoria Justiça, e
Aécio, um dos nomes mais citados nas delações da operação, colocados
estrategicamente lado a lado pelos organizadores, na segunda fila de
convidados, no palco do Credicard Hall.
Coincidência? Como se sabe, cavalo não sobe escada.
Ao receber seu prêmio, Moro deixou o sorriso de lado e
mandou seu recado. “O cidadão pode confiar na Justiça brasileira, essa
confiança é essencial. Recebo este prêmio muito humildemente”.
Serra, que chegou a cochilar em alguns momentos, e Kassab
foram dos raros a não aplaudir o magistrado.
Como ocorre com os jantares que Temer organiza para
deputados e senadores em busca de emplacar a PEC do teto de gastos públicos —
um paradoxo que você precisa ser absolutamente estúpido,indulgente ou ingênuo
para não notar —, a Istoé promove uma boca livre enquanto deve para seus
funcionários.
A ideia é ver se essa sabujice vira publicidade federal e
outras mãozinhas para tentar uma sobrevida num quadro tenebroso.
De acordo com o Comunique-se, a Istoé, que está em processo de
recuperação judicial desde 2007 (nove anos!), pretende parcelar em cinco
prestações o pagamento do 13º de seus funcionários, repetindo o que já fizera
em 2015.
Um processo trabalhista movido por ex-funcionária pode
colocar à venda a mansão da família Alzugaray, avaliada em 2,8 milhões de
reais.
A casa é de Domingo Alzugaray, pai do atual presidente,
Caco, amigo
pessoal de Aécio Neves.
Nesta semana, revela o site, a juíza da 44ª Vara do
Trabalho, Thatyana Cristina de Rezende Esteves, rejeitou um requerimento dos
Alzugaray para que a casa não seja penhorada para pagar a dívida, estimada em
cerca de 1,4 milhão de reais.
Diz Thatyana, em sua decisão, que a família não juntou ao
processo “documentos que atestem o fim residencial do bem, tais quais
correspondências pessoais ou contas bancárias”. O imóvel de 2 mil metros
quadrados deve ir a leilão em breve.
A noitada virou motivo de piada nas redes. A foto de
Aécio e Moro tricotando animadamente transformou-se num clássico
instantâneo.
De uma maneira torta, porém, a Istoé conseguiu um feito: o
Brasil do golpe foi retratado ali da maneira mais acurada possível.
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