Michel Temer confessa que deu o golpe porque Dilma Rousseff
rejeitou a ‘ponte para o futuro’
The Intercept – O presidente Michel Temer deixou
escapar um “segredo” em discurso para empresários e investidores nos EUA:
o impeachment de Dilma Rousseff ocorreu para implementar um plano de governo
radicalmente diferente do que foi votado nas urnas em 2014, quando o PT ganhou
a presidência pela quarta vez, e não por irregularidades praticadas pela
ex-presidente.
Na sede da Sociedade Americana/Conselho das Américas
(AS/COA), em Nova York, nesta quarta-feira, dia 21, Temer disse que ele e seu
partido começaram a articular o afastamento de Rousseff em consequência direta
da não aceitação do programa neoliberal do PMDB pela ex-presidente.
Veja o vídeo aqui:
“E há muitíssimos meses atrás, eu ainda vice-presidente,
lançamos um documento chamado ‘Uma Ponte Para o Futuro’, porque nós
verificávamos que seria impossível o governo continuar naquele rumo.
E até
sugerimos ao governo que adotasse as teses que nós apontávamos naquele
documento chamado ‘Ponte para o futuro’.
E, como isso não deu certo, não houve
adoção, instaurou-se um processo que culminou agora com a minha efetivação como
presidência da república.”
O “Ponte para o futuro” prescreve a desvinculação dos
recursos da saúde e da educação, desindexação dos benefícios e do salário
mínimo, mudança de idade para a aposentadoria, parcerias com o setor privado e
abertura comercial.
Essas ideias estavam claramente refletidas na fala de Temer
na AS/COA, que visava dar seguimento à incansável empreitada de
privatizações e facilitação da entrada do capital estrangeiro no país,
listando as vantagens e garantias que seu governo planeja implementar para
assegurar o lucro dos membros da plateia, que o ouviam (não tão atentamente)
enquanto desfrutavam de suas refeições.
Marcadas pelos já conhecidos eufemismos neoliberais para o
que poderia simplesmente chamar de venda do patrimônio nacional, as garantias
listadas pelo presidente incluíram a “universalização do mercado brasileiro”, o
“restabelecimento da confiança”, uma tal “estabilidade política
extraordinária”, parcerias entre os setores público e privado e o avanço de
reformas “fundamentais” nas áreas trabalhista, previdenciária e de gastos do
governo.
“Venho aqui convidá-los a participar dessa nova fase de crescimento do
país,” concluiu em tom de leilão.
Os dois grupos são compostos por representantes de
corporações multinacionais e membros do estabelecimento de política exterior
dos EUA em América Latina.
Foram fundados pelo industrialista americano David
Rockefeller e têm John Negroponte como presidente emérito – um político
neoconservador fundamental para a guerra suja da CIA em Honduras e para a
invasão do Iraque em 2003.
Em seu site, o Conselho das Américas se define como
uma “organização internacional cujos membros compartilham um compromisso comum
com o desenvolvimento econômico e social, mercados abertos, estado democrático
de direito e democracia por todo o hemisfério ocidental”.
Essa é apenas mais uma singela confirmação de que o
impeachment de Dilma não se deu por conta das supostas “pedaladas fiscais”,
como quis fazer crer a facção que agora ocupa o executivo federal. Não foi pela
família brasileira, não foi por Deus, não foi contra a corrupção.
Foi contra o
trabalhador e em favor do empresariado. Foi por impunidade, lucro e poder.
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