EUA 23/FEB/2011 ÀS 18:22 Atualizado
em 23/12/2016
Telegramas revelam intenções de veto e ações dos EUA contra
o desenvolvimento tecnológico brasileiro com interesses de diversos agentes que
ocupam ou ocuparam o poder em ambos os países
Os telegramas da diplomacia dos EUA revelados pelo Wikileaks
revelaram que a Casa Branca toma ações concretas para impedir, dificultar e
sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em duas áreas estratégicas:
energia nuclear e tecnologia espacial.
Em ambos os casos, observa-se o papel
anti-nacional da grande mídia brasileira, bem como escancara-se, também
sem surpresa, a função desempenhada pelo ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, colhido em uma exuberante sintonia com os interesses estratégicos do
Departamento de Estado dos EUA, ao tempo em que exibe problemática posição em
relação à independência tecnológica brasileira. Segue o artigo do jornalista
Beto Almeida.
O primeiro dos telegramas divulgados, datado de 2009, conta
que o governo dos EUA pressionou autoridades ucranianas para emperrar o
desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma
de lançamento dos foguetes Cyclone-4 – de fabricação ucraniana – no Centro de
Lançamentos de Alcântara , no Maranhão.
Veto imperial
O telegrama do diplomata americano no Brasil, Clifford
Sobel, enviado aos EUA em fevereiro daquele ano, relata que os representantes
ucranianos, através de sua embaixada no Brasil, fizeram gestões para que o
governo americano revisse a posição de boicote ao uso de Alcântara para o
lançamento de qualquer satélite fabricado nos EUA.
A resposta americana foi
clara. A missão em Brasília deveria comunicar ao embaixador ucraniano,
Volodymyr Lakomov, que os EUA “não quer” nenhuma transferência de tecnologia
espacial para o Brasil.
Leia mais
“Queremos lembrar às autoridades ucranianas que os EUA não
se opõem ao estabelecimento de uma plataforma de lançamentos em Alcântara,
contanto que tal atividade não resulte na transferência de tecnologias de
foguetes ao Brasil”, diz um trecho do telegrama.
Em outra parte do documento, o representante americano é
ainda mais explícito com Lokomov: “Embora os EUA estejam preparados para apoiar
o projeto conjunto ucraniano-brasileiro, uma vez que o TSA (acordo de
salvaguardas Brasil-EUA) entre em vigor, não apoiamos o programa nativo dos
veículos de lançamento espacial do Brasil”.
Guinada na política externa
O Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA (TSA) foi firmado em
2000 por Fernando Henrique Cardoso, mas foi rejeitado pelo Senado Brasileiro
após a chegada de Lula ao Planalto e a guinada registrada na política externa
brasileira, a mesma que muito contribuiu para enterrar a ALCA. Na sua rejeição
o parlamento brasileiro considerou que seus termos constituíam uma “afronta à
Soberania Nacional”.
Pelo documento, o Brasil cederia áreas de Alcântara para
uso exclusivo dos EUA sem permitir nenhum acesso de brasileiros. Além da
ocupação da área e da proibição de qualquer engenheiro ou técnico brasileiro
nas áreas de lançamento, o tratado previa inspeções americanas à base sem aviso
prévio.
Os telegramas diplomáticos divulgados pelo Wikileaks falam
do veto norte-americano ao desenvolvimento de tecnologia brasileira para
foguetes, bem como indicam a cândida esperança mantida ainda pela Casa Branca,
de que o TSA seja, finalmente, implementado como pretendia o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Mas, não apenas a Casa Branca e o antigo mandatário
esforçaram-se pela grave limitação do Programa Espacial Brasileiro, pois neste
esforço algumas ONGs, normalmente financiadas por programas internacionais
dirigidos por mentalidade colonizadora, atuaram para travar o indispensável salto
tecnológico brasileiro para entrar no seleto e fechadíssimo clube dos países
com capacidade para a exploração econômica do espaço sideral e para o
lançamento de satélites.
Junte-se a eles, a mídia nacional que não destacou a
gravíssima confissão de sabotagem norte-americana contra o Brasil,
provavelmente porque tal atitude contraria sua linha editorial historicamente
refratária aos esforços nacionais para a conquista de independência
tecnológica, em qualquer área que seja. Especialmente naquelas em que mais
desagradam as metrópoles.
Bomba! Bomba!
O outro telegrama da diplomacia norte-americana divulgado
pelo Wikileaks e que também revela intenções de veto e ações contra o
desenvolvimento tecnológico brasileiro veio a tona de forma torta pela Revista
Veja, e fala da preocupação gringa sobre o trabalho de um físico brasileiro, o
cearense Dalton Girão Barroso, do Instituto Militar de Engenharia, do
Exército. Giráo publicou um livro com simulações por ele mesmo desenvolvidas,
que teriam decifrado os mecanismos da mais potente bomba nuclear dos EUA, a
W87, cuja tecnologia é guardada a 7 chaves.
A primeira suspeita revelada nos telegramas diplomáticos era
de espionagem. E também, face à precisão dos cálculos de Girão, de que haveria
no Brasil um programa nuclear secreto, contrariando, segundo a ótica dos EUA,
endossada pela revista, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares,
firmado pelo Brasil em 1998, Tal como o Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA,
sobre o uso da Base de Alcântara, o TNP foi firmado por Fernando Henrique.
Baseado apenas em uma imperial desconfiança de que as fórmulas usadas pelo
cientista brasileiro poderiam ser utilizadas por terroristas , os EUA,
pressionaram a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que exigiu
explicações do governo Brasil , chegando mesmo a propor o recolhimento-censura
do livro “A física dos explosivos nucleares”.
Exigência considerada pelas
autoridades militares brasileiras como “intromissão indevida da AIEA em
atividades acadêmicas de uma instituição subordinada ao Exército Brasileiro”.
Como é conhecido, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim,
vocalizando posição do setor militar contrária a ingerências indevidas, opõe-se
a assinatura do protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação de Armas
Nucleares, que daria à AIEA, controlada pelas potências nucleares, o direito de
acesso irrestrito às instalações nucleares brasileiras.
Acesso que não permitem
às suas próprias instalações, mesmo sendo claro o descumprimento, há anos, de
uma meta central do TNP, que não determina apenas a não proliferação, mas
também o desarmamento nuclear dos países que estão armados, o que não está
ocorrendo.
Desarmamento unilateral
A revista publica providencial declaração do físico José
Goldemberg, obviamente, em sustentação à sua linha editorial de desarmamento
unilateral e de renúncia ao desenvolvimento tecnológico nuclear soberano, tal
como vem sendo alcançado por outros países, entre eles Israel, jamais alvo de
sanções por parte da AIEA ou da ONU, como se faz contra o Irã.
Segundo Goldemberg,
que já foi secretário de ciência e tecnologia, é quase impossível que o Brasil
não tenha em andamento algum projeto que poderia ser facilmente direcionado
para a produção de uma bomba atômica. Tudo o que os EUA querem ouvir para
reforçar a linha de vetos e constrangimentos tecnológicos ao Brasil, como
mostram os telegramas divulgados pelo Wikileaks.
Por outro lado, tudo o que os
EUA querem esconder do mundo é a proposta que Mahmud Ajmadinejad , presidente
do Irà, apresentou à Assembléia Geral da ONU, para que fosse levada a debate e
implementação:
“Energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém”. Até
agora, rigorosamente sonegada à opinião pública mundial.
Intervencionismo crescente
O semanário também publica franca e reveladora declaração do
ex-presidente Cardoso : “Não havendo inimigos externos nuclearizados, nem o
Brasil pretendendo assumir uma política regional belicosa, para que a bomba?”
Com o tesouro energético que possui no fundo do mar, ou na biodiversidade, com
os minerais estratégicos abundantes que possui no subsolo e diante do
crescimento dos orçamentos bélicos das grandes potências, seguido do
intervencionismo imperial em várias partes do mundo, desconhecendo leis ou
fronteiras, a declaração do ex-presidente é, digamos, de um candura formidável.
São conhecidas as sintonias entre a política externa da
década anterior e a linha editorial da grande mídia em sustentação às
diretrizes emanadas pela Casa Branca.
Por isso esses pólos midiáticos do
unilateralismo em processo de desencanto e crise se encontram tão embaraçados
diante da nova política externa brasileira que adquire, a cada dia, forte dose
de justeza e razoabilidade quanto mais telegramas da diplomacia imperial como
os acima mencionados são divulgados pelo Wikileaks.
Plano Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário