Janot pede novo inquérito contra Aécio por ‘propina de R$ 60
milhões’
Além de acusar formalmente senador por obstrução da Justiça
e corrupção passiva, procurador-geral da República quer outra investigação
contra tucano, inclusive por suposta lavagem de dinheiro
Breno Pires e Isadora Peron, de Brasília
02 Junho 2017 | 19h45
Aécio Neves. Foto: Wilton Júnior/Estadão
Além de oferecer denúncia contra o senador afastado Aécio
Neves (PSDB-MG), o procurador-geral da República (PGR), Rodrigo Janot, pediu a
abertura de um novo inquérito para apurar supostos crimes de corrupção passiva
e lavagem de dinheiro, em separado.
Em relação a corrupção passiva, a PGR aponta necessidade de
investigar três pontos principais:
“o pagamento de propina da ordem de mais de R$
60 milhões feito em 2014 ao parlamentar por meio da emissão de notas
fiscais frias a diversas empresas indicadas por ele”, o pagamento a diversos
partidos para apoiarem a candidatura à Presidência da República em 2014, e “o
pagamento de dinheiro em espécie feito diretamente a Frederico Pacheco de
Medeiros, primo do Senador e por este indicado para receber os valores”.
“Os colaboradores narraram que, em contrapartida a todos
esses pagamentos, o Senador Aécio Neves utilizou de seu mandato para beneficiar
diretamente interesses do grupo, como, por exemplo, na liberação de créditos de
12,6 milhões de ICMS da JBS Couros e dos créditos de 11,5 milhões de ICMS da
empresa Da Grança, sediada em Uberaba e adquirida pela JBS na compra da Seara”,
disse Rodrigo Janot.
“O colaborador Ricardo Saud narra que, em contrapartida à
atuação em favor da J&F, Aécio Neves solicitou que a vantagem indevida
fosse distribuída nos seguintes moldes: a) pagamento de 11 milhões contra notas
fiscais emitidas pelas seguintes empresas:
R$ 2,5 milhões a Bel
Editora Editoração Publicidade e Consultoria; R$ 6 milhões a Data
World Pesquisa e Consultoria Ltda; R$ 2,5 milhões a PVR Propaganda e
Marketing Ltda feito diretamente, em notas emitidas contra a J&F; e b)
compra de partidos políticos para que integrassem a coligação da candidatura de
Aécio Neves à Presidência da República”, acrescentou o Procurador-Geral da
República.
Janot também diz que Aécio Neves, depois de passada a
campanha eleitoral de 2014, procurou Joesley Batista pedindo recursos
financeiros, e o delator teria concordado em comprar um imóvel superfaturado
por R$ 17 milhões por uma pessoa indicada por Aécio, a fim de que o
dinheiro chegasse ao senador afastado.
“Mister, assim, a continuidade das investigações, para
desvelamento completo de tais fatos”, disse Janot.
Lavagem.
O outro crime apontado pela PGR é a ocultação
e a dissimulação de valores, “o que se enquadra na provável prática do crime de
lavagem de dinheiro”.
Janot cita um diálogo interceptado entre Frederico
Pacheco, primo do senador, e Mendherson Souza Lima, assessor parlamentar do
senador Zezé Perrella (PMDB-MG),
“Interceptou-se colóquio no qual Frederico Pacheco pede para
Mendherson falar com “TOSTÃO”, empregado do escritório de Zezé Perrela, para
fazer um depósito, conforme solicitação de Denise, secretária daquele primeiro.
Em outra oportunidade, no diálogo interceptado de 04/05/2017, a pessoa
identificada como Michelline indaga a Mendherson a origem da quantia de R$
500 mil que foi depositada, no mês de abril, na conta da empresa Tapera, e
procedente da ENM Auditoria.
No áudio ora reproduzido, visualiza-se a preocupação de
Micheline, identificada como Gerente de Contas no Banco Bradesco, em fazer a
justificativa de lançamento no valor correspondente a R$ 500 mil na
conta da empresa Tapera, cuja origem adveio da empresa ENM Auditoria.
Segundo Janot, as investigações apontaram vínculo entre o
contador de Belo Horizonte Euler Nogueira Mendes, dono da empresa ENM Auditoria
e Assessoria, e os demais envolvidos no suposto recebimento da vantagem
indevida em favor de Aécio Neves.
“Sobre o envolvimento da empresa Tapera como possível
instrumento de lavagem de dinheiro dos recursos destinados ao Senador Aécio
Neves, no Relatório de Inteligência Financeira (RIF) n° 26521 do Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (COAF), consta informação de que, no dia
12.04.2017, ou seja, no mesmo dia da entrega da segunda parcela de R$ 500
mil em São Paulo, Mendherson provisionou junto ao Banco Bradesco um saque
de R$ 103 mil da conta da empresa Tapera para o dia seguinte.
O
referido saque fora feito no valor provisionado por Gustavo Perrella [filho de
Zezé Perralla] no dia 13.04.2017”.
Janot diz ainda que no relatório de inteligência financeira
citado há uma informação de que, no dia 22 de abril, “poucos dias após a
entrega da terceira parcela de R$ 500 mil referente à vantagem
indevida de R$ 2 milhões, Gustavo Perrella depositou R$ 220 mil em
espécie na conta da empresa Tapera”.
COM A PALAVRA, AÉCIO
Nota da defesa do senador Aécio Neves
A Defesa do Senador Aécio Neves recebe com surpresa a
notícia de que, na data de hoje, foi oferecida denúncia contra ele em relação
aos fatos envolvendo o Sr. Joesley Batista. Diversas diligências de
fundamental importância não foram realizadas, como a oitiva do Senador e a
perícia nas gravações.
Assim, a Defesa lamenta o açodamento no oferecimento da
denúncia e aguarda ter acesso ao seu teor para que possa demonstrar a correção
da conduta do Senador Aécio Neves.
Alberto Zacharias Toron
Fonte: http://www.estadao.com.br/
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