BOMBA: Jogo exclusivo de Janot. Interesses políticos e
pessoais falam mais alto; SAIBA!
16 de junho de 2017
As mais recentes ações do procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, muitas das quais controversas, revelaram que ele vinha
trafegando numa linha tênue e perigosa que separava a boa e necessária liturgia
jurídica de seus interesses pessoais e políticos.
O que ISTOÉ traz agora em
suas páginas indica que Janot pode ter ultrapassado e muito essa fronteira.
Trata-se de duas ligações telefônicas, ainda sob sigilo judicial, interceptadas
pela Polícia Federal, no âmbito da operação Lava Jato, obtidas com exclusividade
pela reportagem de ISTOÉ.
Na gravação, com pouco mais de 13 minutos de duração,
a procuradora da República Caroline Maciel, chefe da PGR no Rio Grande do
Norte, mantém uma conversa estarrecedora com o colega Ângelo Goulart.
No
diálogo, Caroline o alerta sobre os perigos de um eventual apoio dele a Raquel
Dodge, candidata à sucessão do procurador-geral da República e tida como
“inimiga” de Janot.
De acordo com Caroline, “a tática de Janot é apavorar quem
está do lado de Raquel”.
Sete dias depois da conversa, ocorrida em 11 de maio
deste ano, Ângelo teve sua prisão decretada pelo próprio Rodrigo Janot.
“A
conversa que rola é que você estaria ajudando Raquel. Estou te avisando porque
parece que a guerra está num nível que eu não consigo nem imaginar porque eu
não sou desse tipo de coisa.
Inclusive, pelo que eu senti, a tática de Janot é
apavorar quem estiver do lado de Raquel”, afirmou.
Outro trecho é ainda mais revelador sobre um possível – e
impróprio – modus operandi na PGR. Guarda relação com as investidas da
procuradoria-geral da República contra parlamentares.
Deixa claro que as ações
envolvendo políticos nem sempre estão assentadas, como deveriam, no estrito
exame da lei.
Sugerem que investigações podem estar contaminadas por ambições
tão individuais quanto inconfessáveis.
Em tom de desespero, devido ao clima
beligerante instalado na procuradoria, Caroline afirma que, por ter franqueado
apoio a Raquel Dodge, o presidente do DEM e senador José Agripino Maia (RN)
entrou na alça de mira da Procuradoria-Geral da República. Segundo Caroline,
outro procurador da Lava Jato compartilha da mesma apreensão.
“É o seguinte. O
Rodrigo (Rodrigo Telles de Souza, procurador da Lava Jato no STF) está muito
preocupado porque ouviu (…) ele disse que se fala lá nessa história de
(senador) José Agripino (DEM-RN) ter prometido apoio a Raquel. E querem de
alguma forma agora lascar José Agripino. (…) Aí Rodrigo é um que está
apavorado.
‘É, estou com medo de acontecer alguma coisa, agora Janot vai partir
pra cima e não sei o quê…’ Eu disse: Meu Deus do céu, ele tá apavorado, senti
que ele está apavorado. Porque Rodrigo (Teles), coitado, ele não é ligado a
ninguém”.
Os áudios são devastadores e tisnam a imagem do
procurador-geral da República num momento crucial para a Lava Jato e de suma
importância para o País, a três meses do encerramento do seu mandato.
Mostram
que Janot pode estar se movimentando ao sabor de suas conveniências
particulares e políticas, o que coloca em suspeição não só as ações pretéritas
do procurador-geral como as futuras.
Não foram leves as últimas munições
disparadas por Janot, como o controverso acordo com os donos da JBS, –
celebrado no afogadilho e marcado pela condescendência com os delatores
investigados – as prisões de Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e de Andrea Neves,
irmã do senador (PSDB-MG), e a própria denúncia contra o
ex-presidente do PSDB.
Como não é nada desprezível o arsenal que Janot vem
preparando para breve.
Nos próximos dias, ele deve denunciar o presidente da
República, Michel Temer, por corrupção passiva e organização criminosa.
A
questão que se impõe agora, diante das revelações trazidas por ISTOÉ, é: terá o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, legitimidade para levar adiante
ações de tamanha envergadura com potencial para influir não só na atual
disposição das peças do tabuleiro do poder político, como na sucessão
presidencial de 2018?
O alerta a Angelo Goulart
Em conversa mantida no dia 11 de maio deste ano com o procurador da República,
Ângelo Goulart, a colega Caroline Maciel mostra grande preocupação com o
eventual apoio dele a Raquel Dodge, arqui-inimiga e candidata à sucessão do
procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Segundo ela, Janot quer “destruir
todo mundo nos arredores” e que sua “tática é apavorar quem está do lado de
Raquel”. Sete dias depois da conversa, Ângelo teve sua prisão decretada.
Caroline Maciel – Eu soube da informação que (Rodrigo)Janot
está pensando em ficar, em tentar permanecer, e quer destruir todo mundo nos
arredores. A conversa que rola é que você estaria ajudando Raquel (Dodge,
candidata à PGR e opositora de Rodrigo Janot).
Goulart – Eu?
Caroline Maciel– Estou te avisando porque parece que a
guerra está num nível que eu não consigo nem imaginar porque eu não sou desse
tipo de coisa.
Goulart – Mas da onde apareceu isso, gente? Nem contato com
a Raquel eu tenho?
Caroline Maciel – Inclusive, pelo que eu senti, a tática de
Janot é apavorar quem estiver do lado de Raquel. Claro que tem gente que nem
liga. Mas tem gente que…
Caroline Maciel – Parece que o negócio tá…
Goulart – Incoerente. Ontem ele (Janot) pediu um favor para
ver um negócio no TSE para ele (Goulart atuava na vice-procuradoria-geral
eleitoral, com uma mesa de trabalho no TSE inclusive).
Assim como Agripino Maia, Temer também inclina-se por Raquel
Dodge para substituir Janot. Ela é a candidata preferida não só de Temer, como
de auxiliares do presidente – tudo o que o procurador- geral menos quer, como
demonstram claramente os áudios.
Se, como dizem as gravações, Agripino seria
perseguido pela PGR por articular apoio à arqui-inimiga de Janot na
procuradoria-geral, por que o mesmo não poderia estar acontecendo com outros
políticos, o presidente da República incluído? Janot, nesse contex- to, pode
ter declarado guerra aberta ao presidente Temer por sua inclinação a favor de
Raquel.
Em qualquer País sério do mundo, as deliberações de Janot seriam
seriamente questionadas, para dizer o mínimo, por conter vícios de origem.
Que o envolviam. A prisão foi decretada pelo ministro Edson
Fachin, relator da Lava Jato no STF, a pedido da Procuradoria-Geral da
República. Fachin, a propósito, ainda deve explicações a respeito de um suposto
jantar com a presença de Joesley e Ricardo Saud, executivo da JBS, durante sua
campanha à vaga de ministro. A informação sobre os vazamentos de Goulart foi
passada à PGR pelo próprio Joesley Batista em delação premiada.
Na famosa
conversa mantida entre Joesley e Temer, o empresário comunica ao presidente
sobre a ‘compra’ de um procurador da República para ajudar os acionistas da
holding com informações sobre as investigações em andamento.
Segundo o dono da
JBS, Goulart recebeu suborno para repassar informações sigilosas sobre a
Operação Greenfield, que investiga corrupção, lavagem de dinheiro e fraudes em
fundos de pensão de funcionários de estatais.
Ocorre que, inicialmente, Joesley
negou aos procuradores que o aliciamento ao procurador fosse para valer.
Classificou-o como “blefe” e “bravata”. Dias depois, quando as negociações com
a Procuradoria avançaram, ele resolveu mudar o depoimento e asseverou que, sim,
a compra do informante era real.
Diante das revelações trazidas à baila agora
por ISTOÉ é licito indagar: o que pode ter provocado a reviravolta? Mais: o
possível apoio de Goulart a Raquel Dodge pode ter sido determinante para a
mudança de versão e a conseqüente prisão do procurador, uma vez que Joesley e a
equipe de Janot estavam indiscutivelmente afinadas e interessadas em correr com
uma delação “boa para ambas as partes”?
Clima de guerra
A julgar pelas palavras da procuradora Caroline Maciel,
identificada na conversa como “Carol”, trata-se de um cenário plausível.
Durante toda conversa, ela demonstra sua angústia em relação à guerra interna
responsável por incendiar a PGR nos meses que antecedem a nova eleição ao cargo
de procurador-geral da República, que terá novo ocupante em setembro.
Desde
março, as movimentações para a disputa vêm se intensificando e o clima se
deteriorando na mesma proporção.
O diálogo indica que a atmosfera na
Procuradoria é de caça às bruxas, em que os procuradores têm medo de serem
associados a algum candidato específico e sofrer retaliações após o resultado –
um temor que deveria passar a léguas de distância de um órgão como o Ministério
Público Federal, criado exatamente para denunciar abusos e atos criminosos
contra a sociedade.
“Esse negócio é muito ruim, esse ambiente”, lamenta Ângelo
em dado momento do diálogo. A procuradora corrobora: “Muito ruim. Eu estou te
falando porque eu adoro você. E vi seu nome virando pelos meios lá. Ficou tipo
assim, como inimigo (de Janot). Eu não gosto dessas coisas não, Ângelo”.
Ela
volta ao tema ao dizer que “os ânimos estão muito piores do que se pensava. “Eu
tô apavorada, que eu não gosto disso, não.”
Em tom de desespero, a procuradora Caroline Maciel conta
como políticos entraram na alça de mira da PGR depois de apoiarem a adversária
de Janot: “Querem de alguma forma lascar Agripino”
Quando o diálogo aconteceu, ainda não havia se encerrado o
prazo de apresentação das candidaturas para a eleição pelo comando da PGR, o
que só se concretizou no dia 24 de maio – 13 dias depois.
Àquela altura, Janot
ainda cogitava concorrer a um terceiro mandato consecutivo. Por isso, num
trecho da conversa, Caroline fala numa “estratégia de guerra” para Janot se
manter no cargo.
“Tô te dizendo isso porque a coisa lá parece que vai ser
pesada, pelo menos a estratégia de guerra, e tá se falando lá pelo gabinete que
Janot vai tentar ficar só pra Raquel não ficar”, afirma ela, para logo em
seguida reforçar. “Se você quiser apoiar que você quiser, você pode apoiar.
Isso tem que ser uma coisa democrática. Meu Deus do céu. Mas parece que tá
assim: se você está com um você é inimigo do outro. Ai, meu Deus, isso não
existe para mim”.
Procurada por ISTOÉ na quinta-feira 15, a procuradora-chefe
da PGR no Rio Grande do Norte, Caroline Maciel, reiterou as afirmações
extraídas do áudio. “Não estava defendendo nem a candidatura de Raquel nem de
Janot”, quis deixar claro.
GOULART Depois de cooptado por Joesley, vazou para o delator
dados das investigações
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acabou recuando da ideia de um
novo mandato, principalmente depois do esgarçamento da relação com Temer, em
consequência da divulgação do acordo de delação premiada com os irmãos Wesley e
Joesley Batista, da J&F.
Mesmo assim, Janot permanece empenhado, mais do
que nunca, em evitar a ascensão de Raquel Dodge. Em 2015, ela obteve 402 votos
dos colegas e ficou em terceiro lugar na preferência para ocupar o posto.
A
escolha dela pelo presidente da República pode representar o ponto final da era
Janot na PGR. Concorrem contra ela, Nicolao Dino e Mário Bonsaglia (ver
quadro), hoje os preferidos do procurador-geral. Janot receia sobretudo que
Raquel, uma das responsáveis pela Operação Caixa de Pandora, contrarie
interesses de seu grupo na procuradoria.
Por “contrariar interesses” leia-se
abrir uma série de investigações internas e instaurar processos administrativos
capazes de colocar em xeque as ações de Janot – muitas das quais nadas republicanas,
como indicam as gravações reveladas agora por ISTOÉ – à frente do órgão.
A
procuradora da República Caroline Maciel diz a Angelo Goulart que, por ter
prometido apoio a Raquel Dodge, o senador José Agripino Maia (RN), presidente
do Dem, virou alvo da Procuradoria-geral da República. “querem de alguma forma
agora lascar José agripino”, revelou ela.
Goulart – Olha, na boa, Carol, eu estou c. (palavrão) e
andando para isso. Eu tenho consciência do que eu faço. Então, quer achar?
Acha. Não fiz nada demais, nada demais.
Caroline Maciel – É o seguinte. O Rodrigo (Rodrigo Telles de
Souza, outro procurador da Lava Jato no STF) está muito preocupado porque ouviu
(…) ele disse que se fala lá nessa história de (senador) José Agripino (DEM-
RN) ter prometido apoio a Raquel. E querem de alguma forma agora querem lascar
José Agripino (Agripino responde a inquérito no STF e teve seus sigilos
quebrados em apuração sobre suspeita de propina paga a ele pela OAS).
Goulart – Então, tô nem aí.
Caroline Maciel – Agora, Rodrigo (Teles), coitado, acho que
estão fazendo aquela tática tipo assim: “Raquel vai destruir todo mundo”, sabe?
Aí Rodrigo é um que está apavorado. “É, estou com medo de acontecer alguma
coisa, agora Janot vai partir pra cima e não sei o quê…” Eu disse: Meu Deus do
céu, ele tá apavorado, senti que ele está apavorado. Porque Rodrigo (Teles),
coitado, ele não é ligado a ninguém.
Goulart – Mas isso aí… o que ele vai poder prejudicar? Vai
prejudicar em que, cara?
Caroline Maciel – Não sei, sei lá. Enfim, fico apavorada com
esses negócios. Mas estamos lá: seu santo nome em vão no meio e o meu também.
Goulart – O seu também?
Caroline Maciel – O meu também porque eu estou sendo acusada
de ter intermediado o acordo de José Agripino com Raquel (Dodge) (risos)
Coitada de mim. A única vez que tive com José Agripino fiquei foi me tremendo
todinha com as coisas, porque eu não sou acostumada com esse negócio.
Caroline Maciel – Cacete… Então meu santo nome está lá,
dizendo que eu estou intermediando o encontro de José Agripino com Raquel. Só
que é óbvio que quem intermedeia esses encontros é Luciano Maia, que é primo
dele.
A “estratégia de guerra” de Janot para permanecer na PGR Neste trecho da conversa, a procuradora da República
Caroline maciel fala sobre o clima beligerante na PgR e o possível vale-tudo
para que Rodrigo Janot permaneça no cargo por mais um mandato. “a coisa lá
parece que vai ser pesada, pelo menos a estratégia de guerra … e tá se falando
lá pelo gabinete que o Janot vai tentar ficar só pra Raquel não ficar”
Goulart – Esse negócio é muito ruim, esse ambiente.
Caroline Maciel – Muito ruim. Eu estou te falando, porque eu
adoro você. E vi seu nome virando pelos meios lá. Ficou tipo assim como
inimigo.
Goulart – É um jogo, cara, tá um clima horrível isso aí.
Caroline Maciel – É nesse jogo acaba que gente que não tem
nada a ver pode se prejudicar, sabe?
Caroline Maciel – Eu tô te dizendo isso porque a coisa lá
parece que vai ser pesada, pelo menos a estratégia de guerra e tá se falando lá
pelo gabinete que o Janot vai tentar ficar só pra Raquel não ficar.
Raquel Dodge, a sucessora?
Na bolsa de apostas da sucessão de Rodrigo Janot na
Procuradoria-Geral da República (PGR), Raquel Ferreira Elias Dodge está bem
cotada.
Em 2015, ela obteve 402 votos dos colegas e ficou em terceiro lugar na
listra tríplice dos preferidos para ocupar o cargo de procurador-geral.
Como
Janot ficou em primeiro, ele foi o escolhido para continuar no cargo e teve seu
nome aprovado no Senado.
A eventual eleição de Raquel Dogde agora, seria o
ponto final da era Rodrigo Janot na PGR, já que ela faz oposição aberta ao
atual chefe do MPF
Conteúdo da REVISTA ISTOÉ
Fonte: http://clickpolitica.com.br/
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