Planilha comprova repasse de propina para Temer seis dias
após reunião
22 de abril de 2017
André Barrocal na CartaCapital:
O presidente Michel Temer foi acusado por dois criminosos
delatores da Odebrecht de abençoar em seu escritório político em São Paulo, em
2010, uma negociata de 40 milhões de dólares do grupo com a Petrobras e o PMDB.
Entre as provas apresentadas pelos acusadores ao Ministério Público Federal
(MPF), uma planilha registra o pagamento de 65 milhões
de dólares em propina.
Os pagamentos começaram em 21 de julho de 2010, seis dias
depois da reunião no escritório de Temer. Um repasse de 256 mil dólares a
“Tremito”, codinome para identificar PMDB, segundo um dos delatores. O outro
codinome para PMDB era “Mestre”, diz o mesmo delator. “Tremito” e “Mestre”
receberam 32 milhões de dólares entre 2010 e 2012, provavelmente no exterior.
Os outros 8 milhões de dólares em propinas, a inteirar os 40
milhões da negociata, foram pagos aos codinomes “Ferrari”, “Drácula” e
“Camponez”. Trata-se de um trio de petistas, o senador cassado Delcidio Amaral
(MS), o atual líder do partido no Senado, Humberto Costa (PE), e o ex-tesoureiro
João Vaccari Neto.
Costa está sob investigação do MPF por causa dessa história.
Segundo os delatores, embora a tramoia tenha sido negociada
com o PMDB, dirigentes da Petrobras ligados ao PT teriam ficado sabendo e
exigido um quinhão para petistas.
O rateio final teria sido assim: o PMDB com
4% de um contrato de 825 milhões de dólares (os 32 milhões a “Tremito” e
“Mestre” se aproximam desse percentual, que daria 33 milhões) e o PT, com 1%
(os 8 milhões ao trio petista dá mais ou menos isso).
A soma dos pagamentos a Tremito, Mestre, Ferrari, Drácula e
Camponez registrados na planilha é de 40 milhões de dólares, valor da
negociata, segundo os delatores. Os demais cerca de 25 milhões da planilha
foram, ao que parece, para um funcionário da Petrobras, Aluisio Teles, codinome
“Acelerado” na planilha.
Foi Teles, segundo os delatores, quem deu o pontapé na
tramoia.
O contrato de 825 milhões de dólares a resultar nas propinas
foi firmado em outubro de 2010 pela Odebrecht com a Petrobras, com o objetivo
de proporcionar a manutenção de unidades da estatal em nove países. Um serviço
do tipo “Plano de Ação de Certificação em Segurança, Meio Ambiente e Saúde”,
conhecido no mundo dos negócios pela sigla PAC SMS.
A planilha das propinas entregue ao MPF está identificada
como “PAC SMS – Codinomes”, o que sugere certa credibilidade à história contada
pelos delatores Márcio Faria da Silva, ex-presidente da Odebrecht Engenharia
Industrial, e Rogério Araújo, diretor de Novos Negócios da mesma unidade.
Ambos foram presos em junho de 2015, juntamente com uma
penca de odebrechtianos, e mandados para casa em abril de 2016, com
tornozeleira eletrônica, para ali cumprir a pena de 19 anos por organização
criminosa, corrupção e lavagem recebida no mês anterior. É para abrandar essa
punição que eles fizeram um acordo de delação com o MPF.
O projeto que resultou no contrato foi concebido na
Diretoria Internacional da Petrobras, na época comandada por Jorge Zelada,
indicado para o cargo em 2008 pela bancada de deputados do PMDB, da qual Temer fazia
parte.
A fraude, segundo os delatores, consistiu em arranjar a licitação para a
Odebrecht ser a vencedora. Em troca, farta recompensa financeira. Teria sido
Aluisio Teles, número 2 na diretoria de Zelada, quem procurou Araújo, da
Odebrecht, com a oferta.
A recompensa teria sido fixada em 40 milhões de dólares por
João Augusto Henriques, homem que os deputados do PMDB de fato queriam na vaga
de Zelada e que andava nas sombras pela Diretoria Internacional. Para a
negociata ser selada, diz Araújo, Henriques marcou uma reunião dele, Araújo,
com o então deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E este marcou outra com Temer.
Araújo foi a Cunha no escritório político do peemedebista no
centro do Rio, às 16h de 8 de julho de 2010, conforme uma anotação entregue
pelo odebrechtiano ao MPF. O encontro com Temer ocorreu uma semana depois, às
11h30 de 15 de julho de 2010 na Avenida Batuíra, 470, endereço do escritório do
peemedebista na capital paulista. Emails trocados na véspera por Rogério Araújo
e Márcio Faria prova que houve a reunião e que a dupla foi para lá junta.
Ali, dizem os delatores, Cunha teria historicizado o projeto
de manutenção no exterior e comentado que haveria “uma contribuição muito
importante para o partido” por parte da Odebrecht. E Temer? “Assentiu”, diz
Araújo em sua delação premiada. “Era propina pura”, afirma Faria da Silva
em
sua delação.
O País preparava-se naquele momento para a eleição
presidencial e congressual de 2010. Temer concorreria a vice de Dilma Rousseff
pela primeira vez. Conforme a planilha dos delatores, os quatro primeiros
pagamentos a “Tremito”, codinome para PMDB, ocorreram justamente durante a
eleição: um em julho, dois em agosto, e um em setembro.
O enrosco de Temer na negociata foi objeto de um discurso
contundente na tribuna da Câmara na terça-feira 18, dia em que o presidente
recebeu aliados e ministros para um café da manhã no qual pediu pressa à
votação de reformas impopulares, como a trabalhista e a da Previdência.
“Presidente Michel Temer, o senhor entendeu que quem está sendo
chamado de ladrão é o senhor? O senhor não entendeu a delação? O senhor não
entendeu que os delatores da Odebrecht disseram que o senhor pediu propina de
40 milhões de dólares, 120 milhões de reais?”, disse o carioca Alessandro
Molon, do partido Rede.
“E, para mudar o assunto, para mudar a pauta, tenta-se
aprovar a retirada de direitos dos trabalhadores nesta Casa.”
Por ser presidente, Temer não pode ser processado por atos
praticados antes de assumir o cargo. Mas há quem queira que ele seja ao menos investigado,
uma forma de adiantar as coisas para o dia em que o peemedebista não estiver
mais no poder.
O PSOL entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) a
pedir que a Procuradoria Geral da República possa investigar Temer.
Desde que a delação veio a público, o presidente divulgou
uma nota, gravou um vídeo para circular na web e deu entrevistas a defender-se
das acusações dos criminosos.
Temer admite a reunião em seu escritório em São Paulo em
2010, difícil de negar diante dos emails trocados pelos odebrechtianos, mas diz
ser “mentira absoluta” seu envolvimento em negócios escusos.
“Nunca fiz isso na
vida”, “não vou manchar a minha biografia a essa altura da vida”, “com a vida
pública, com a vida universitária, com a vida profissional, com a vida social
que eu tive ao longo do tempo”.
Fonte: http://clickpolitica.com.br/
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