Edição do dia 25/11/2016
25/11/2016 21h30 - Atualizado em 25/11/2016 21h32
Demissão de Geddel repercute na imprensa internacional
BBC diz que Temer é acusado de pressionar ministro para que
participasse de práticas corruptas. Oposição tenta colocar presidente no centro
da crise.
Vídeo do youtube
Geddel foi o sexto ministro a cair em pouco mais de seis
meses de governo, e a saída dele não acaba com o problema criado pelas
acusações do ex-ministro da Cultura. Marcelo Calero disse que o presidente Michel Temer e o
ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, sabiam de tudo e que também o
pressionaram para encontrar uma solução para o caso.
A rede britânica BBC diz que o presidente Temer é acusado de
pressionar um ministro para que participasse de práticas corruptas. O francês
Le Monde destaca que o escândalo pode enfraquecer o governo e levar a um
inquérito contra Temer.
O espanhol El País diz que um caso de tráfico de
influência respinga no presidente. Os principais jornais americanos também
trataram do assunto.
O New York Times diz que Temer está no meio de um novo
escândalo de corrupção. O argentino El Clarín diz que Temer é acusado de
tráfico de influência.
No depoimento à Polícia Federal, o ex-ministro da Cultura
Marcelo Calero afirmou que no dia 16 de novembro compareceu a um jantar
oferecido pelo presidente aos senadores no Palácio da Alvorada, e que após ser
informado de toda a história, o presidente disse a Calero "para que
ficasse tranquilo, pois, caso Geddel lhe procurasse, ele diria que não havia
sido possível atender a seu interesse, por razões técnicas".
Mas Calero disse que que no dia seguinte foi convocado por
Temer a comparecer ao Planalto, que o presidente disse a ele que a decisão do
Iphan havia criado dificuldades operacionais em seu gabinete, já que o ministro
Geddel encontrava-se bastante irritado.
Segundo Calero, Temer pediu que ele
construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à AGU.
Calero afirmou que, no fim da conversa, "o presidente
disse que a política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão".
O
ex-ministro da Cultura disse que ficou bastante desapontado por ter sido
advertido sem que houvesse cometido qualquer tipo de irregularidade.
Na quinta-feira (24), o porta-voz da Presidência, Alexandre
Parola, disse que o objetivo do presidente nas conversas foi arbitrar conflitos
entre os ministros. Ele negou que o presidente tenha enquadrado ou pedido a
Calero solução que não fosse técnica.
O porta-voz afirmou que Temer se disse
surpreso com boatos de que o ex-ministro Calero teria solicitado uma segunda
audiência antes de se demitir somente com o intuito de gravar clandestinamente
conversa com o presidente da República para posterior divulgação.
Marcelo Calero divulgou nesta sexta-feira (25) uma nota em
que declara o seguinte: "A respeito de informações disseminadas, a partir
do Palácio do Planalto, de que eu teria solicitado audiência com o presidente
Michel Temer no intuito de gravar conversa no gabinete presidencial, esclareço
que isso não ocorreu.
Durante minha trajetória na carreira diplomática e
política, nunca agi de má-fé ou de maneira ardilosa. No episódio que agora se
torna público, cumpri minha obrigação como cidadão brasileiro que não compactua
com o ilícito e que age respeitando e valorizando as instituições."
O texto dessa nota não permite concluir se Calero nega ter
sido ele quem solicitou a audiência com Temer ou se nega ter solicitado a
audiência com o intuito de gravar a conversa. Ou ainda se ele nega ter gravado
a conversa com o presidente.
No depoimento à Polícia Federal, Marcelo Calero afirmou
que também recebeu uma ligação do ministro da Casa Civil e que
Eliseu Padilha argumentou que, se a questão do prédio estava judicializada, não
deveria haver decisão administrativa definitiva a respeito.
E que Calero
tentasse construir essa saída com a Advocacia-Geral da União.
Marcelo Calero disse, ainda, que recebeu uma ligação do
secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, e que Gustavo
comunicou a ele que havia ingressado com recurso da decisão administrativa no
Ministério da Cultura e no Iphan, e que Calero deveria encaminhar os autos do
processo para a AGU.
A advogada-geral da União, Grace Mendonça, disse que não
chegou a receber o caso e, por isso, ainda não o analisou, mas que cabe à AGU,
sim, resolver conflitos.
“Não há menor possibilidade de sair do âmbito da Advocacia-Geral da União um
parecer desenhado ou moldado ao entendimento de quem quer que seja, ou de
qualquer outro interesse.
O único interesse que rege e norteia a atuação da AGU
é efetivamente o interesse público”, disse Grace Mendonça.
Nesta sexta, o presidente chegou ao Planalto às dez da manhã.
Três horas depois, almoçou no Palácio da Alvorada com líderes do PSDB, que
estavam em Brasília para um encontro com prefeitos do partido recém-eleitos. À
tarde, viajou para São Paulo.
Parlamentares de oposição iniciaram uma ofensiva para
colocar o Temer no centro da crise política, enquanto governistas tentam tirar
a pressão sobre Temer.
Afirmam que a saída de ministros faz parte da rotina de
qualquer governo e não pode afetar o enfrentamento da crise econômica.
O líder da Rede Sustentabilidade na Câmara, Alessandro
Molon, disse que o escândalo complica a relação do governo com o Congresso: “A
aprovação de medidas na Câmara certamente vai ser prejudicada com essa mudança
no governo.
Isso mostra a dificuldade do governo Temer de se organizar e, de
alguma maneira, de organizar a agenda do país.
Essa é a razão pela qual
acredito que a crise vai se aprofundando passo a passo no governo Michel
Temer.”
O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, do PSDB, disse que o governo deve seguir trabalhando
firme.
“O importante é não perder o rumo. Diante da circunstância
brasileira, depois do impeachment, o que nós temos que fazer é atravessar o
rio. Isso é uma ponte.
Pode ser uma ponte frágil, uma pinguela, tudo bem, mas é
o que tem. O Brasil precisa, com urgência, tomar medidas de reforma, pois a
situação fiscal nossa é muito ruim, a situação econômica precisa ser reanimada,
o povo está perdendo emprego”, afirmou Fernando Henrique.
A senadora Gleisi Hoffmann, do PT, disse que não há como
abafar a crise.
“Isso é uma situação muito grave. Conflitos entre
ministérios se dá quando você tem uma discussão de política pública, um
entendimento sobre o encaminhamento dessa política pública. Mas não pode se dar
em relação a interesses particulares.
O Palácio do Planalto, a Casa Civil não
pode cuidar de interesses imobiliários de ministros”, afirmou.
O líder do governo no Senado disse que as votações no
Congresso vão ser mantidas.
“Uma vez que aquilo que o governo propôs e que está
tramitando aqui no Senado é aquilo que corresponde às necessidades do país e
que tem apoio não apenas no Senado, mas da população brasileira. É importante
avançarmos no caminho de reformas, sob pena de não sairmos da crise em que estamos
metidos”, disse Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
Em nota, o presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB,
que é do mesmo partido do presidente, disse que "as alegações do
ex-ministro da Cultura não afetam Temer, que reúne todas as condições para levar
adiante o processo de transição".
Fonte: http://g1.globo.com/
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