12/11/2016
Trump cogita manter bandeira de Obama
Desde que foi eleito, o republicano deu sinais de que
poderia mudar seu tom agressivo
Donald Trump gesticula durante visita à Casa Branca:
controvérsia DIVULGAÇÃO
Em mais uma mudança de tom adotado em relação à campanha, o
presidente eleito Donald Trump disse ontem que vai considerar manter parte do
Obamacare, a reforma do sistema de saúde dos EUA implementada por Barack Obama.
Desde que anunciou que iria concorrer à Presidência, em 2015, Trump tinha como
uma de suas principais bandeiras a “revogação” do Obamacare. A proposta era
vista como um dos únicos consensos entre Trump e a parcela do Partido
Republicano que não o apoiou na corrida. Entre os pontos que podem ser mantidos
estão as cláusulas que permitem aos pais manterem filhos mais velhos sob seu
plano de saúde e que proíbem que seguradoras neguem cobertura ao
tratamento de doenças preexistentes.
A razão da mudança, disse Trump ao “Wall
Street Journal”, foi o encontro, na quinta-feira com Obama, que teria sugerido
áreas do programa a serem preservadas. “Disse a ele que analisaria suas
sugestões, e por respeito, farei isso”, afirmou. Desde que foi eleito, Trump
deu outros sinais de que poderia mudar seu tom agressivo.
Ao país dividido, ele
prometeu, em seu primeiro discurso, ser “o presidente de todos os americanos” e
pediu a “orientação e a ajuda” de quem não votou nele para “unificar nosso
grande país”.
Na entrevista, afirmou querer um “país onde todos se amem” e que
a melhor forma de aliviar as tensões é trazendo empregos para os EUA.
Questionado sobre a mensagem mais positiva depois de eleito, Trump respondeu:
“Agora é diferente”.
Ele, contudo, negou ter ido longe demais na agressiva
retórica. “Não, eu venci.”
Apesar da mudança de tom, o republicano ainda mostrou sua
face “mais Trump” na noite de quinta-feira, após dois dias de protestos contra
ele no país. “Acabei de passar por uma eleição presidencial muito aberta e de
sucesso.
Agora, manifestantes profissionais, incitados pela mídia, estão
protestando. Muito injusto!”, tuitou. Horas depois, voltou atrás e disse “amar”
o fato de que “os pequenos grupos de manifestantes têm paixão pelo nosso grande
país”.
Protestos
Os protestos são a face mais visível do problema que Trump
tem pela frente. Vitorioso no Colégio Eleitoral, mas derrotado no voto popular,
terá que governar também para os 60,5 milhões que não votaram nele – inclusive
os que saem à rua para dizer ele não é o seu presidente.
Especialistas se dividem sobre as chances – e sobre a real
intenção – de Trump conseguir diminuir a tensão. “Um dos principais desafios
para unir o país foi criado pelo próprio Trump: a retórica de divisão e
insultos”, diz Davíd Carrasco, historiador da Universidade Harvard.
Para Martin Cohen, cientista político da James Madison
University, Trump pode ajudar a arrefecer os ânimos escolhendo “indivíduos
respeitáveis” para seu governo.
“Acho que vamos saber mais sobre sua real
intenção quando ele começar a nomear a sua equipe”, afirma. “Mas com (Steve)
Bannon (presidente do site conservador Breitbart News) como chefe de gabinete,
não consigo imaginar muita união.”
O colunista do “New York Times” Nicholas
Kristof escreveu que era preciso “dar uma chance” ao republicano. Uma das
razões, segundo ele, é porque Trump pode fazer suas declarações radicais, mas
não é “ideológico”.
Para Kristof, isso fará com que ele desista de suas
propostas mais polêmicas, como a construção de um muro na fronteira com o
México, quando perceber o quão difícil é colocá-las em prática. Cohen concorda.
“Democratas devem estar abertos a um presidente que pareça governar de forma
diferente do que fez na campanha, mas estando prontos para lutar se ele se
mover em direção a propostas mais controversas.” (Folhapress)
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