Mais de 60 mil homens são diagnosticados com câncer de
próstata todo ano
Esse é o segundo câncer mais comum na população masculina,
só perdendo para o câncer de pele
Carmen Vasconcelos (carmen.vasconcelos@redebahia.com.br)
06/11/2016 09:53:00Atualizado em 06/11/2016 10:19:5
"Nunca quis fazer o exame de toque por preconceito.
Como tive avô e pai que morreram com câncer na próstata, fazia o PSA, mas não o
mais simples. Tenho mestrado e doutorado, mas o pensamento era tacanho”. As
palavras do professor aposentado Ronaldo Cavalcante servem de alerta para os
homens brasileiros, especialmente os maiores de 50 anos, que são os alvos da
campanha Novembro Azul. “Hoje, minha é luta é convencer meus filhos da
importância de uma prevenção bem feita”, completa.
A descoberta aconteceu em 2011, quando ele estava com 65
anos e precisava da liberação médica para começar a participar de um clube de
corrida. “Já havia feito o exame do PSA naquele ano, no entanto, os exames
mostraram que em pouquíssimos meses o quadro havia sido alterado drasticamente
e me assustei”, conta.
Hoje, depois da cirurgia, químio e radioterapia, Ronaldo
mantém a vigilância sobre a doença e trata de viver com a melhor qualidade de
vida possível.
“A doença me fez repensar a vida de modo muito
significativo e descobri que a gente vive se matando... de trabalhar, de correr
atrás de dinheiro, e esquece de viver... hoje, vivo para mim e para os que
amo”, completa.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), todos os
anos, 61 mil novos pacientes são diagnosticados com a doença, que é o segundo
câncer mais comum na população masculina, só perdendo para o câncer de pele.
Apesar dos índices, é importante ressaltar que, quando diagnosticado
precocemente, as chances de cura ultrapassam 90%.
O oncologista do Núcleo de Oncologia da Bahia André Bacelar
lembra que o cuidado e a campanha se justificam na medida que, com o aumento da
expectativa de vida e o envelhecimento da população, o câncer de próstata passa
a ter um impacto importante.
“É sabido que, aos 80 anos, 80% dos homens terão alteração
na próstata”, diz o médico, ressaltando que o papel dos profissionais de saúde
é detectar o problema nos indivíduos, identificando aqueles que precisarão de
tratamento e os que devem ser acompanhados. No caso específico de Salvador, o
oncologista lembra que a ascendência negra termina sendo um reforço para esse
cuidado, pois os negros estão mais propensos a desenvolverem a doença.
Herança
De acordo com o chefe do serviço da Cardio Pulmonar e professor da Universidade
Federal da Bahia, o urologista Lucas Batista, quando existem casos na família,
a vigilância precisa ser ainda mais rigorosa e a prevenção deve começar mais
cedo, aos 45 anos.
“Se o pai ou tio tiveram câncer de próstata, a chance de ter
a doença é três vezes maior do que aqueles que não possuem casos na
família. Quando é um irmão, as chances aumentam em até quatro vezes, daí a
importância das famílias prestarem atenção nesse traço”, reforça o
médico.
Lucas Batista lembra que, quanto mais rápido os casos
de câncer forem identificados e tratados, menores serão as sequelas do
tratamento ou o risco de desenvolvimento de disfunções sexuais, como os
problemas de ereção.
“Quando o câncer está localizado, está em fase inicial e
pode ser removido com técnicas minimamente invasivas, conseguimos preservar as
terminações nervosas responsáveis pela ereção”, garante o especialista,
lembrando que apenas 10% dos pacientes tratados terão incontinência urinária,
mas em 60% dos casos, haverá preservação da ereção e da função sexual.
“Além de contornar dois dos principais receios masculinos, o
diagnóstico precoce e as cirurgias – feitas por laparoscopia ou a
robótica – possibilitam que o paciente sinta menos dor e incômodos, use sonda
por um tempo menor e volte à vida normal em um tempo muito menor”,
completa Lucas Batista, destacando que, enquanto na cirurgia aberta a
recuperação pode durar até um ano, nas minimamente invasivas o paciente se
recupera em três meses.
“Embora a cirurgia robótica seja realizada apenas em
São Paulo, a laparoscopia é uma técnica bem comum na Bahia, inclusive pelo
Sistema Único de Saúde”, diz o urologista, que também atua no Hospital das
Clínicas (Hupes/Ufba).
Como não se pode interferir no envelhecimento nem na
ascendência e hereditariedade, a alternativa para manter a próstata saudável é
investir em prevenção. No caso dos homens, vale salientar que as medidas são
simples e, além de serem efetivas contra o câncer, também têm um impacto bem
positivo na prevenção de outras doenças crônicas como o diabetes, as
cardiopatias, entre outras.
O oncologista André Bacelar diz que as medidas protetivas
estão voltadas para uma alimentação saudável, baseada em folhas, frutas,
verduras e legumes, com pouca gordura animal e o mínimo de produtos
industrializados ou muito processados. “Além disso, é fundamental que os homens
digam não ao sedentarismo e invistam numa atividade física, além de evitar o
tabagismo e a ingesta excessiva do álcool”, completa o oncologista.
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