Dono da JBS grava Temer dando aval para compra de silêncio
de Cunha
Joesley Batista e o seu irmão Wesley confirmaram a Fachin o
que falaram a PGR
Por Lauro Jardim
17/05/2017 19:30 / Atualizado 17/05/2017
22:38
Joesley Batista -
Editoria de Arte
RIO — Na tarde de quarta-feira passada, Joesley Batista e o seu irmão Wesley
entraram apressados no Supremo Tribunal Federal (STF) e seguiram direto para o
gabinete do ministro Edson Fachin.
Os donos da JBS, a maior produtora de proteína
animal do planeta, estavam acompanhados de mais cinco pessoas, todas da
empresa.
Foram lá para o ato final de uma bomba atômica que explodirá sobre o
país — a delação premiada que fizeram, com poder de destruição igual ou maior
que a da Odebrecht.
Diante de Fachin, a quem cabe homologar a delação, os sete
presentes ao encontro confirmaram: tudo o que contaram à Procuradoria-Geral da
República (PGR) em abril foi por livre e espontânea vontade, sem coação.
É uma delação como jamais foi feita na Lava-Jato: Nela, o presidente Michel
Temer foi gravado em um diálogo embaraçoso. Diante de Joesley, Temer
indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da
J&F (holding que controla a JBS). Posteriormente, Rocha Loures foi filmado
recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley.
Temer também ouviu do
empresário que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma
mesada na prisão para ficarem calados. Diante da informação, Temer incentivou:
"Tem que manter isso, viu?".
O dinheiro foi entregue a
um primo do presidente do PSDB, numa cena devidamente filmada pela Polícia
Federal. A PF rastreou o caminho dos reais. Descobriu que eles foram
depositados numa empresa do senador Zeze Perrella (PSDB-MG).
Joesley relatou também que Guido
Mantega era o seu contato com o PT. Era com o ex-ministro da Fazenda de
Lula e Dilma Rousseff que o dinheiro de propina era negociado para ser
distribuído aos petistas e aliados. Mantega também operava os interesses da JBS
no BNDES.
Joesley revelou também que pagou R$ 5 milhões para Eduardo
Cunha após sua prisão, valor referente a um saldo de propina que o peemedebista
tinha com ele. Disse ainda que devia R$ 20 milhões pela tramitação de lei sobre
a desoneração tributária do setor de frango.
Pela primeira vez na Lava-Jato foram feitas "ações
controladas", num total de sete. Ou seja, um meio de obtenção de prova em
flagrante, mas em que a ação da polícia é adiada para o momento mais oportuno
para a investigação. Significa que os diálogos e as entregas de malas (ou
mochilas) com dinheiro foram filmadas pela PF.
As cédulas tinham seus números
de série informados aos procuradores. Como se fosse pouco, as malas ou mochilas
estavam com chips para que se pudesse rastrear o caminho dos reais.
Nessas
ações controladas foram distribuídos cerca de R$ 3 milhões em propinas
carimbadas durante todo o mês de abril.
Se a delação da Odebrecht foi negociada durante dez meses e
a da OAS se arrasta por mais de um ano, a da JBS foi feita em tempo recorde. No
final de março, se iniciaram as conversas.
Os depoimentos começaram em abril e
na primeira semana de maio já haviam terminado. As tratativas foram feitas pelo
diretor jurídico da JBS, Francisco Assis e Silva. Num caso único, aliás, Assis
e Silva acabou virando também delator. Nunca antes na história das colaborações
um negociador virara delator.
Dono da JBS grava Temer dando aval para compra de silêncio de Cunha -
Ailton de Freitas / Agência O Globo
A velocidade supersônica para que a PGR tenha topado a
delação tem uma explicação cristalina.
O que a turma da JBS (Joesley sobretudo)
tinha nas mãos era algo nunca visto pelos procuradores: conversas
comprometedoras gravadas pelo próprio Joesley com Temer e Aécio — além de todo
um histórico de propinas distribuídas a políticos nos últimos dez anos.
Em duas
oportunidades em março, o dono da JBS conversou com o presidente e com o
senador tucano levando um gravador escondido — arma que já se revelara certeira
sob o bolso do paletó de Sérgio Machado, delator que inaugurou a leva de áudios
comprometedores.
Ressalte-se que essas conversas, delicadas em qualquer época,
ocorreram no período mais agudo da Lava-Jato. Nem que fosse por medo, é de se
perguntar: como alguém ainda tinha coragem de tratar desses assuntos de forma
tão descarada?
Para que as conversas não vazassem, a PGR adotou um procedimento incomum.
Joesley, por exemplo, entrava na garagem da sede da procuradoria dirigindo o
próprio carro e subia para a sala de depoimentos sem ser identificado. Assim
como os outros delatores.
Ao mesmo tempo em que delatava no Brasil, a JBS contratou o
escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe para tentar um acordo de
leniência com o Departamento de Justiça dos EUA (DoJ).
Fechá-lo é fundamental
para o futuro do grupo dos irmãos Batista. A JBS tem 56 fábricas nos EUA, onde
lidera o mercado de suínos, frangos e o de bovinos.
Precisa também fazer um IPO
(abertura de capital) da JBS Foods na Bolsa de Nova York.
Pelo que foi homologado por Fachin, os sete delatores não
serão presos e nem usarão tornozeleiras eletrônicas.
Será paga uma multa de R$
225 milhões para livrá-los das operações Greenfield e Lava-Jato que investigam
a JBS há dois anos. Essa conta pode aumentar quando (e se) a leniência com o
DoJ for assinada. (Colaborou Guilherme Amado)
Jornal Nacional 17/05/2017 - COMPLETO
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