27/5/2017 08:04
Gilmar Mendes está envolvido em negócio milionário com a JBS
A família do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo
Tribunal Federal), é fornecedora de gados para a JBS, uma das maiores
processadoras de carne do mundo e que acaba de ter um acordo de delação
premiada homologado pelo tribunal.
A informação foi dada pelo ministro à Folha. No cargo,
Gilmar pode ter de tomar decisões sobre a delação.
A reportagem questionou o ministro sobre encontro recente que teve com o
empresário Joesley Batista, um dos sócios da JBS que gravou secretamente o
presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Gilmar confirmou a reunião, ocorrida, segundo ele, a pedido do advogado
Francisco de Assis e Silva, um dos delatores da empresa.
Joesley, de acordo com
Gilmar, apareceu de surpresa ao encontro, que, diz o ministro, tratou de
questão referente ao setor de agronegócio.
A conversa ocorreu fora do Supremo, no IDP, escola de direito em Brasília da
qual o ministro do STF é sócio.
A data da conversa, segundo Gilmar, é posterior
a 30 de março, quando o tribunal realizou um julgamento sobre o Funrural, fundo
abastecido com contribuições de produtores rurais à previdência.
Os ruralistas questionavam o pagamento ao fundo na Justiça e o STF manteve a
obrigatoriedade. O ministro afirmou que votou contra os interesses da JBS.
A gravação de Joesley com Temer foi feita no dia 7 de março, no Palácio do
Jaburu.
Gilmar afirmou que conheceu Joesley por causa de negócios na área de
agropecuária. Disse que não o via havia mais de um ano, até o encontro recente,
em Brasília.
"Minha família é de agropecuaristas e vendemos gado para a JBS lá (Mato
Grosso)", afirmou, acrescentando que um irmão é quem negocia os valores
com a empresa.
"Eu já havia o [Joesley] encontrado em outras ocasiões.
A JBS tem um
grande frigorífico em Diamantino (MT), minha terra, implantado pelo grupo
Bertin no governo Blairo [Maggi, governador do Mato Grosso entre 2003 e
2010]".
Segundo o ministro, a relação comercial com a empresa não é motivo para ele se
declarar impedido de participar das votações futuras relacionadas à JBS no STF.
"Não. Por quê? As causas de impedimentos ou suspeição são estritas",
disse.
"[Se fosse assim] Eu não poderia julgar causas da
Folha, Carrefour, Mercedes-Benz, Saraiva", acrescentou, fazendo
referências a empresas com quem tem alguma relação comercial [no caso, empresas
das quais é cliente].
As declarações foram dadas por ele à Folha antes das 13h, ao ser questionado
sobre o encontro que teve com Joesley. Depois, em entrevista a jornalistas no
STF, ele declarou que o plenário do tribunal tem de discutir os termos do
acordo de delação da JBS, alvo de críticas por supostas fragilidades em relação
a penas dos envolvidos.
Para Gilmar, não cabe apenas ao relator (no caso, o ministro Edson Fachin)
homologar um acordo. "Me parece que nesse caso, como envolve o presidente,
certamente vamos ter que discutir o tema no próprio plenário", disse.
Perguntado pela Folha se tem receio de ter sido gravado, assim como ocorreu com
Temer e Aécio, o ministro do STF respondeu: "Não [tem receio]. Como lhe
disse, a conversa se limitou a esse tema [Funrural]", respondeu.
VOTAÇÃO EM MARÇO
Mendes argumentou que foi um dos seis ministros que votaram a favor de manter a
cobrança das contribuições para o Funrural no dia 30 de março, indo contra o
pedido dos ruralistas (incluindo a JBS) - o placar foi de 6 a 5.
"Votei contra os meus próprios interesses econômicos, pois minha família
terá de pagar a contribuição atrasada."
"O advogado dele havia procurado para falar sobre o caso julgado pelo STF
sobre o Funrural. O setor estava em polvorosa.
Eu já havia recebido toda a
bancada ruralista, que alegava a necessidade de modularmos efeitos da
decisão", acrescentou Gilmar.
Ele afirmou também que o pedido de Joesley, posterior ao julgamento, foi para
encontrar uma fórmula que permitisse o alongamento da contribuição
Fonte: Folha
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