Sem suporte da mídia, do mercado e do Congresso, Temer
agoniza
Está mais do que claro que o governo acabou
LUÍS COSTA PINTO
22.maio.2017 (segunda-feira) - 6h00
atualizado: 22.maio.2017 (segunda-feira) - 9h49
22.maio.2017 (segunda-feira) - 6h00
atualizado: 22.maio.2017 (segunda-feira) - 9h49
Sérgio Lima/Poder360 - 12.mai.2017
O presidente Michel Temer (PMDB)
CALMA! ALL WE NEED IS LOVE
Na esteira da deposição de Dilma Rousseff, há pouco mais de
um ano, ascendeu ao poder um grupo chancelado pelo establishment financeiro
nacional e simpático às teses e à agenda da mídia tradicional brasileira.
O processo pelo qual essa turma chegou ao comando do
Executivo sempre foi marcado pela ausência de legitimidade, uma vez que se
criara várias teses jurídicas tortuosas a fim de validar o processo de
impeachment levado a ferro e fogo pelo presidiário Eduardo Cunha, à época
presidente da Câmara.
A ilegitimidade foi mascarada com demãos de verniz de
legalidade, afinal teses jurídicas e interpretações constitucionais se prestam
a isso.
No longo e custoso intervalo de um ano o Brasil esteve entregue a uma
turma que se gabava de atropelar a tudo e a todos por ser confiável na entrega:
conduziriam a Nação até 2018 atrelando os interesses de Estado à agenda do
mercado e aos sonhos até então inconfessáveis das lideranças liberais, como as
alterações profundas na legislação trabalhista.
Tudo embalado no apoio explícito
que a mídia tradicional lhes conferia.
Às 19h30 da última 4ª feira (17.mai.2017) esse esboço de
roteiro de propaganda de margarina começou a se converter em thriller de
terror.
Foi quando o colunista Lauro Jardim, de O Globo, detonou a bomba
da delação premiada do empresário Joesley Batista fazendo somar ao inferno
tupiniquim essa novidade que é o monitoramento guiado de delatores.
Um fato por
si só explosivo, a divulgação de conversas abjetas no porão de um palácio
brasiliense, significou também a ruptura dos veículos das Organizações Globo
com a coluna midiática que compunha o tripé de suporte do grupo que depusera
Dilma.
O toque de recolher da Globo, que vem sendo fustigada de
forma atabalhoada pelo Palácio do Planalto e tratada com uma vileza de golpes
que não lhes foram desferidos (por covardia) nem mesmo pelos petistas Lula e
Dilma, amedrontou a coluna de apoio parlamentar do tripé e fez desmoronar as
bases da terceira coluna, a do mercado, que já não crê mais na possibilidade de
esse grupo entregar as reformas liberais até a eleição de 2018 –se elas
seguirem no calendário.
E advirta-se: a bomba atômica capaz de liquefazer
o que resta de concreto nessa estrutura pastosa será qualquer eventual proposta
de mexer no calendário eleitoral do próximo ano.
A síntese óbvia, clara, cristalina do que temos hoje é a
persistência de um governo que respira por aparelhos, não possui instrumentos
cirúrgicos capazes de lhe devolver vitalidade e dispensou a equipe médica que
lhe dava esperanças: a Globo e seu arsenal historicamente competente usado para
construir e para assassinar reputações. Para revogar e para revigorar agendas.
Para criar climas e anticlimas.
Sem a Globo chancelando os áulicos palacianos, o mercado
financeiro passa a tratá-los com desprezo despudorado também.
Afinal,
para os operadores, não há governo bom ou ruim. Há, sim, governo útil ou
inútil. O atual já não lhes é mais útil. Por conseguinte…
Por fim, sem a Globo e sem a chancela do mercado, do
establishment financeiro, por que uma maioria parlamentar imolaria suas
biografias (em alguns casos, prontuários) na defesa de uma agenda capaz de
pulverizar-lhes votos e angariar-lhes ódio popular?
Essa é a equação de subtrair que ora se opera em Brasília,
mas a semana que entra chegará ao fim, inexoravelmente, com uma nova conta:
dessa vez, de somar.
Surgirá um nome de perfil de centro-direita, liberal, com
autoridade para restaurar a agenda reformista e fazê-la passar no Congresso.
Tendo coragem para tal, rapidamente reunificará em torno de si a antiga base
parlamentar do governo que se vai.
Cumprida mais essa etapa, estarão postas as
condições para uma reunificação do consenso midiático tradicional em torno
desse nome e com isso o compromisso de realizar eleições em 2018 correrá menos
riscos.
É óbvio que se buscará um crivo legal, constitucional e legítimo para
todo esse processo.
A busca está nas ruas largas de Brasília, na Avenida
Paulista e na Avenida Atlântica, no Rio. Haverá fumaça cinza saindo desse
consistório em breve.
Há o risco, real e não calculado ainda, de um desarranjo de
tamanha envergadura nas ruas que a carência de chancela popular –ou seja, de
voto mesmo, do poder que emana das urnas– inviabilize reformas mais agudas.
Esse será o pano de fundo da peleja, já aberta e legítima, entre defensores do
rito constitucional de eleições indiretas versus advogados do poder popular
expresso em eleições diretas pelas quais lutamos tão bravamente há apenas duas
gerações.
Os elementos dados e postos sobre a mesa deixam mais do que
claro que o governo atual acabou.
A ponte que havia desenhado não ficou de pé,
os pilares ruíram.
Há razões e contra-razões nas duas teses que se digladiarão,
a de escolha indireta de quem terminará esse conturbado período de governo ou a
de convocação de eleições diretas para já.
Se for o caso de remendar a
Constituição de 1988 para convocar eleições antecipadas, então que lutemos por
zerar todo o jogo e chamemos eleições gerais.
Voto revigora democracias,
legitima agendas. Campanhas animam os povos mais deprimidos.
O Brasil não caiu
em precipício algum.
Há salvação desde que não abandonemos os trilhos da
Democracia. Vamos em frente e solfejando os Beatles: All We Need Is Love!
Fonte: http://www.poder360.com.br/
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