Aliados aconselham Temer a renunciar. Votações de reformas
serão suspensas
Capital federal vive noite de manifestações e reuniões.
Situação do presidente é considerada "gravíssima". Ambiente de
desânimo domina o governo. Pedido de impeachment já foi protocolado
Por Hylda Cavalcanti, para a RBA publicado
17/05/2017
23h35, última modificação
18/05/2017 01h16
ARQUIVO PESSOAL / TWITTER
Esplanada dos Ministérios e a praça em frente ao
Palácio do
Planalto são alvos de pessoas que
chegam a todo momento: “Fora Temer”
Brasília – A divulgação da notícia de gravações de conversas
nas quais o presidente Michel Temer discute com o empresário Joesley Batista o pagamento de propina para compra do silêncio do
ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na noite desta quarta-feira (17),
tumultua a capital do país, que vive uma noite de movimentação.
A Esplanada dos
Ministérios e a praça em frente ao Palácio do Planalto recebem pessoas que
chegam a todo momento portando bandeiras do Brasil, aos gritos de “Fora,
Temer!” e pedidos de renúncia do presidente.
Embora várias reuniões ainda não
tenham terminado duas situações são dadas como certas. Primeiro, que a agenda
de votação das reformas será suspensa.
A segunda, confirmada nos bastidores por
políticos do governo, é que caso não consiga reverter o quadro rapidamente, o
presidente renuncie ao cargo.
“O Congresso não pode ficar calado. Estamos num ambiente de
fim, um sentimento de que o governo acabou. A solução tem que ser ou a
renúncia, ou um impeachment ou diretas já”, disse o líder da oposição na
Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE).
O pedido de impeachment de Temer foi
protocolado pouco tempo depois da divulgação da gravação pelo deputado
Alessandro Molon (Rede-RJ), na Câmara, enquanto a Procuradoria-Geral da
República (PGR) confirmou o teor da gravação, que foi feita pelo dono da
empresa JBS, Wesley Batista, e apresentada em delação premiada.
No Supremo Tribunal Federal (STF) ainda há informações de
que há magistrados reunidos para discutir o caso, mas um pronunciamento oficial
da suprema corte ou de algum dos ministros só será feito nesta quinta-feira
(18), segundo informações da secretaria de Comunicação.
Já em relação a Temer, por volta das 21h30 o Palácio do
Planalto divulgou nota oficial afirmando que o presidente “jamais
solicitou” pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.
O
documento destaca, ainda, que Temer “não participou nem autorizou qualquer
movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar”.
Apesar das declarações, o presidente confirma, neste comunicado, que recebeu,
sim, Joesley Batista em março passado, no Palácio do Jaburu.
Michel Temer permaneceu dentro do Palácio do Planalto
reunido com vários ministros da sua equipe, líderes da base aliada, deputados e
senadores e até alguns governadores para discutir a melhor saída da crise
política até por volta das 22h30.
Ele saiu para o Palácio do Jaburu, onde
reside, e continua a reunião lá, ao lado de políticos mais próximos.
‘Tudo perdido’
Entre os deputados e senadores de todos os partidos, o
ambiente é de nervosismo. Todos, quando abordados por jornalistas e
questionados – seja em reservado ou publicamente – classificam a situação como
“gravíssima”.
O líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá
(PMDB-RR), chegou a pedir aos repórteres que evitem precipitações neste momento
e evitou falar em adiamentos na votação das reformas, mas não conseguiu
convencer.
As contas feitas por parlamentares da oposição e da base do
governo são de que, no caso da reforma da Previdência, o Planalto contava, na
manhã de hoje, com 225 votos favoráveis e 123 indecisos.
Com a presença de
governadores e prefeitos, que vieram a Brasília para participar de um seminário
e acompanhar a votação da proposta que refinancia dívidas dos estados, a
intenção do governo era conseguir o convencimento de mais 123 parlamentares –
de modo a garantir os votos que faltam.
Com a notícia da gravação, as
articulações neste sentido foram interrompidas. “Está tudo perdido. Não há como
falar em votação nenhuma neste momento”, disse um senador peemedebista.
Impeachment, Diretas ou STF?
No Congresso, parlamentares da oposição discutem a posição a
ser adotada daqui por diante no sentido de pressionar pela saída de Temer. Lindbergh
Farias (PT-RJ) defende pressão para acolhimento, o quanto antes, pelo
presidente da Câmara ou do Senado, do pedido de impeachment.
Mas um outro
movimento dos oposicionistas trabalha para que a Comissão de Constituição
e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara, vote com urgência a Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 227/16 que trata de eleições diretas para a
Presidência da República.
No final da noite, outra possibilidade discutida foi de o
tema ser decidido pelo Judiciário, por meio de um pedido a ser feito junto ao
STF para abertura de processo contra Michel Temer por obstrução de Justiça.
Caso o colegiado da mais alta corte do país decida pela abertura do processo, o
presidente terá de deixar o cargo.
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