URGENTE: Delação cita publicidade como propina a Aécio
Daniel Bramatti, Marcelo Godoy e Leonardo Augusto, especial
para o Estado
52 minutos atrás 22/05/2017
Documentos obtidos pelo Estado comprovam a venda
de prédio em Belo Horizonte que, conforme delação do empresário Joesley
Batista, da JBS, teria como objetivo o repasse de recursos ao senador afastado
Aécio Neves (PSDB-MG).
Na transação, a J&F Investimentos, controladora da
JBS, comprou da Ediminas S/A – Editora Gráfica Industrial de Minas Gerais o
imóvel e um terreno ao lado da construção por R$ 17.354.824,75.
Ainda segundo Joesley, meses antes dessa operação, R$ 2,5
milhões dos cerca de R$ 60 milhões entregues a Aécio para a campanha presidencial
de 2014 foram pagos por meio da compra antecipada de publicidade no jornal Hoje
em Dia.
Documento assinado por um diretor do Grupo Bel – que
controlava o jornal por meio da Ediminas S/A – atesta a compra de 365 páginas
de publicidade pela JBS. Ele foi entregue por Joesley aos procuradores.
O criminalista Alberto Zacharias Toron, que cuida da defesa
de Aécio, afirmou neste domingo, 21, que não se manifestaria sobre o caso e que
só o fará oportunamente.
As operações descritas por Joesley teriam servido para
dissimular os pagamentos ao senador.
A Ediminas é proprietária do jornal Hoje em Dia, que
funcionava no prédio. Além do registro da negociação em cartório, a reportagem
teve acesso também a um recibo de quitação do pagamento da transação da J&F
à Ediminas, que pertencia ao Grupo Bel, do setor de comunicação.
A compra foi
em 2015.
Em depoimento à Procuradoria da República, Joesley afirmou
que Aécio voltou a procurá-lo em 2015 pedindo dinheiro para pagar dívidas de
campanha. No ano anterior, o tucano disputou a Presidência e já teria recebido
R$ 60 milhões.
O sócio da JBS disse ter repassado R$ 17 milhões a Aécio por
meio da compra superfaturada do prédio em Belo Horizonte, de propriedade de um
aliado do senador. “Precisava de R$ 17 milhões e tinha um imóvel que dava para
fazer de conta que valia R$ 17 milhões”, afirmou.
O empresário apresentou documentos da compra do imóvel.
No
contrato registrado em 30 de novembro de 2015 no cartório em Pirapora do Bom
Jesus, em São Paulo, da J&F com a Ediminas, as empresas declararam que
Joesley pagou R$ 14 milhões pelo prédio – uma entrada de R$ 4 milhões e dez
parcelas de R$ 1 milhão. Uma primeira parcela de R$ 4 milhões não está nesse
contrato.
Conforme Joesley, Aécio indicou o imóvel como forma de
receber propina. Questionado se a venda fora superfaturada, Joesley disse: “Sem
dúvida. Não estávamos atrás de comprar um prédio em Belo Horizonte”.
Ediminas. O dono da Ediminas à época da negociação,
Flávio Jacques Carneiro, negou irregularidades na venda do prédio. “Fiquei
sabendo disso pela televisão. Vamos demonstrar que é mentira.
O imóvel foi
vendido para pagar bancos, fornecedores e funcionários.” Carneiro disse ser
amigo de Aécio e ter boa relação com Joesley.
O ex-dono da Ediminas afirmou que o imóvel tinha preço baixo
e que a J & F Investimentos possuía “um fundo bilionário”.
Na delação,
Joesley declarou não saber como o dinheiro chegou às mãos do senador afastado e
disse que pediu a Carneiro que solicitasse a Aécio, “pelo amor de Deus”, que
ele parasse de lhe pedir dinheiro.
A primeira entrada de R$ 4 milhões foi paga em 28 de
setembro de 2015. A segunda parcela, de R$ 4 milhões, foi repassada em 28 de
outubro. A terceira, de R$ 1 milhão, foi quitada em 30 de novembro.
Os nove
pagamentos restantes, no valor de R$ 1 milhão cada, foram quitados em fevereiro
de 2016, com desconto de R$ 18 milhões para os R$ 17.354.824,75. O recibo de
quitação registra que foi aplicada “taxa de desconto financeiro acordada entre
as partes”.
Mudança. A Ediminas pertence atualmente ao ex-prefeito
de Montes Claros Ruy Muniz, marido da deputada Raquel Muniz (PSD-MG).
O jornal Hoje
em Dia estudou seguir no prédio comprado pela J&F, mas, segundo o
diretor do jornal, Tiago Muniz, a empresa decidiu se mudar e agora ocupa imóvel
na zona oeste de Belo Horizonte.
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