"Aos sete anos, o meu pai me disse: 'Sou bandido. É a
minha profissão'"
Notícias Ao Minuto 11 horas atrás 06/12/2016
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Juan Pablo Escobar foi obrigado a mudar de país e de nome.
Sebastián Marroquín, filho de Pablo Escobar, deu uma entrevista exclusiva ao
Notícias ao Minuto, onde revela como foi e como é ser filho de um dos maiores
nomes da história do tráfico de droga.
Apesar de todo o sangue derramado na Colômbia, amor foi
coisa que nunca lhe faltou em casa, assegura. Esse mesmo amor que recebeu, é o
único sentimento que tem pelo pai. "Odiá-lo seria ingrato".
Juan Pablo tinha 16 anos quando o pai, Pablo Escobar, um dos
homens mais ricos do mundo, morreu, em 2 de dezembro de 1993. A sua irmã,
Manuela Escobar, tinha apenas nove anos.
Os dois, juntamente com a mãe, esposa
do narcotraficante, encontraram asilo político na Argentina, nação que lhes
permitiu mudar de nome e ocultar a identidade para que pudessem, finalmente,
viver em paz.
Para trás, na Colômbia, ficara um rasto de morte difícil de
apagar: foram mais de três mil as vítimas de Pablo Escobar, o 'Rei da Cocaína'
que, na década de 1980 e início dos anos 1990, ganhava a cada semana 420
milhões de dólares, 22 bilhões por ano [chegou a fornecer 80% da cocaína
traficada no mundo].
Um império conquistado a partir de 76 às custas de muito
sangue derramado e 'acarinhado' pelo poder corrupto, além da conivência de nações
estrangeiras.
No Aeroporto de Miami, conta Juan (agora Sebastián),
entravam 800 quilos de cocaína todas as semanas, uma rota que contava com a
cumplicidade americana.
Sobre o que se diz acerca do seu pai em séries
como 'Narcos', não tem dúvidas: incitam milhares de jovens a tornarem-se
traficantes de droga. E, afinal, como morreu 'El Pátron'?
Você encontrou refúgio na Argentina depois da morte do seu
pai. Falando de futebol, qual o melhor jogador do mundo, Messi ou Cristiano
Ronaldo?
Creio que são ambos do melhor. Não sou fã de comparações,
acredito no talento individual. E sou mais amigo de futebol a cada quatro anos.
Que opinião tem da situação atual da Colômbia e dos acordos
de paz entre o governo e as FARC?
Espero uma conclusão breve, que seja bem sucedida e que
traga paz ao país. Mas me parece que foi um erro grave que se tenha perguntado
ao povo se quer guerra ou paz. Isso não se pergunta, deve-se praticar a paz sem
demoras e ponto final.
Qual é a sua opinião sobre a vitória de Trump? Considera que
a construção de um muro na fronteira com o México poderia ter um impacto no
tráfico?
Tudo o que seja proibir ajudará a fazer crescer o negócio e
a capacidade dos traficantes de desafiar qualquer que seja a democracia na
América. O muro pode, na realidade, deixar os próprios americanos encerrados.
O que pensa das séries que popularizaram a vida do seu pai,
particularmente Narcos?
No meu Facebook publiquei uma lista de 28 erros graves da
segunda temporada. Fiz o mesmo no meu novo livro 'Pablo
Escobar in fraganti', onde revelo toda a verdade sobre 'Narcos'. O
pior é que estas séries incitam os jovens a se tornarem narcotraficantes porque
só lhes mostram uma vida tranquila e com muito poder como os guionistas
acreditam, mas isso nunca aconteceu na realidade.
Desde que a série 'Narcos'
surgiu não tenho parado de receber milhares mensagens de jovens (da Índia,
Austrália, Europa e América) que querem se tornar traficantes pela história
mentirosa que estão contando sobre o meu pai.
E qual a série mais fiel, entre 'Narcos' e 'El Patrón
del Mal'?
'Narcos' é um pouco menos mau. 'El Patrón del Mal' sim é uma
enganação total, uma simples caricatura desenhada à medida do poder
colombiano que quer fazer crer ao mundo que a polícia colombiana era boa. Se
fosse tão boa como mostram, a Colômbia não teria sofrido nem metade da
violência do meu pai.
Que herança sobrou de Pablo Escobar?
A herança que o nosso pai nos deixou foi roubada pelo
governo que nunca compensou as vítimas do meu pai. Os políticos roubaram muitos
dos bens.
O resto, foram os inimigos do meu pai que nos roubaram através de
ameaças. [Numa reunião com líderes de outros cartéis em que a família
Escobar teve de entregar tudo o que lhe restava para que saíssem de lá com
vida].
Não é teoria. É uma certeza absoluta.
A investigação forense
me confirmou isso. Mas foi tudo arquivado e tiveram de mudar o relatório final
para aquela que é a versão oficial, de que Pablo Escobar foi apanhado e
morto.
O meu pai sempre me disse que daria um tiro em si próprio antes que o
capturassem. E fez isso para libertar a família da condição de refém a que foi
submetida pelo governo da Colômbia com a conivência da Alemanha e dos
Estados Unidos.
Carlos Castaño (Chefe paramilitar da Colômbia) foi o homem que
entrou primeiro na casa do meu pai. Não havia sequer um policial nas proximidades.
Chegaram depois para dizer que foi mérito seu. Mas mentem.
Recorda-se do dia em que se deu conta de quem era Pablo
Escobar para os colombianos?
Aos sete anos, o meu pai disse-me: "Sou um bandido.
Essa é a minha profissão".
Tinha consciência da existência do cartel de Medellín e do
que faziam os sicários?
Eram todos meus babysitters. Nasci ali dentro.
Alguma vez esteve em perigo de vida? Pode contar-me uma
dessas situações?
Caiu uma granada entra as minhas pernas.
Apanhei-a e
lancei-a antes que explodisse. Noutra situação, puseram-me num carro bomba com
700kg de dinamite capaz de destruir os vidros da cidade a um 1km de distância.
Sobrevivi por milagre. E há muitas histórias como estas.
Apesar do 'negócio' e da violência inerente, teve sempre o
amor que uma criança precisa de ter em casa?
Tive mais amor na minha casa do que os mais refinados da
Colômbia. Como filho, não tenho nada a apontar do meu pai. Educou-me bem e com
amor. Sou o resultado desse amor.
Em criança tinha tudo o que queria, com 13 anos já tinha
várias motos, tinha um jardim zoológico só para você, entre outros luxos.
Faltava-lhe algo?
Liberdade, paz e tranquilidade eram coisas muito escassas. E
sem isso o dinheiro não vale nada.
Tinha noção de que a maioria dos colombianos tinha
muito pouco, que era muito pobre?
O meu pai se dedicou a ajudar como ninguém antes havia
feito na Colômbia com os pobres. O meu pai queria alterar isso e que todos os
colombianos vivessem com mais dignidade.
Mas o governo não permitiu que
continuasse ajudando e perseguiram-no. E o meu pai também se enganou ao querer
matá-los a todos por serem corruptos.
Regressou à Colômbia? Sente raiva e rancor da parte do povo
colombiano por tudo que o que o seu pai fez?
O povo da Colômbia trata-me bem e com respeito. Sabe quem eu
poderia ser, mas que escolhi não ser um Pablo Escobar 2.0.
Em adulto, já se encontrou com algum capanga fiel a Pablo
Escobar? O que falou com eles?
Com alguns. O que falei com eles está publicado nos meus
dois livros.
Tem algum ressentimento por ter perdido o seu pai
muito cedo [Escobar tinha 44 anos quando morreu]?
O meu pai escolheu o seu final. Para tudo há um tempo na
vida.
Até que ponto o governo e a polícia tiveram culpa naquilo
que ocorreu nos anos 'dourados' de Pablo Escobar?
Pelo menos 50 % de responsabilidade.
Eram muito corruptos e,
felizes, recebiam todo o dinheiro que [o meu pai] lhes dava. Em troca,
davam-lhe tudo o que lhes pedia: decretos, benefícios, alterações na
Constituição. Deixaram-no financiar, escolher e construir a sua prisão [La Catedral,
em 1991] e as suas próprias condições de recluso. Enfim, o meu pai parecia o
presidente.
Pensou, em algum momento, seguir o caminho do seu pai?
Como escapou a esse mundo paralelo? Recebeu propostas para ser o
substituto do seu pai?
O poder se toma, não se oferece. Escolhi caminhar no sentido
oposto ao do meu pai. Seria um insulto ao legado da sua experiência se
continuasse com ela.
Ganha a vida, no fundo, com a história do seu pai (através
dos livros e das conferências que dá em todo o mundo). Alguns acusam-no de
fazer dinheiro através de uma tragédia. Que tem a dizer aos críticos?
"Alguns" soa a muita gente, mas ninguém com nome
próprio me acusa realmente de alguma coisa. Tem os nomes? Esses críticos são os
que aplaudem a Netflix? E a Caracol TV? E a Benicio del Toro? E a Barden e a
Penéople Cruz? A Discovery , a NatGeo e o canal História? E os milhares de
meios que lucram com a história da minha família? Têm mais direitos estas
empresas do que a minha família de fazer dinheiro com as tragédias que o meu
pai causou? Eu pelo menos o faço com respeito pela verdade e pelas
vítimas, e convidando o mundo a não repetir esta história. Me parece que é a
eles a quem tem de perguntar.
Na sua opinião, há alguma forma de erradicar o problema do
tráfico de droga?
Legalizando. Declarando paz às drogas.
Do que falou com o seu pai nos seus últimos dias de
fugitivo?
De todos os crimes que tinha cometido.
Que sentimento tem pelo seu pai? Que gostaria dizer às
pessoas sobre o seu pai, sobre o que podem ver nas séries?
Tenho amor pelo meu pai. Nada mais.
Odiá-lo seria uma coisa
muito má e ingrata. Nas minhas conferências e nos meu livros, digo às pessoas
que não tenho orgulho da violência do meu pai e que a sua história deve ser
escrita para que ninguém ouse repeti-la.
Que ensinamento moral e político deixa Escobar à
Colômbia?
No dia em que a Colômbia se atrever a investigar as
verdadeiras ligações políticas, a nível internacional, saberemos quais foram os
ensinamentos. Enquanto isso, é muito confortável a versão de que Pablo Escobar
foi o único culpado.
Para terminar, que segredos conta no seu novo livro 'Pablo
Escobar In fraganti: Lo que nunca me contó mi padre'?
Revelo as suas ligações com os principais líderes da
corrupção mundial. Como por exemplo a forma como [o meu pai] trabalhou para a
CIA com a venda de cocaína para que eles financiassem a luta anti-comunista na
América central.
Revelo também, no capítulo 'El Tren', uma rota em que o meu
pai contou com a cumplicidade de uma agência norte-americana que o ajudou a receber
e a passar pelo Aeroporto Internacional de Miami 800 quilos de cocaína por
semana, durante três anos consecutivos. O lucro dessa rota foi impressionante.
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