MINEIRINHO NO ESGOTO: Marqueteiro de Aécio assinou contrato
de ficção para receber por campanha de tucano
14 de abril de 2017
JORNAL O GLOBO
Um contrato de projeto de publicidade com o objeto fictício
de “aproximar o governo de Angola e a população do país” foi a saída encontrada
pela Odebrecht e pelo marqueteiro do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Paulo
Vasconcelos, para justificar uma contribuição de R$ 3 milhões em caixa 2 para a
campanha do tucano à Presidência, em 2014.
O pagamento — realizado em duas parcelas de R$ 1,5 milhão —
foi repassado pela empreiteira diretamente na conta da PVR Marketing e
Propaganda Ltda., empresa do marqueteiro, e não foi declarado à Justiça
Eleitoral.
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A informação consta dos depoimentos do diretor de
Infraestrutura da Odebrecht, Benedicto Júnior, e do superintendente da
Odebrecht em Minas Gerais, Sérgio Neves.
Segundo os delatores, não foi a
primeira vez que isso ocorreu: em 2009 e em 2010, a Odebrecht pagou R$ 1,8
milhões a Vasconcelos, em parcelas mensais de R$ 150 mil, como colaboração para
a pré-campanha de Antonio Anastasia (PSDB-MG) ao governo de Minas.
Os valores
também não passaram pelas contas oficiais.
De acordo com os delatores, a época
foi criado um contrato com “escopo fictício”, no caso, um “plano estratégico de
comunicação da Odebrecht”.
— Em junho de 2009, Benedicto Júnior me procurou reportando
que havia acertado com Aécio Neves apoio para a pré-campanha de Antonio
Anastasia ao governo de Minas. Ele me indicou que o valor que a empresa iria
contribuir era no valor de R$ 1,8 milhão e que deveria ser feito via um
contrato com o marqueteiro do Aécio, o Paulo Vasconcelos – narrou Sérgio Neves
em seu depoimento à força-tarefa da Lava-Jato.
O executivo da empreiteira diz que não conhecia Vasconcelos,
mas foi procurado por ele, a exemplo do que havia avisado Benedicto.
— Ele me trouxe algumas opções de escopo fictício, diga-se
de passagem.
Nessa época a empresa tava fazendo todo um trabalho de estudo, de
comunicação. A gente pegou esse escopo como sendo o adequado para elaborar esse
contrato – narrou o executivo, segundo o qual valores foram pagos
“integralmente, sem que nenhum serviço tivesse sido prestado”.
Segundo Sérgio Neves, o mesmo teria ocorrido em 2014,
quando, de igual forma, Benedicto Júnior o teria ligado e informado que havia
acertado com Aécio a contribuição no valor de R$ 6 milhões para a campanha
tucana à Presidência.
O superintendente da Odebrecht em Minas diz ter feito
novo contato com Vasconcelos, quando marcaram reuniões no escritório da
empreiteira em Belo Horizonte e também no escritório do marqueteiro.
— Eu disse que estava desconfortável em fazer contrato neste
valor (R$ 6 milhões) sem prestação de serviços. Eu sugeri: vamos fazer os R$ 3
milhões, e os outros R$ 3 milhões só no início de 2015. O Paulo concordou —
afirma o executivo.
O contrato foi anexado ao inquérito que investiga o caso, e
prometia desenvolver “projeto com foco no desenvolvimento social e na promoção
da cidadania da população de Angola, mediante a criação, pela contratada, de
instrumentos que permitissem a aproximação entre o governo de Angola e a
população do país”.
“Caso o governo de Angola desejasse implantar o projeto”,
estavam previstas ações como produção de cartilhas para mostrar “o real papel
dos cidadãos no desenvolvimento do país” e iniciativas como a “criação de
postos de atendimento médico nas comunidades, locais para implementação de
documentos de identidade”. Até um filme sobre uma “Nova Angola para novos
cidadãos” foi prometido no contrato.
No início de 2015, Vasconcelos teria voltado a procurar
Sérgio Neves, para cobrar o saldo de R$ 3 milhões da eleição anterior.
— Eu pedi a ele que trouxesse algumas sugestões de escopo
(para o novo contrato fictício). As sugestões que ele trazia, eu não me sentia
confortável, o cenário não estava adequado, ou seja, a gente não conseguiu
chegar a consenso em relação a (proposta de) escopo dos R$ 3 milhões finais.
Não teve esse pagamento — contou Sérgio.
OUTRO LADO
Nesta sexta-feira, por meio de sua assessoria, Paulo
Vasconcelos disse: “Os dois serviços relatados pelo delator foram efetivamente
prestados pela PVR, como teremos possibilidade de comprovar ao longo da
investigação.”
Já a assessoria do senador Aécio Neves informou que o tucano
“jamais solicitou qualquer tipo de apoio de forma ilegal”, e não tinha
conhecimento sobre “como a empresa (Odebrecht) fazia contribuições eleitorais”.
A assessoria destacou trecho de depoimento de Benedicto Júnior em que ele
afirma que “o senador fazia o pedido de doação e não se envolvia se ia ser
feito por caixa 1 ou caixa 2”.
A assessoria destacou, ainda, que três dos cinco inquéritos
contra Aécio mencionam pedidos de apoio para campanhas eleitorais de outros
candidatos. “Na condição de dirigente partidário, o senador pediu apoio a
diferentes doadores e sempre de acordo com a lei”, afirmou a assessoria.
A Odebrecht informou que “após a colaboração dos executivos
e ex-executivos”, a empresa “reconheceu seus erros, pediu desculpas públicas e
assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça, e
também com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos”.
A empresa diz estar fazendo sua parte ao adotar “um novo
modelo de governança” e implantar “normas rígidas de combate à corrupção”, com
vigilância para que suas ações, “principalmente na relação com agentes
públicos”, ocorram “dentro da ética, da integridade e da transparência”.
Fonte: http://clickpolitica.com.br/
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