É COVARDIA DEMAIS, CRUEL E DESUMANA
Ontem dei mais uma entrevista na rádio, depois digitada e
postada.
Ficou longa, já que falando o tempo transcorre muito mais rápido que lendo, mas
aconselho aos companheiros que a leiam, não necessariamente porque eu seja o
dono da verdade, mas porque há muita matéria para reflexão política e
existencial.
O momento em que mais comovi os ouvintes, os entrevistadores e, pelos
comentários na Net, os leitores, foi quando me referi a Lula, e transcrevo:
“Lula está velho, debilitado por um câncer que ainda é um fantasma para ele,
caluniado de todas as maneiras, tendo que se defender, desviando energias da
luta coletiva para a luta pessoal, assustado.
No evento da ABI, aqui no Rio, eu estive a pouco mais de dois metros do Lula e
é evidente a preocupação dele, procurando sair rapidamente do meio da multidão,
com os olhos percorrendo todos os cantos, como se procurasse francos
atiradores, como se amarrado pelos inimigos,...”
Acredito que ninguém neste país tenha sofrido uma tão impiedosa e cruel tortura
psicológica, pública, quanto Lula.
Talvez quem mais tenha se aproximado foi Luis Carlos Prestes, mas teve a
alternativa de se afastar, indo para a Rússia, ao contrário de Lula, que aqui
resiste, bravamente.
Desde a ditadura militar Lula é investigado, tem a vida esmiuçada, fuçada,
virada ao avesso, na busca de ilícitos, com uma única prisão, logo relaxada, na
ditadura, por subversão, incitação à desordem pública, quando sindicalista.
Nada previsto no Código Penal, capaz de caracterizar crime comum,
desonestidade.
Candidato contra Collor, o que se viu foi ser atribuído a ele os mesmos pecados
do adversário, com a mídia omitindo, escondendo os do adversário.
No debate final, na tevê, a Globo entregou sinopses, no ar, ao vivo, aos dois
candidatos. A de Collor, altamente detalhada, com informações capazes de
desestabilizar eleitoralmente o adversário. A de Lula, folhas de papel em
branco, sem nada escrito.
Nas eleições seguintes, as mesmas histórias, as mesmas mentiras, as mesmas
calúnias, com o adversário blindado pela mídia, com os seus crimes e pecados
sob o tapete.
Finalmente Lula foi eleito e, contrariando prognósticos, chegou a ter mais de
80% da confiança do povo brasileiro, nos tirando da condição de devedor para
credor, expandindo o mercado interno, fortalecendo o parque industrial do país,
a rede de comércio varejista e atacadista, multiplicando o PIB e as reservas
cambiais, tudo com justiça social, aumentando a fatia dos até então deserdados,
através de aumentos reais nos salários e programas sociais, um tiro nos
conservadores, na burguesia, na classe dominante, que se julga proprietária
desse país.
Talvez tenha sido o único mandatário, em toda a História Universal, a fazer o
seu país saltar de décima sexta economia do planeta para oitava, em oito anos,
superando um país por ano, na média.
Foi preciso desconstruí-lo, destruí-lo, desmoralizá-lo, arrancá-lo dos corações
e mentes dos brasileiros, e começou a covardia, o ódio cego e animalesco, e
nasceu o processo do Mensalão.
Joaquim Barbosa, inteligentíssimo, pertinaz, determinado, fazendo o seu próprio
código de leis e processo penal, tinha objetivo único: acabar com a carreira de
Lula.
Omitiu documentos, alterou textos nos autos do processo, invalidou
depoimentos... Fez o que os bandidos fazem nos morros cariocas, ao justiçarem
os das facções rivais.
Atingiu a tudo e a todos, aos mais próximos de Lula, sem conseguir sequer
indícios que incriminassem o presidente.
Para mais dessesperar o fascismo pátrio, Lula fez a sua sucessora, o bastante
para tornar-se dono da Friboi, da Esalq, uma universidade pública, de mega
empresas e latifúndios espalhados por todo esse país, com os filhos
proprietários de jatinhos, iates, mansões... Só existentes na mídia, nas
passeatas financiadas no exterior e nas cabeças de inocentes úteis e
assalariados da infâmia.
Foi pouco, a dimensão de Lula sobrepôs-se, e veio a Lava Jato, e todo o
bilionário patrimônio da família Lula da Silva reduziu-se a um modesto sítio e
um apartamento, triplex, em uma praia.
Sérgio Fernando Moro, um arremedo de Joaquim Barbosa piorado, porque de
primeira instância e não ministro do STF, como se supõe, com muito menos
inteligência e escrúpulos, reteve documentos, desqualificou testemunhas chave,
direcionou depoimentos, fez alardes midiáticos, com prestimosa ajuda da banda
fétida, deteriorada, corrompida, do Ministério público, e o máximo que
conseguiram foi “convicções”, alguma coisa ligada às religiões, às crendices,
menos à inteligência e à jurisprudência.
Impossibilitados de imputar culpas em território nacional, a Lula, a Polícia
Federal e os serviços de inteligência norte-americanos e suíços debruçaram-se
sobre o submundo da corrupção e da roubalheira internacionais, em busca de
contas secretas de Lula, de empresas fantasmas, de Lula, em paraísos fiscais, e
quanto mais vasculharam mais esterco dos seus encontraram, e de Lula, nada.
Por fim, chegaram na Odebrecht, quartel general da corrupção, segundo a
nazijustiça brasileira, e nas planilhas, dossiês e borderôs toda a direita
brasileira, todos os golpistas brasileiros, todos os norte-americanos
casualmente nascidos no Brasil figurando como beneficiários de roubos, a
começar pelo atual e ilegítimo presidente, passando por boa parte dos seus
ministros, arrastando boa parte do Legislativo e até coroadas cabeças do
judiciário, mas sobre Lula... Que torce para o Corinthians.
Das onze testemunhas de acusação, das falcatruas, desmandos e opróbrios
cometidos por Lula, onze depoimentos inocentando-o, “não sei, excelência”, “não
tive conhecimento, excelência”, “não acredito, excelência”... Com a excelência,
funcionária dos serviços de inteligência norte-americanos, nadando nas pedras.
Esgotado todo o repertório, um insígne e desconhecido deputado apresentou uma
PEC alterando a Constituição, impedindo que a Presidência da República seja
exercida por uma mesma pessoa por mais de duas vezes, consecutivas ou não, lei
que apropriadamente já está sendo chamada de “Barra Lula”, e para qualquer um
que tenha pelo menos resquícios de miúda e limitada inteligência está tudo
muito claro: “usando as leis, burlando as leis, adaptando as leis não conseguimos
acabar com o cara. É preciso criarmos leis novas, destinadas exclusivamente a
acabar com ele”.
Tudo isto seria maravilhoso numa peça de ficção, num romance ou filme de
perseguição implacável, com todas as nuances da sordidez de que é capaz a maldade
humana, mas aconteceu e está acontecendo na vida real, com um senhor, já idoso,
com netos, um ser humano como eu e você.
Lula não tem paz, imagino que já não consiga dormir direito, com ideia única,
atormentando-o: defender-se, pois sabe que esta famigerada PEC Barra Lula é a
penúltima tentativa de neutralizá-lo.
A última poderá ser um tiro.
Francisco Costa
Rio, 09/01/2017.
Rio, 09/01/2017.
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Fonte: https://www.facebook.com/
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