DOMINGO22 JANEIRO 2017
Globo atropela luto e lança Moro como candidato ao STF na
vaga de Teori
Por Bajonas Teixeira, colunista do Cafezinho
O corpo ainda nem esfriou, e a Globo já colocou na rua uma campanha pró-Moro no STF para
a vaga deixada por Teori Zavascki.
Essa precipitação quase profanatória, visto
que mal se deram as homenagens póstumas ao ministro do STF recém falecido, é
uma ótima notícia para o governo Temer.
Como a decisão cabe ao presidente da república, para
conseguir a nomeação a Globo terá que arrefecer o bombardeio com que cerca o
governo Temer nos últimos meses.
Para quem não lembra, em meados de outubro a
mídia, em especial a Globo, colocou no centro da cena oito nomes do PMDB, incluindo líderes, dirigentes e
ministros de Temer (Picciani, Geddel, Moreira, Jucá, Cabral, Cunha, Sarney e
Lobão). De lá para cá, a pressão só fez crescer.
Agora caberá a Temer nomear o novo ministro do STF. E se a
Globo quer emplacar Sérgio Moro na cadeira de Teori, será preciso negociar uma
trégua com Temer e pegar leve nas críticas e, sobretudo, na divulgação de
notícias negativas (Leia-se: denúncias, inquéritos, suspeitas, acusações)
contra o presidente golpista.
Na manchete estampada no G1, a empresa procura vender a
candidatura do juiz da Lava Jato como iniciativa do Judiciário. É o que diz o
título: Juízes federais defendem nomeação de Moro para vaga de Teori no
STF.
Segundo a matéria papa-defunto, “Um dia depois da morte do
ministro Teori Zavascki em um acidente aéreo, uma corrente de juízes federais
já defende que o presidente Michel Temer indique o juiz Sérgio Moro –
responsável pela Lava Jato na primeira instância – para a vaga aberta no
Supremo Tribunal Federal (STF)”.
Mas é fácil constatar que isso é uma farsa. Na verdade quem,
“um dia depois da morte” de Teori defende a nomeação de Moro é a própria Globo.
O primeiro indício, é que faltam instituições
representativas do Judiciário defendendo o nome de Moro.
Das direções atuais da
Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Associação dos Magistrados
do Trabalho (Anamatra) e da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe),
só o presidente desta última, Roberto Veloso, foi ouvido e não se posicionou
positivamente em favor de Moro, mas desconversou.
Segundo ele
“O momento ainda é de muita consternação, muita dor e muito
sentimento. Porque o ministro Teori era muito ligado à Justiça Federal. Foi
desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (que atende RS, PR e
SC), foi ministro do Superior Tribunal de Justiça, depois foi para o Supremo.
Tudo isso, para nós um choque muito grande”.
O juiz Fausto De Sanctis, também ouvido, deu opinião
negativa, ainda que ressaltando os méritos do agraciado da Globo: “Se por um
lado é um juiz merecedor, por outro, talvez não seja a melhor resposta à Lava
Jato”, afirmou.
O motivo do descarte está em que, tendo Moro atuado como
juiz de primeira instância na Lava Jato, teria inúmeras limitações para lidar
com o processo na instância superior, o STF. Por isso, De Sanctis avalia que
ele seria mais útil em Curitiba.
Mas a Globo permeia a matéria com palpites dados
por juristas anônimos (“Há quem interprete”) que indicam fórmulas, ou
gambiarras jurídicas, que ‘solucionariam’ a situação.
O único ouvido que defendeu abertamente o nome de Moro, e
que a matéria diz ser próximo a ele, foi o ex-presidente da Associação dos
Juízes Federais do Paraná (Apajufe) Anderson Furlan:
“Não existe outra pessoa no Brasil que conheça mais a Lava
Jato que o Moro.
O Teori talvez fosse a segunda pessoa no país que mais
conhecesse. Para levar adiante, a pessoa precisa ter muito conhecimento. Se for
nomeado agora uma pessoa não familiarizada, teria que estudar os milhares de
volumes, conhecer os milhares de provas, ler os milhares de testemunhos”.
A conversa tem forma e tom de vendedor de carros usados, ou
coisa pior. Dificilmente pode-se tomar como uma opinião fundada capaz de
inspirar credibilidade por si mesma.
E, por falar em tentativa de dar credibilidade, como se vê
pela imagem que extraímos da home do G1, a manchete aparece sublinhada com
palavras do ministro Marco Aurélio de Mello que diz apenas “é bom nome para o
futuro”. Quem esperou esclarecer essa frase enigmática (que futuro? Daqui a um
mês ou daqui a dez anos?) com a leitura da matéria, perdeu a viagem. No corpo
do artigo sequer Marco Aurélio volta a ser citado.
Embuste completo. A Globo quer que Moro seja o “seu” juiz no
STF. Vivêssemos num país sério essa matéria, que hoje talvez passe o dia
inteiro pendurada na home do G1, e que será reproduzida em centenas ou milhares
de sites no país, não seria jamais veiculada. O temor de ser tomada como uma
farsa para influenciar a opinião pública recomendaria mais cautela.
Mas no Brasil, em que a mídia derruba uma presidente eleita
e joga o país no caos, é possível que surta todos os efeitos esperados por seus
autores e que, na próxima semana, as três associações de juízes citadas – AMB,
Anamatra e Ajufe – obedecendo aos ditames da Globo, descubram que sempre
defenderam Moro para o STF.
Ontem, no velório de Teori, ao começar sua entrevista, Moro
não conseguiu disfarçar o alvoroço sentimental por ter seu nome cogitado para o
STF.
No seu rosto, como se
viu em vídeo, os flashs das fotos se cruzavam com lampejos explícitos de
vaidade, temperados com gaguejos de serviçal e humilíssima modéstia.
Vamos
acompanhar a evolução da farsa na próxima semana.
Fonte : http://www.ocafezinho.com/
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