Recessão de Temer deixa formandos sem emprego
Por Brasil 247 05/01/2017
O governo federal investiu bilhões de reais nos últimos anos
em ensino superior privado, mas a crise que atinge o país e deficiências
históricas na formação básica dos alunos ameaçam deixar os estudantes sem
alternativas em suas áreas de escolha
5 DE JANEIRO DE 2017 ÀS 18:40
Por Gabriela Mello
SÃO PAULO (Reuters) - O governo federal investiu
bilhões de reais nos últimos anos em ensino superior privado, mas a crise que
atinge o país e deficiências históricas na formação básica dos alunos, bem como
nas grades curriculares de instituições particulares, ameaçam deixar os
estudantes sem alternativas em suas áreas de escolha.
Um dos principais instrumentos da política governamental de
acesso à educação superior, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) recebeu
aporte de 14,09 bilhões de reais em 2015, uma verba 16 vezes maior que a de 880
milhões de reais alocada para 2010.
Mas esses e outros esforços vêm esbarrando
no descompasso cada vez maior entre as taxas de matrículas e concluintes.
De 2010 para 2015, o número de matriculados no ensino
superior do país subiu pouco mais de 47 por cento, já o de concluintes
divergiu, crescendo cerca de 38 por cento, conforme dados do Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
Cálculos da Associação Brasileira das Mantenedoras do Ensino
Superior (Abmes) com base nos números mais recentes disponibilizados pelo
governo federal indicam que apenas 42 por cento daqueles que se matricularam em
2012 concluíram os cursos em 2015.
O percentual é inferior ao de 44 por cento
observado entre 2010 e 2013, período em que a economia brasileira estava em
expansão e o país contava com uma situação de pleno emprego.
E essa realidade tende a persistir neste ano, à medida que
os indicadores de trabalho do país seguem deteriorados. Ao final do trimestre
encerrado em novembro, a taxa de desemprego no Brasil atingiu 11,9 por cento,
com um recorde de 12,1 milhões de pessoas desocupadas.
Num ambiente em que a disputa por vagas de trabalho entre os
egressos do ensino superior se acirra, o critério de seleção baseado na
reputação da instituição de ensino frequentada pelos estudantes tende a ganhar
peso.
Segundo John Mackenzie, executivo de marketing da empresa de
gestão em Recursos Humanos ADP na América Latina, a formação em instituição de
renome ainda é vista como diferencial dependendo da vaga disputada. "Quem
faz faculdade de primeira linha já larga na frente", disse, destacando
principalmente as carreiras na área de finanças.
Danielle Cobesseira, 23 anos, que cursou Publicidade e
Propaganda em uma universidade particular na cidade de São Paulo, diz ter
sentido dificuldade para conseguir estágio na área de formação. "Chegaram
a me perguntar em entrevista por que não fiz outra faculdade", disse. A
publicitária conta que agora pretende fazer uma pós-graduação em uma
instituição de renome em sua área.
"Existe ilusão de que ensino superior dá garantia de
emprego, mas isso não vale para todos", disse o ex-ministro de Educação
Renato Janini Ribeiro, também professor de Filosofia da Universidade de São
Paulo (USP).
"Tem um número significativo de alunos que entra no ensino
superior com formação insuficiente e a faculdade não dá conta de superar",
ressaltou.
De acordo com o diretor-executivo da Abmes, Sólon Caldas,
aqueles sem condições de pagar mensalidade raramente conseguem entrar em
universidades públicas renomadas devido à formação insuficiente no ensino médio
e ao número restrito de vagas destas instituições.
"O governo precisa tomar medidas drásticas e urgentes.
A primeira é corrigir a distorção do ensino básico e criar política eficiente
de financiamento do ensino superior", afirmou Caldas.
Em setembro, o governo federal apresentou um plano de
reformulação do ensino médio do país, com uma nova proposta curricular que vem
sofrendo críticas, incluindo a falta de debate com a sociedade e temores de que
poderá acirrar a desigualdade.
Os problemas na formação dos alunos que apostam no ensino
superior para alavancar a carreira profissional abrangem ainda deficiências nos
currículos dos próprios cursos de graduação em que conseguem se matricular.
A consultora de negócios Cláudia de Oliveira Mangueira, 38
anos, que estudou tecnologia de banco de dados em outra faculdade privada na
capital paulista, diz que algumas disciplinas sequer tinham relevância. "O
curso não se aprofundou em certos assuntos e perdeu tempo com tecnologia que
nem se usava mais na época",
lembrou.
"DIRECIONAR SUBSÍDIOS E ESFORÇOS"
O presidente da consultoria Hoper, William Klein, avalia que
ainda é preciso promover um diálogo maior entre as instituições de educação
superior e o setor produtivo.
Segundo ele, a grade curricular adotada pelas
universidades nem sempre atende às necessidades do mercado de trabalho, o que
pode limitar as chances de empregabilidade. "O setor produtivo às vezes
requer um profissional com uma formação que não é dada no ensino
superior", afirmou.
Caldas, da Abmes, reconhece que a formação teórica às vezes
fica aquém das demandas do empregador, mas lembra que a atualização curricular
não depende unicamente das instituições de ensino superior.
"Formar
mão-de-obra mais próxima do que o setor produtivo exige é complicado porque o
mercado é dinâmico, as mudanças ocorrem a toda hora, o que não acontece com as
diretrizes do Ministério (da Educação)", disse.
Para o professor da cátedra Instituto Unibanco Insper,
voltada a pesquisas sobre o ensino médio, Sérgio Firpo, cabe ao governo federal
desenvolver, com a ajuda do setor privado, uma estratégia compatível com as
exigências reais do mercado de trabalho, e não simplesmente destinada ao
preenchimento de vagas em universidades. "Falta direcionar subsídios e
esforços para carreiras com potencial de gerar retorno social mais
imediato", disse Firpo.
Em 2015, os cursos presenciais privados com mais matrículas
foram Direito (15,9 por cento), Administração (10,5 por cento) e Engenharia
Civil (6,3 por cento), de acordo com a Hoper.
Em termos de empregabilidade,
contudo, Direito é o que menos se destaca, uma vez que requer aprovação no
Exame da Ordem dos Advogados (OAB) para exercício da profissão, lembrou o
ex-ministro Janini Ribeiro. "Só 10 por cento dos egressos passam na
primeira tentativa, então um número grande desses alunos depois não vai
trabalhar na área", completou.
No caso de cursos de Engenharia, por exemplo, 39 por cento
dos concluintes ocupavam posições com carteira assinada, 32 por cento
trabalhavam em estágios ou como freelancer e 29 por cento estavam
desempregados, segundo pesquisa mais recente da Abmes baseada em dados do Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) relativos a 2014.
No ano passado, o Ministério da Educação alocou 70 por cento
das vagas do Fies para áreas prioritárias, sendo 45 por cento para Saúde, 35
por cento para Engenharia e 20 por cento para Pedagogia.
O setor agora aguarda por detalhes sobre o chamado
"Fies Turbo", que teria como objetivo fornecer pelo menos 220 mil
vagas em 2017. A formatação das novas regras divide opiniões em meio aos
esforços do governo federal para contenção de gastos públicos.
Mas, com ou sem uma faculdade de peso no currículo, repensar
a estratégia de colocação no mercado de trabalho pode ser decisivo.
"É
verdade que os egressos podem acabar ganhando menos que os que entraram no
mercado quando a economia estava bem, mas talvez seja o momento para investir
num curso de extensão e garantir um melhor lugar na fila quando as empresas
voltarem a contratar", disse Firpo, do Insper.
Fonte: http://www.brasil247.com/
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