terça-feira, 2 de maio de 2017

Projeto que oficializa escravidão no campo é de deputado do PSDB, já preso por corrupção e já elogiado por Moro

Projeto que oficializa escravidão no campo é de deputado do PSDB, já preso por corrupção e já elogiado por Moro
02/05/2017

Trabalhadores do campo iniciaram a semana com uma notícia preocupante. Segundo o Valor, a Câmara dos Deputados, com apoio do governo e da bancada ruralista, vai priorizar a aprovação do projeto de lei do deputado Nilson Leitão (PSDB/MT), que afasta a CLT e a proteção judicial dos trabalhadores do campo e permite até pagamento do salário com comida e moradia.

Nilson Leitão, que é presidente da bancada ruralista, disse que chega de tratar o trabalhador com um “coitadinho”. A proposta permite que as empresas não paguem mais seus funcionários com salário, mas mediante “remuneração de qualquer espécie” ­ o que pode ser simplesmente fornecer moradia e alimentação. 

O trabalhador do campo será submetido até 12 horas de trabalho e serão compelidos até a venderem suas férias.

Segundo o deputado Beto Faro (PT/PA): “É uma proposta mais perversa que a própria reforma trabalhista”. Entidades de defesa dos trabalhadores rurais, Contag e Contar afirmam, em nota técnica que será distribuída aos parlamentares, que o projeto “fere de morte normas constitucionais e infraconstitucionais relativas à saúde e segurança”.

O projeto também revoga a norma do Ministério do Trabalho sobre as regras de segurança e saúde no campo (NR­31) e define, na opinião dos contrários à proposta, regras genéricas e que retrocedem à atual regulamentação. Acabam, por exemplo, com a obrigação de que a empresa mantenha equipamentos de primeiros socorros no local e com o exame demissional. 

Também deixa exclusivamente com o Ministério da Agricultura a fixação de regras sobre a manipulação de agrotóxicos, excluindo os Ministérios da Saúde e do Trabalho, acaba com a obrigação de descontaminar os equipamentos de segurança ao fim de cada jornada e permite que maiores de 60 anos utilizem os chamados defensivos agrícolas. 

O texto ainda autoriza que, sempre que a jornada normal for interrompida por “motivo de força maior ou resultante de causas acidentais” ­ com uma máquina quebrada­, o trabalhador poderá ser obrigado a trabalhar até quatro horas a mais para “recuperação do tempo perdido”.

A jornada também poderá ser ampliada para até 12 horas diárias, mesmo sem interrupção, por “motivo de força maior, causas acidentais ou ainda para atender a realização ou conclusão de serviços inadiáveis”. 

O trabalho aos domingos e feriados, hoje limitado por portaria do Ministério do Trabalho a laudos técnicos que indiquem a necessidade de execução de serviços nesses dias, também estará liberado.

A empresa também só terá que disponibilizar infraestrutura adequada nas chamadas frentes de trabalho (áreas de trabalho móveis e temporárias), como banheiro e espaço para alimentação, quando atuarem mais de 20 empregados. Segundo ruralistas, hoje a Justiça trabalhista chega a exigir esse suporte até quando há apenas um funcionário deslocado.

Nilson Leitão é conhecido como um dos principais porta-vozes dos ruralistas no Congresso. No ano passado, foi um dos autores do pedido de criação da CPI da Funai, comissão que relatou. Também foi o presidente da comissão especial que aprovou a proposta de emenda à Constituição (PEC 215) que transfere, do Executivo para o Legislativo, a palavra final sobre o reconhecimento das terras indígenas.

Conforme reportagem da Pública, Nilson angariou R$ 1,43 milhão do setor agropecuário dos R$ 2,46 milhões investidos na campanha.

O deputado é investigado no STF por suspeita de envolvimento com outra quadrilha, acusada de invadir reiteradamente a terra indígena Marãiwatsédé, em Mato Grosso. 

Em setembro, 13 pessoas do grupo foram denunciadas pelo Ministério Público Federal do estado pelos crimes de invasão de terras públicas, resistência, associação criminosa, incêndio, roubo, corrupção ativa, incitação ao crime e crime de dano. 

“É terceiro falando pro quarto sobre um quinto”, diz Nilson Leitão, sobre as escutas telefônicas nas quais integrantes do grupo afirmam haver um pedido do deputado por 30 lotes da invasão. “Eu nunca fui lá, nunca pisei lá. Aliás, fui numa comissão externa da Câmara, com outros deputados, ficamos duas horas em cima de um caminhão e voltamos.”

Em 1995, finalmente o Estado brasileiro tinha reconhecido a ocorrência de trabalho escravo. O Brasil estava numa crescente evolução e solidificação dos mecanismos de combate ao trabalho escravo, apesar do trabalho escravo ainda se mostrar como prática recorrente na realidade brasileira. 

Esse projeto trará um retrocesso muito perigoso para os trabalhadores do campo.

                 Moro elogiando o deputado Nilson Leitão:

Leia a reportagem do Valor



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