O
que foi mais repulsivo na fala de Cunha: o choro, o vitimismo ou as menções a
Deus? Por Paulo Nogueira
Postado em 07 Jul 2016 por : Paulo Nogueira
Tem que ser preso
Não há razões para comemorar a renúncia de Eduardo Cunha.
Ele tinha que estar preso há muito tempo.
Ele é um insulto a todos nós. Sua liberdade nos diminui e
nos humilha, tais e tantos seus crimes.
A carta de renúncia é uma infâmia. Eduardo Cunha, como
psicopata que é, consegue se apresentar como vítima, vítima da perseguição dos
homens maus que não o perdoaram por ter aberto o processo de afastamento de
Dilma.
Ora, ora, ora.
Parece até que ele é São Francisco de Assis, e não o caso
mais espetacular de corrupção comprovada que já apareceu na história política
nacional. Perto de Cunha, Maluf virou um mirim.
Eduardo Cunha fez da Câmara dos Deputados um instrumento vil
para a multiplicação de sua riqueza. Ao chegar à presidência da Câmara, sob o
apoio entusiamado do PSDB e da mídia, ele já era um câncer parlamentar. Com
mais poder, virou uma metástase.
Os depoimentos dos delatores são estarrecedores. Cunha,
através de seus paus mandados, fazia ameaças para que não o citassem. Um
delator contou que ameaçaram queimar sua casa com a família dentro.
Nada teria ocorrido a ele, a despeito de seus crimes, se não
fossem os suíços. Se dependêssemos de Moro e da Lava Jato, seríamos obrigados a
aturar Cunha até que a natureza se incumbisse de levá-lo para o túmulo.
As autoridades suíças entregaram de bandeja às brasileiras
documentos que provam as contas milionárias que Cunha escondia no exterior.
Mesmo diante de evidências esmagadoras, ele continuou a
negar as contas. Era como se ele dissesse a um bando de imbecis: “Vocês vão
acreditar naqueles suíços ou em mim?”
Ele voltou a protestar inocência em sua renúncia. Como
poderia mentir e dizer não ter contas fora numa CPI convocada por ele mesmo? —
perguntou. Ora, como se isso fosse um obstáculo para ele pronunciar mais uma de
suas inumeráveis mentiras. Ele contou sempre, em sua carreira de gangster, com
a certeza da impunidade. Confiava que podia falar — e fazer — qualquer coisa
sem enfrentar as consequências.
Dominava tudo e todos.
É difícil dizer o que foi mais repulsivo em seu
pronunciamento de renúncia. As lágrimas? As menções a Deus? A afirmação de que
sua mulher está sendo perseguida por causa dele?
Estamos falando de Claudia Cruz, em cuja conta bancária foi
descoberto, conforme se soube há poucos dias, um depósito de 590 mil reais de
uma empresa que financiou seu marido e foi por ele favorecida.
Claudiz Cruz, como seu marido, estava tão certa da
impunidade eterna que não escondia a vida de fausto que levava, brutalmente
incompatível com aquilo que o salário de um deputado permitiria. Selfies suas
postadas no Facebook viralizaram como imagens da existência de rainha que ela
levava.
O final da história de Cunha não será satisfatório se ele
não terminar na cadeia.
A renúncia, embora de alto poder simbólico, é muito pouco
para quem fez o que ele fez.
Repito: a liberdade de Eduardo Cunha vai nos ofender a todos
enquanto ela perdurar.
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