Deputados americanos assinam carta contra impeachment de
Dilma
Notícias ao Minuto Folhapress 9 horas atrás
23/07/2016
Fornecido por Notícias ao Minuto
"Escrevemos para expressar nossa profunda preocupação
com acontecimentos recentes no Brasil, que acreditamos ameaçar as instituições
democráticas daquele país." Assim começa uma carta que circula no
Congresso dos Estados Unidos contra o impeachment da presidente Dilma
Rousseff. Endereçada ao secretário de Estado americano, John Kerry, o documento pede
que ele tenha a "máxima cautela" nos contatos com o governo interino
de Michel Temer e evite ações e declarações de apoio ao impeachment de Dilma.
A carta é iniciativa de três deputados do Partido Democrata
e tem o apoio de mais de 20 organizações, entre elas a poderosa central
sindical AFL-CIO, que tem mais de 12 milhões de membros. Até esta sexta (22),
ela contava com a assinatura de 37 deputados (dos 435), incluindo nomes
influentes, como John Lewis, ícone do movimento pelos direitos civis nos EUA dos
anos 60.
"Nosso governo deveria expressar forte preocupação em
relação às circunstâncias em torno do processo de impeachment e fazer um
chamado à proteção da democracia constitucional no Brasil e do Estado de
direito no Brasil", diz o texto, ressaltando que "não é um julgamento
legal, mas político", que será decidido por um Senado "eivado de
corrupção".
É a segunda iniciativa recente contra o impeachment na
Câmara dos Deputados dos EUA. No dia 13 deste mês, o deputado democrata Alan
Greyson havia feito um discurso em tom parecido no plenário, em que chamou o
governo de Temer de antidemocrático por adotar medidas que não foram aprovadas
nas urnas. A carta, no entanto, vai além, ao questionar diretamente o
impeachment.
Em um dos trechos, o documento lembra as gravações
divulgadas pela Folha em maio, nas quais o ex-ministro do Planejamento, senador
Romero Jucá (PMDB-RR), sugeria ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado
que uma "mudança" no governo permitiria "estancar a
sangria" representada pela Operação Lava Jato, que investiga ambos."O
senhor Jucá foi demitido depois que o maior jornal do Brasil, Folha de Sao
Paulo (sic), revelou uma conversa gravada dele tramando o impeachment da
presidente Dilma Rousseff para instalar Temer em seu lugar como forma de parar
uma enorme investigação de corrupção", lembra.
"Para piorar, muitos dos políticos que apoiam o
processo de impeachment são acusados de crimes graves, como corrupção, desvios
e até tentativa de homicídio. Isso inclui o senhor Temer, que foi considerado
culpado de violações no financiamento de campanha e está vetado de se
candidatar a qualquer cargo político".O documento foi redigido num formato
conhecido no Congresso como "Caros colegas", em que uma
correspondência oficial é enviada a todos os membros da Câmara para defender
uma posição ou um projeto de lei.
Segundo o escritório do deputado John Conyers Jr., um dos
líderes da iniciativa, o número de signatários é considerado "extremamente
bom", sobretudo diante do fato de o Congresso estar em recesso. Acrescentou
que há muito tempo não havia uma carta semelhante sobre o Brasil na Câmara dos
Deputados americana.
Os argumentos do impeachment, afirma o abaixo-assinado, não
são baseados em acusações de corrupção e Dilma jamais foi "formalmente
indiciada" por esse crime. Acresenta que as pedaladas fiscais que serviram
de base para o impeachment, são "uma prática amplamente usada em todos os
níveis do governo brasileiro, incluindo seus dois antecessores".
Os signatários também são críticos em relação ao comportamento
do governo do presidente Barack Obama, que "em vez de mostrar preocupação
com esses acontecimentos perturbadores", enviou sinais que "poderiam
ser interpretados como de apoio à campanha do impeachment".
Como exemplo, lembram o encontro do senador Aloyisio Nunes
(PSDB-SP) em Washington com o subsecretário de Estado para Assuntos Políticos,
Thomas Shannon, dois dias após a aprovação do impeachment na Câmara dos
Deputados.
Embora a Casa Branca tenha afirmado que não havia planos de
o presidente Obama telefonar para Temer após sua posse como interino, o
Departamento de Estado, chefiado por John Kerry, expressou confiança nas
instituições brasileiras. Além disso, embaixador americano na OEA (Organização
dos Estados Americanos) afirmou que o país não vê o impeachment como golpe.
"Estamos consternados em observar que até agora o
Departamento de Estado limitou-se a expressar confiança no processo democrático
no Brasil, sem notar algumas das óbvias preocupações em relação ao processo de
impeachment e as ações tomadas pelo governo interino", afirma. Com
informações da Folhapress.
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