16/07/2016 08:30
Para ministro da Saúde, pacientes imaginam doenças
Ricardo Barros: "A maioria das pessoas chega ao posto
de saúde ou ao atendimento primário com efeitos psicossomáticos"
Fabiana Cambricoli, doEstadão
Conteúdo
São Paulo - O ministro da Saúde, Ricardo
Barros, disse nesta sexta-feira (15) que a maioria dos pacientes que procuram
atendimento em unidades de atenção básica da rede pública apenas
"imagina" estar doente, mas não está.
De acordo com o ministro, é "cultura do
brasileiro" só achar que foi bem atendido quando passa por exames ou
recebe prescrição de medicamentos e esse suposto "hábito" estaria
levando a gastos desnecessários no Sistema Único de Saúde (SUS). Entidades médicas
criticaram a fala de Barros.
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"A maioria das pessoas chega ao posto de saúde ou ao
atendimento primário com efeitos psicossomáticos. Por que 50% dos exames
laboratoriais não são retirados pelos interessados? Por que 80% dão resultado
normal? Porque foram pedidos sem necessidade", disse o ministro, na manhã
de ontem (15), em evento na sede da Associação Médica Brasileira (AMB), em São
Paulo.
Barros disse que a população costuma associar uma boa
consulta à solicitação de exames e defendeu que os médicos ajudem a mudar esse
pensamento. "Se (o paciente) não sair ou com receita ou com pedido de
exame, ele acha que não foi consultado. Isso é uma cultura do povo, mas acho
que todos nós temos de ajudar a mudar, porque isso não é compatível com
os recursos que temos", declarou.
"Não temos dinheiro para ficar fazendo exames e dando
medicamentos que não são necessários só para satisfazer as pessoas, para elas
acharem que saíram bem atendidas do postinho de saúde."
O ministro defendeu que os médicos façam uma investigação
mais criteriosa do paciente, antes de solicitar exames ou prescrever remédios.
"O médico tem de apalpar o cliente, fazer anamnese, tem de conversar com a
pessoa", afirmou.
Críticas
Representantes de entidades médicas discordaram da afirmação
de Barros de que a maioria da população procura postos de saúde sem estar, de
fato, doente.
"De maneira geral, qualquer unidade de saúde terá 70%
dos exames com resultado normal. Isso acontece porque o paciente não é bem
examinado, não é bem interrogado, e são solicitados os exames errados. Ou
então, na rede pública, o exame demora tanto para ficar pronto que, até lá, o
paciente já sarou e não vai retirar o resultado", diz Antonio Carlos Lopes,
presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.
Ele afirma que a solicitação de exames desnecessários está
relacionada a falhas na formação ou na postura do médico. "O paciente não
tem culpa nisso. A maioria tem queixa real, que não é devidamente valorizada
pelo médico", afirmou.
Presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino
Cardoso afirmou que o paciente nem tem o poder de escolher se quer fazer exames
ou tomar remédios e é preciso avaliar melhor os dados informados pelo ministro
antes de qualquer conclusão.
"O julgamento do que o doente precisa é médico. Às
vezes está lá que o doente não foi pegar (o resultado do exame), mas o doente
ou o médico viram na internet. Precisamos saber quais lugares têm essa
população de pacientes atendidos com exames normais ou que não foram buscá-lo.
Porque, senão, fica algo jogado no ar." As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo
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