Classe média dos Estados Unidos cai a níveis de 30 anos
atrás
Antonio Maqueda3 horas atrás
PAUL J. RICHARDS A diretora-gerente do FMI,
Christine Lagarde.
O Fundo Monetário Internacional continua com seu
trabalho de Grilo Falante dos assuntos econômicos. E agora é a vez dos Estados
Unidos e da França. Sobre a economia norte-americana, o Fundo alerta
sobre “perniciosas tendências seculares na distribuição da renda”: a classe
média caiu a níveis de três décadas atrás e a pobreza aumentou. Sobre a França,
a instituição lembra que o país possui índices altos de desemprego de longa
duração, apresenta baixas perspectivas de crescimento e uma dívida sobre o PIB
que continua aumentando.
Não é de estranhar que o presidente dos Estados Unidos, Barack
Obama, admitisse em sua passagem pela Espanha que a desigualdade alimenta o
populismo. Em seu relatório sobre a economia norte-americana, o FMI enumera um
panorama desolador nesse aspecto: a pobreza continua aumentando, a classe média
encolheu a níveis da década de oitenta, a distribuição da renda e da riqueza se
encontra altamente polarizada, e a porcentagem de rendimentos do fator trabalho
é 5% mais baixa do que há quinze anos. “Todos os avanços conseguidos para
reduzir a pobreza desde os anos 90 se diluíram”, afirma.
Como se não bastasse, um em cada sete americanos vive em
condições de pobreza e 40% dos pobres está trabalhando. “Se não forem
interrompidas, essas forças continuarão derrubando o crescimento atual e
potencial, diminuindo os ganhos em padrão de vida e aumentando a pobreza”,
conclui o documento elaborado pelos homens de preto.
Diante da evidência, os diretores do Fundo pedem que os EUA
adotem medidas para expandir os créditos fiscais destinados a moradias sociais,
elevar o salário mínimo, estender os pagamentos por cuidar de familiares,
investir em educação e reformar o imposto Social.
E não é só isso. O FMI alerta também de perigos no horizonte
como um dólar em alta e a aversão ao risco dos investidores. Mas também sobre a
possibilidade de que a economia norte-americana experimente um crescimento
potencial mais baixo do que o esperado em um contexto de produtividade escassa
e maior envelhecimento demográfico: “Se for verdade, isso significaria que a
economia norte-americana logo pode sofrer limitações em seu crescimento que
podem causar pressões inflacionistas com efeitos globais negativos”, frisa o
Fundo. De modo que é preciso elevar o gasto em infraestrutura, investir mais em
formação e educação de conhecimentos técnicos, reformar o sistema de saúde e de
aposentadorias e aprovar uma reforma da imigração baseada nas capacidades. Em
semelhante cenário, o Fundo pede ao Federal Reserve (Fed) que seja precavido e
mantenha a todo o momento uma comunicação clara sobre o procedimento do aumento
das taxas de juros.
Em relação à França, o órgão liderado por Christine Lagarde
vê de forma positiva a reforma trabalhista francesa, que flexibiliza as
relações de trabalho, ainda que seja aplicada em versão suave. Mas pede muito
mais. Algo que se entende à luz das perspectivas de crescimentos retraídos que
o FMI prevê para a economia francesa.
Por um lado, considera que é preciso adotar várias outras
medidas para facilitar a criação de emprego. E por outro, critica que os
esforços estruturais para baixar o déficit sejam próximos a zero: “Esforços
mais ambiciosos para manter o gasto governamental plano em termos reais
ajudariam a alcançar os objetivos fiscais a médio prazo e rebaixar de forma
duradoura a dívida pública”.
AS RAZÕES DA DESIGUALDADE
A partir da década de 70, os rendimentos reais dos lares
norte-americanos de classe média deixaram de subir, enquanto os das classes
mais ricas tiveram uma aceleração a partir dos anos 90, explica o FMI. E essa
tendência trouxe índices de consumo menores nos últimos 15 anos. De acordo com
os especialistas do órgão, as razões são diversas e numerosas: a polarização do
mercado de trabalho entre formados e não formados, a mudança de local de
empresas responsáveis por muitas vagas de emprego, a concorrência salarial do
exterior e uma queda progressiva do sistema fiscal, entre muitas outras.
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