NA EUROPA: Temer não pode buscar popularidade com obra
alheia, diz Dilma
11 de março de 2017

A miniturnê europeia da ex-presidente Dilma Rousseff adotou
um tom de campanha eleitoral. Em Genebra, convidada para participar do Festival
Internacional de Filmes de Direitos Humanos neste sábado (11), Dilma defendeu o
legado do PT no poder, apresentou um “pot-pourri” dos principais programas do
seu governo e também creditou a paternidade da transposição do rio São
Francisco -cuja obra do trecho leste foi inaugurada na sexta por Michel Temer-
ao ex-presidente Lula.
“Quem primeiro pensou nessa obra foi o imperador Pedro 2º.
Mas quem implementou isso foi o Lula”, disse Dilma aos jornalistas presentes no
evento.
Sem citar o nome de seu sucessor, a quem chamou de
“presidente ilegítimo”, Dilma afirmou que Temer não pode tentar melhorar sua
popularidade “em cima da obra alheia”.
“O presidente ilegítimo quer ter algum nível de interlocução
[com a população]. Ele tem todo o direito [de tentar melhorar a popularidade],
mas não pode ser em cima de obra alheia”, declarou Dilma.
Ainda segundo a ex-presidente, o governo atual representa
uma ameaça ao conjunto de políticas sociais implementadas durante o seu
mandato.
Ela também atribui a Temer a degradação do cenário econômico
brasileiro. ” Embora a imprensa diga que a situação econômica esteja
melhorando, tanto a crise econômica quanto a crise política se aprofundaram”,
afirmou.
“Havia uma versão pré-processo de impeachment que bastaria a
minha saída para um processo de melhora da economia. Mas as razões profundas da
crise econômica foram subestimadas”, afirmou.
Dilma citou fatores externos como “a queda mundial do preço
das commodities e o fim do ‘quantitative easing’ (afrouxamento monetário) nos
EUA”, como alguns dos responsáveis pela crise econômica no Brasil. Ela fez, no
entanto, um discreto “mea culpa” sobre sua política à frente do governo.
“Achei que, diminuindo impostos do setor privado, teria um
aumento dos investimentos. Me arrependo disso. Fragilizei o lado fiscal e, ao
invés de investirem, eles aumentaram a margem de lucros”, ponderou.
LULA
Diante do público do festival, Dilma transformou o palco do
debate de um painel sobre combate à fome em palanque eleitoral para a campanha
de Lula à presidência em 2018. “Nem eu nem o Lula teríamos feito o governo sem
o PT. O que tem dentro do PT nos inspirou.
O sonho do PT tem de ir além. Tem de
ir pro futuro. Temos que defender essas conquistas”.
Para a imprensa ela foi ainda mais enfática: “Assegurar que
Lula seja candidato [em 2018] é fundamental”.
Embora o tema central da sua palestra tenha sido o combate a
fome e a miséria, a ex-presidente teve que enfrentar várias questões relativas
a suspeitas de corrupção nos seus anos de governo.
Sem falar de acusações, a ex-presidente defendeu a Operação
Lava Jato: “No meu mandato, criei a lei de organizações criminosas que instituiu
a delação premiada e a punição ao corruptor”, afirmou.
“O sistema político
brasileiro vai ser investigado, mas nenhum partido apenas pode ser chamado de
corrupto.
Duvido que vão continuar dizendo que o PT é corrupto. Porque não
sobra ninguém nos outros”, argumentou.
Sobre delações que poderiam atingi-la diretamente, Dilma
reiterou: “Jamais pedi propina nem recebi propina”.
Quanto às recentes declarações do ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Gilmar
Mendes, que afirmou que doações em caixa dois podem não configurar corrupção,
Dilma foi irônica.
“Acho isso muito interessante. Passei toda uma campanha
eleitoral e nunca ouvi isso. Acho que uma coisa está mudando.
Não há como
deixar de chegar no PSDB.”Embora o papel de cabo eleitoral do ex-presidente
Lula tenha ficado explícito nessa passagem por Genebra, Dilma desconversou
sobre suas futuras ambições políticas.
“Até os 60 anos, fazia política sem ter
cargo eletivo.
Posso perfeitamente continuar fazendo política sem ter um cargo.
Não fui para prisão por ser parlamentar. Fui por ser militante.”
Além da participação no festival, a agenda de Dilma em
Genebra inclui encontros com parlamentares suíços e relatores de direitos
humanos, um reunião na sede da Organização Internacional do Trabalho e uma
palestra no Graduate Institute of Geneva, um centro de estudos de Ralações
Internacionais, para falar sobre o futuro da luta contra o neoliberalismo.
Na terça-feira (14), ela segue para Portugal. Com informações
da Folhapress.
Fonte: http://clickpolitica.com.br/
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