Escândalo da carne adulterada agita mercados e cria tensão
no Brasil
Postado em 21/03/2017 01:55
China, Chile e União Europeia (UE) fecharam nesta
segunda-feira, total ou parcialmente, seus mercados às carnes brasileiras, após
a revelação de suspeitas de produtos adulterados para o consumo humano em 21
frigoríficos.
As denúncias atingem em cheio a JBS e BRF, dois gigantes do
setor no país, primeiro exportador mundial de carne de boi e de frango, que
luta para sair de dois anos de recessão.
Também colocaram sob tensão a relação do Brasil com alguns
de seus sócios comerciais, começando pelo Chile, contra quem ameaçou
retaliações em caso de fechamento total do mercado.
"Esperamos que mais de 30 países questionem o Brasil
por este assunto", disse o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, em -coletiva de imprensa em Brasília.
Mas se todos impedirem a entrada das carnes, será "um
desastre" para o Brasil, admitiu.
Maggi destacou que os funcionários brasileiros estavam
explicando aos importadores que a denúncia da Polícia Federal sobre o comércio
de produtos vencidos ou em mal estado de conservação supostamente adulterados,
em alguns casos com ácido, está restrita "a 21 plantas", cujas
atividades de exportação já foram suspensas.
A investigação mostrou uma trama em que inspetores
sanitários teriam recebido propina dos frigoríficos para autorizar a venda de
alimentos sem condição de consumo. Mais de 30 pessoas foram detidas e três dos 21 frigoríficos
investigados estão fechados temporariamente.
O caso potencializou a crise de credibilidade vivida pelo
país desde a Operação Lava Jato.
A China - segundo comprador de carne de boi e de frango do
Brasil - freou a entrada deste produto, à espera de explicações sobre o caso.
"Até receber as informações, a China não desembarcará
as carnes importadas do Brasil", publicou o Ministério da Agricultura em
seu site.
"O escândalo da carne pode ser a última ameaça para a
recuperação do Brasil", resumiu a consultora Capital Economics em nota.
Advertência ao Chile
O Chile, sexto importador de carne vermelha brasileira,
decretou um bloqueio temporário.
"O Ministério da Agricultura do Chile declara, a partir
desta data, o fechamento temporário do mercado chileno a todo tipo de carne
proveniente do Brasil", informou a embaixada em Brasília, citando o
ministro da Agricultura, Carlos Furche.
Maggi advertiu que se o país não restringir o veto às 21
plantas investigadas, poderá haver "uma reação mais forte" do Brasil,
e assegurou que já obteve o aval do presidente Michel Temer."Nós somos grande importadores de produtos do Chile -
peixes, frutas - e os produtores brasileiros vivem reclamando que deveríamos
criar barreiras", acrescentou o ministro.
"O comércio é assim, não tem só bonzinho. Comércio tem
que ser feito na cotovelada e se eu tiver que ter uma reação mais forte com o
Chile eu terei".Furche reagiu às declarações de Maggi declarando que o Chile
não vai atuar "em função de ameaças".
"Para poder tomar decisões necessitamos de informações
e é o que estamos solicitando às autoridades do Brasil, porque nosso interesse
é normalizar o comércio, mas normalizar o comércio cuidando dos consumidores
chilenos".
Carne Fraca
A Coreia do Sul, que havia suspenso a distribuição de
frangos já importados para "verificar a qualidade da mercadoria",
cancelou a medida na manhã desta terça-feira, após verificar que as aves
procedentes do Brasil estão em bom estado.
A União Europeia (UE), por sua vez, pediu ao Brasil
"que elimine de imediato todos os estabelecimentos envolvidos no escândalo
da lista aprovada pela UE", disse o porta-voz da Comissão Europeia, Enrico
Brivio.
A investigação chamada "Carne Fraca" coincide com
os esforços para acelerar o acordo de livre-comércio entre o Mercosul
(Argentina, Brasil, -Paraguai e Uruguai) e a UE, que tem no setor alimentício
uma de suas maiores tensões.
O governo alegou que apenas 21 das 4.837 plantas que operam
no país estão sob suspeita e que somente seis realizaram exportações nos
últimos 60 dias.
Temer afirmou no domingo que "a maneira como se deu a
notícia pode ter criado uma preocupação muito grande" e convidou um grupo
diplomático para ir a uma churrascaria em Brasília.
As imagens do presidente comendo com entusiasmo pedaços de carne estamparam os jornais.
Competência
Com a economia em queda e o desemprego afetando 13 milhões
de brasileiros, uma crise na produção de carne é a última coisa que o país
necessita.
A indústria faturou mais de 13 bilhões de dólares em 2016 e
emprega direta ou indiretamente seis milhões de pessoas. Em 2016, as
exportações de carne de frango superaram os 5,9 bilhões de dólares e as de
carne bovina chegaram a 4,3 bilhões, segundo dados do Ministério de
Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC).
O setor frigorífico e os exportadores de carnes alertaram
que colocar em xeque a qualidade dos produtos brasileiros favorecerá a
concorrência.
Fonte: http://www.em.com.br/
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