ALEX SOLNIK
Temer
numa sinuca de bico
12 de Setembro de 2016
Chega ao fim a interminável novela "A cassação de
Cunha".
Como em todas as novelas da Globo no último capítulo os bons
são recompensados pelas boas ações que praticaram, geralmente casando-se com a
irresistível mocinha "bela, recatada e do lar" e os maus pagam por
seus malfeitos.
Nenhum autor da Globo despreza essa fórmula.
E, se desprezar, o diretor acima dele puxa a sua orelha.
"Lewandowski" em conta tudo o que aconteceu nos
capítulo anteriores não há como prever um final feliz para Cunha.
Ele cometeu desatinos demais para merecer compaixão ou
misericórdia ou uma nova chance.
De qualquer modo, somente no último capítulo é respondida a
dúvida principal da história: Cunha mentiu ou não mentiu ao dizer na CPI da
Petrobrás que não tinha contas bancárias no exterior?
Nunca tantas provas irrefutáveis foram reunidas contra um
político brasileiro tanto na Suíça quanto no Brasil.
Nunca os brasileiros tiveram tanta certeza que ele mentiu.
Para garantir o ibope, a Globo costuma perguntar ao público
o que ele quer que aconteça na novela que, por ser uma "obra aberta"
pode ser modificada em pleno voo.
Como o público quer que ela termine, inclusive.
A Globo já percebeu o que o público quer que aconteça com
Cunha no final.
A maior formadora de opinião do país já formou sua opinião a
respeito: Fora Cunha.
A política é cruel. Cunha tinha força enquanto ameaçava com
o processo do impeachment, foi o seu apogeu. Ele perdeu poder quando o aceitou,
mas não totalmente, logo depois reuniu a manada para levar adiante o seu
delírio.
Quando a bola passou aos senadores seu poder se esvaiu.
Agora que perdeu poder e virou o inimigo público número 1,
mais queimado que um palito de fósforo usado, ele não serve mais para nada.
Ao contrário, atrapalha.
É uma pedra no sapato de Temer. É uma pedra no sapato de
Aécio.
Além disso, ele perdeu o poder de barganha: não pode mais
garantir o futuro de seus aliados. A fonte secou.
E a política não mira o passado, mas o futuro.
Quem votar nele, hoje, não será um aliado, mas um cúmplice.
Alguém que lhe deve supostos favores cabeludos.
E será rejeitado pela população nas próximas eleições.
Quem votar nele, hoje, vai ajudar a manter o seu foro
privilegiado, onde os processos se arrastam por séculos.
Quem votar nele hoje vai ficar sob suspeita de ser um
potencial delatado de Cunha, se ele tiver que falar em Curitiba.
Eu não queria estar na pele dos aliados de Cunha,
principalmente na de Temer.
Temer está numa clássica sinuca de bico.
Se Cunha não for cassado vão dizer que foi por culpa dele.
Se for, Cunha vai dizer que foi por culpa dele.
Haja o que houver ele será o culpado.
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