04/09/2016 19h52 - Atualizado em 04/09/2016 19h54
Um ano após abertura a refugiados, populistas alemães vencem
Merkel
SPD liderava a disputa nas eleições regionais, diz boca de
urna.
Partido anti-imigrantes AfD ficou em 2º, à frente de partida da chanceler.
Partido anti-imigrantes AfD ficou em 2º, à frente de partida da chanceler.
Da AFP
Candidato do SPD em Mecklenburgo-Pomerânia
Ocidental, Erwin
Sellering, durante debate na TV
neste domingo (4) (Foto: Christian
Charisius/AFP)
Um ano depois de Angela Merkel abrir
as portas da Alemanha aos
refugiados, o partido anti-imigrantes alemão AfD ficou em segundo lugar nas
eleições regionais em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, com 21% dos votos,
atrás apenas dos sociais-democratas e superando o CDU da chanceler.
De acordo com pesquisas de boca de urna e com 21% dos votos
já apurados neste domingo (4), o SPD (Partido Social-Democrata) liderava a
disputa, com 30%, cinco pontos a menos em relação a 2011. Já o Partido
Cristão-Democrata (CDU) de Merkel aparecia em terceiro lugar, com entre 19% e
20% dos votos, de acordo com pesquisas das emissoras de televisão públicas ARD
e ZDF.
"O bom é que deixamos a CDU atrás de nós (...) Talvez
isso seja, inclusive, o início do fim para a chanceler Merkel", afirmou o
líder do partido populista nessa região da ex-República Democrática Alemã (RDA)
comunista, Leif-Erik Holm.
Criado em 2013, o Partido Alternativa para Alemanha (AfD)
reforça sua posição na cena nacional, agora representado em nove dos 16
"Länder". As eleições deste domingo, assim como as de Berlim em 18 de
setembro, tornam-se, desse modo, um ensaio geral a um ano das legislativas.
O partido baseou sua campanha no caos provocado, segundo a
própria AfD, pela política pró-refugiados adotada por Angela Merkel. O
secretário-geral da CDU, Peter Tauber, reconheceu uma derrota
"amarga" e classificou a votação a favor da AfD de
"protestatória".
"Nós a vemos com o debate sobre os refugiados",
corroborou.
O fato é que a integração de um milhão de solicitantes de
asilo em 2015 monopolizou a campanha eleitoral nesse estado-região da ex-RDA
comunista, abrindo terreno para os populistas de direita da AfD.
Apesar de haver apenas alguns milhares de refugiados em
Mecklemburgo, "a política migratória provocou uma grande sensação de
insegurança nas pessoas", explicou à AFP Frieder Weinhold, candidato da
CDU em Wismar, uma cidade de 42.000 habitantes às margens do mar Báltico.
"Voto na AfD. A principal razão é o tema dos
solicitantes de asilo", admitiu um aposentado de Ludwig, que pediu para
não ser identificado. "Para eles, há dinheiro, para os aposentados,
não", protestou.
Em vídeo divulgado na sexta-feira (2), a líder desse
partido, Frauke Petry, convocou os eleitores: "façam História, não apenas
no estado-região, mas em toda a Alemanha", votando em massa na AfD.
'Popularidade aterradora'
Em um comício no sábado (3), nesse estado regional onde fica sua própria
circunscrição eleitoral, Merkel advertiu para o perigo do voto nos populistas.
"Essa gente que provoca, mas que nunca fez nada por esse Land (estado
federado)", denunciou.
"Quero reforçar a união contra a direita (...) Sobre a
AfD, tenho apenas uma coisa a dizer: a raiva leva a decisões ruins",
justifica Ulrike Zschunke, de 31 anos.
Na semana que passou, a chanceler, que está na China para a
cúpula do G20, multiplicou seus apelos nesse sentido. A popularidade crescente
da AfD é considerada "aterradora" pelo Conselho Central dos Judeus da
Alemanha.
"Agora, a Alemanha tem o que não existia desde o final
da guerra (em 1945, em uma referência à Segunda Guerra Mundial): um partido de
extrema-direita", lamentou o jornal Die Welt.
Além do tema dos refugiados, a AfD se nutre "das
dificuldades do SPD e da CDU para se diferenciar", reconheceu o candidato
Weinhold, acrescentando que "muitos não se sentem representados".
Desamparados diante do êxito dos populistas, alguns
políticos culpam Merkel diretamente. Essa política "provocou uma cisão na
nossa sociedade", criticou o chefe do governo regional em fim de mandato,
Erwin Sellering, do SPD.
"O clima na Alemanha mudou completamente", reconheceu
ele, alarmado. Em uma imediata reação externa, a presidente do partido francês
de extrema-direita Frente Nacional, Marine Le Pen, felicitou neste domingo à
noite os "patriotas da AfD".
"O que era impossível ontem se tornou possível: os
patriotas da AfD varriam o Partido de Merkel. Minhas totais
felicitações!", tuitou Le Pen.
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