SAB, 14/01/2017 - 17:34
Jornal GGN – A revista Época, braço das Organizações
Globo, trouxe em sua matéria de capa desta semana um “Fora Alexandre de
Moraes”. Um aperitivo da matéria, liberado para não assinantes, demonstra a
tese de que a grande mídia não quer mais o ministro da Justiça por perto.
Segundo a publicação, Moraes fala demais, abraça brigas que
não são necessárias e se vale de um plano de segurança pública fadado ao
fracasso. A revista discorre sobre as desvantagens em se ter alguém como ele na
posição em que ocupa, e dá seu recado ao governo Federal.
Leia o aperitivo da matéria a seguir.
da Revista Época
O ministro da Justiça fala demais, compra brigas
desnecessárias e insiste num plano de segurança que tem tudo para fracassar
ALANA RIZZO E TALITA FERNANDES
>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana
O amplo gabinete no 4º andar do Palácio da Justiça sempre
foi um dos mais disputados de Brasília.
Quem se senta na cadeira de ministro da
Justiça tem à vista, subitamente, uma montanha de poder político – e uma
montanha igualmente imensa de encrencas. Boa parte dos problemas do governo
passam pelo Ministério da Justiça. É uma Pasta balofa.
Tem orçamento de R$ 14
bilhões e 12 secretarias, além da Polícia Federal e da Rodoviária Federal.
Cuida de índios, de anistias políticas, de estrangeiros, de presídios, de
cartéis, de direitos humanos. Cuida da relação do governo com os Tribunais
Superiores. Até o Arquivo Nacional está nesse mafuá estatal.
O ministro da
Justiça coordena, por fim, a segurança pública do país. No gabinete dele, não
entra solução: só entra problema. Quando o ministro (nunca houve uma ministra)
é fraco, o problema que entra no gabinete encontra um problema sentado na
cadeira – e o que sai de lá em seguida costuma ser um problemão. Não tem erro:
uma hora o problemão apeia o ministro da cadeira. Desde 1822, a vida média de
um ministro da Justiça mal chega a um ano.
Ministro da Justiça não deixa o
cargo. Cai.
O atual, Alexandre de Moraes, está há nove meses na cadeira.
Tem mais três meses para alcançar a média de seus antecessores.
Caso continue
falando e agindo como se ainda fosse secretário de Segurança de São Paulo,
alheio à dimensão das encrencas de Brasília e do país, talvez não dure tanto.
Desde que assumiu o cargo, Moraes parece deslumbrar-se com a montanha de poder
que lhe assomou e ignorar a outra, a dos problemas. Uma semana depois de tomar
posse na Pasta, ele não conseguia esconder uma alegria quase infantil em ocupar
o cargo.
A ampla mesa de madeira maciça estava tomada por caixas recheadas de
livros – entre eles, vários exemplares de seu best-seller de Direito
Constitucional. A decoração clássica demais não lhe agradava tanto. Naquela
quinta-feira de maio, em meio a reuniões com a nova equipe e compromissos de
emergência rotineiros na Pasta, Moraes pediu que a conversa sobre os planos
para o ministério fosse encerrada.
Na antessala do gabinete, a esposa aguardava
para conhecer o gabinete do novo ministro da Justiça.
Nos primeiros dias de comoção provocada pela matança nos presídios,
Moraes travou uma disputa velada por poder e protagonismo com a presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia – um claro sinal de que ainda não
consegue entender as sutilezas das relações políticas da capital.
O ministro
ficou incomodado quando Cármen anunciou que embarcaria para Manaus, depois que
ele já havia ido à capital amazonense, e também quando procurou representantes
do IBGE e do Exército, que fazem parte do Poder Executivo, para propor a
realização de um censo carcerário.
Nem o governo federal nem o Judiciário
admitiram de fato qualquer responsabilidade pela barbárie, mas passaram a
competir na busca por soluções para o caos penitenciário. Em vez de tentar
trabalhar com Cármen e os esforços do Conselho Nacional de Justiça, Moraes
buscou o protagonismo de um problema que ninguém resolverá sozinho.
Michel Temer virou ouvidor da rivalidade que se desenrolou
nos bastidores. Ao longo da semana, ouviu de seu ministro a reclamação de que a
presidente do Supremo estava “muito midiática”, insinuando que ela assumira
esse comportamento por ter pretensões políticas. Em encontro no fim de semana
passado, Cármen não escondeu do presidente sua antipatia por Moraes:
“O
ministério da Justiça deveria falar menos e fazer mais...”. Temer ouve
reclamações semelhantes com frequência.
A reclamação discreta da presidente do Supremo causou
preocupação no Palácio do Planalto. Em uma conversa com Moraes, Temer
recomendou que ele evitasse ao máximo qualquer altercação com Cármen Lúcia. O
presidente viu-se obrigado a explicar o óbvio: o governo só tem a perder ao
enfrentar a presidente do Supremo.
Especialmente no momento em que a cúpula do
Judiciário acumula embates com o Legislativo, toma decisões que afetam
diretamente as relações financeiras entre a União e os estados e, não menos
importante, está prestes a se debruçar sobre processos da Lava Jato que podem
envolver centenas de políticos – sendo muitos ligados também ao atual governo.
Temer assegurou ao ministro que, por mais que Cármen Lúcia se reunisse com
integrantes do Executivo para buscar soluções para a crise, é ele, Temer, que
dará ou não as ordens para qualquer colaboração.
Ter de explicar o óbvio da
política brasiliense – mais uma vez – para um ministro da Justiça demonstra que
o ministro da Justiça está criando crises em vez de resolvê-las. Temer sabe
disso, mas reluta em demitir Moraes por duas razões.
Primeiro, porque gosta do
subordinado e aposta nele como nome para o Palácio dos Bandeirantes em 2018.
Em
segundo lugar, porque ele não enxerga alternativa melhor para um cargo tão
difícil.
O presidente não ignora, igualmente, o peso do desgaste político de
outra demissão no alto escalão de um governo ainda frágil.
Fonte : http://jornalggn.com.br/
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