sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

MP vai investigar relação de deputado tucano, amigo de Moro com empresas suspeitas

MP vai investigar relação de deputado tucano, amigo de Moro com empresas                          suspeitas
POSTED BY: ADMIN JANUARY 13, 2017
 amigo do moro capez

Denúncia exclusiva do Viomundo

por Henrique Beirangê, especial para o Viomundo

A investigação sobre desvios de recursos na merenda escolar do Estado de São Paulo tem novas informações a respeito do deputado Fernando Capez (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Documentos obtidos com exclusividade pelo Viomundo mostram que a força-tarefa criada no Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) para apurar o caso realizou levantamento patrimonial de bens do cunhado e da concunhada de Capez.

Refiro-me ao advogado Rogério Auad Palermo e à sua esposa e funcionária da Assembleia Legislativa, Maria Cristina Gomes Basile. Rogério é irmão de Valéria Palermo Capez, mulher do deputado.

A devassa encontra-se na representação criminal nº 2022926-822016.8.26.0000 encaminhada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), por intermédio do procurador de Justiça Nelson Gonzaga de Oliveira, em setembro do ano passado, ao desembargador Sérgio Rui da Fonseca.

O documento (na íntegra, ao final) revela que os dois “figuram em extenso rol de empresas, consubstanciando surpreendentes 79 entidades distintas”.
 Capez 3-002

A papelada é baseada em informações coletadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco, seção Ribeirão Preto).

Elas tentam avançar sobre as ligações entre o deputado e as empresas de seus familiares.
Segundo dados oriundos de informações anônimas, incorporadas à representação, tais empresas seriam usadas para lavagem de dinheiro.

A força-tarefa do MP-SP quer saber qual a relação dessas companhias com Capez e se elas eram usadas de alguma forma para esconder dinheiro sujo.

A investigação da máfia da merenda aponta fraudes de, ao menos, R$ 40 milhões em contratos de suco de laranja entre a Cooperativa Coaf, de Bebedouro (SP), e prefeituras e o governo de São Paulo.

A apuração do MP-SP revela que mais de 75% das empresas dos familiares do deputado estão sediadas em apenas três endereços.
A investigação quer saber se elas chegaram a funcionar ou se foram criadas apenas no papel.

Um dos motivos do questionamento é a grande diversidade de atividades das empresas, tanto entre as ativas como nas que se tornaram inativas na Receita Federal.

De acordo com dados da Junta Comercial, elas atuam desde o setor de joias ao mercado financeiro.

Para ter mais detalhes do funcionamento das empresas, a força-tarefa apurou junto ao Cadastro Geral de Empregados (Caged), do Ministério do Trabalho, outro dado curioso: a maioria das companhias nunca teve empregados registrados.

O documento de 16 páginas enviado pelo MP-SP ao Tribunal de Justiça paulista tem informações que levantam mais perguntas:
*Há uma empresa com dois CNPJ’s, uma companhia arquivada sem distrato na Junta Comercial.

*Seis das empresas, mesmo após mais de 10 anos baixadas na Receita Federal, só formalizaram seus distratos sociais entre os meses de abril e maio de 2016, período em que a apuração da máfia da merenda já era “de conhecimento dos investigados”, diz a representação do MP.

A investigação mostra ainda o grau de proximidade dos familiares.
O cunhado de Capez foi seu chefe de gabinete entre 2007 e 2008 e figura atualmente como administrador (já foi sócio) do Instituto Brasileiro de Ciência Jurídica S/C Ltda, do qual são sócios o deputado e sua esposa, Valéria Palermo Capez.

A empresa é usada para divulgação dos livros de direito escritos por Capez. Valéria, que é promotora de Justiça, é irmã de Rogério.
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Após diligências, a força-tarefa do MP-SP identificou também uma procuração dada por Capez para que o cunhado Rogério Palermo e sua esposa fizessem até movimentação de conta bancária do deputado tucano.

A devassa não para por aí. Devido à investigação, o MP acessou dados de movimentações financeiras de familiares do deputado com auxílio do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

O levantamento indica, em 2011, um depósito na conta do cunhado de Capez de R$ 401 mil, em dinheiro vivo, tipo de movimentação que impede a identificação da origem do dinheiro.
 Capez 5-001

O relatório também identifica que, com o aprofundamento da investigação, o MP-SP chegou a um nome até então desconhecido na apuração.

Os investigadores descobriram que parte das empresas de Rogério Palermo foi passada para o seu tio, o senhor Abdallah Abrão Auad.
Segundo o MP, Abdallah também tem vinculações financeiras com o deputado do PSDB. Ele aparece como doador de R$ 4 mil à campanha de Capez em 2014.

Por outro lado, diz o documento:

“Abdallah recebeu pagamentos, em nome de Fernando Capez, montando a importância de 45,7 mil reais, por meio da pessoa jurídica da Azul Comercial e Projetos Ltda, da qual é sócio, e um outro pagamento de 48,3 mil na pessoa física”.

Segundo o MP, Abdallah esteve empregado na Assembleia Legislativa em cargo comissionado, entre março de 2007 e agosto de 2008.

Curiosamente, a firma de Abdallah é sediada no mesmo endereço onde aparecem outras empresas dos familiares de Capez, investigadas por suposta lavagem de dinheiro.

No e-mail de contato que aparece no cadastro da Junta Comercial, a responsável é Maria Cristine Basile, esposa do cunhado do deputado.

A representação enviada pelo MP-SP ao Tribunal de Justiça também destaca que foram encaminhadas à Promotoria informações de que o cunhado do deputado teria adquirido recentemente um apartamento no valor de R$ 4,5 milhões.

O dado foi disponibilizado de forma anônima ao Gaeco de Ribeirão Preto.

Os investigadores também apontam movimentação financeira entre o cunhado de Capez e José Merivaldo dos Santos, ex-assessor do PSDB na Assembleia Legislativa.

Há um lançamento de crédito, decorrente de um TED, entre Rogério e José Merivaldo.
Mais precisamente o TED é do cunhado de Capez  para Merivaldo, apontado como um dos intermediários do deputado no esquema.
Durante a investigação, foi identificado um cheque de R$ 50 mil, em nome de Merivaldo, pago pela Cooperativa envolvida nas fraudes. Ele nega participação no esquema.
Outro ex-assessor de Capez, Jeter Rodrigues, também é investigado por suposta intermediação no esquema.
A representação criminal enviada ao Tribunal de Justiça destaca ainda que o ex-deputado Leonel Júlio fez referência, durante depoimento ao MP, a contatos políticos, em época de campanha eleitoral do deputado, com o cunhado de Capez.
Leonel Júlio é pai de Marcel Júlio, lobista e delator da máfia da merenda.
Segundo Marcel Júlio, parte do dinheiro do esquema ia para o deputado Fernando Capez.
Em delação, Marcel disse que, em um encontro, o deputado teria esfregado os dedos, simbolizando dinheiro, que precisaria de recursos para sua campanha. Em contrapartida, os contratos dos fraudadores de suco da merenda com o governo do Estado seriam agilizados.
OUTRO LADO
A repórter Conceição Lemes tentou saber o que Rogério Auad Palermo e o deputado Fernando Capez tinham a dizer sobre as informações contidas no documento enviado pelo MP-SP ao Tribunal de Justiça.
A Capez, via sua assessora de imprensa, ela perguntou:
1) O senhor tem conhecimento das empresas de seu cunhado Rogério Palermo e qual a finalidade delas?
2) O senhor tem conhecimento das empresas do senhor Abdallah Abrao Auad?
3) Qual a relação do senhor com as empresas do senhor Abdallah?
4) Diz o documento: “Abdallah recebeu pagamentos, em nome de Fernando Capez, montando a importância de 45,7 mil reais, por meio da pessoa jurídica da Azul Comercial e Projetos Ltda, da qual é sócio, e um outro pagamento de 48,3 mil na pessoa física”. Isso procede? Qual a finalidade desses pagamentos?
5) Por que o seu cunhado Rogério Palermo e a esposa dele, senhora Maria Cristina Gomes Basile, mantinham procuração do senhor para movimentação bancária?
Não houve qualquer resposta. Nem de Capez nem da sua assessoria.
Palermo retornou os recados que a repórter havia deixado no celular e no seu escritório.
De cara, quis saber o número do telefone fixo da jornalista. Ela não forneceu.
Conceição Lemes, que é editora do Viomundo, explicou que estávamos fazendo uma reportagem sobre a representação criminal 2022926-822016.8.26.0000, e como ele e sua esposa, Maria Cristina Gomes Basile, eram citados, gostaria de lhe fazer algumas perguntas.
— Que representação criminal? — questionou Rogério.
— A representação criminal nº 2022926-822016.8.26.0000, que foi enviada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, via procurador-geral, ao Tribunal de Justiça paulista.
— Eu sei, eu sei o que é. Sobre isso eu só falo em juízo. Mas o que você quer? Uma entrevista?
— Eu quero fazer umas perguntas, já que o senhor e a sua esposa são citados.
— Qual é mesmo o site?
— Viomundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha.
— Não conheço. Estou achando tudo isso meio esquisito. Parece pau mandado. A mando de quem?
— Não somos pau mandado de ninguém. Só quero fazer ou enviar por e-mail umas perguntas, já que o senhor e sua esposa são citados. A primeira delas é esta:
Um relatório do MP afirma que o senhor abriu 79 entidades desde o final dos anos 90. A maior parte delas funcionava nos mesmos endereços. Essas empresas tinham atividade?
O tom de voz do Rogério Palermo subiu consideravelmente.
— Não conheço o seu site, não te conheço, não vou dar entrevista, só vou falar em juízo. E cuidado com o que você vai escrever, hein.
E desligou o telefone.
Imediatamente, Conceição Lemes ligou para ele
— O senhor está me ameaçando?
— O quê?
— O senhor disse: “Cuidado com o que você vai escrever, hein”. Isso parece ameaça.
— Nããããããão… Eu não estou ameaçando ninguém. Volto a dizer. Não conheço o seu site, não te conheço, não vou dar entrevista, só vou falar em juízo. Passar bem.

Mesmo Palermo tendo dito que não iria se manifestar, a repórter enviou-lhe, via secretária do escritório dele, estas perguntas:

1) Um relatório do MP afirma que o senhor abriu 79 entidades desde o final dos anos 90. A maior parte delas funcionava nos mesmos endereços. Essas empresas tinham atividade?
2) Segundo o Caged, nunca houve funcionários registrados. Por qual motivo?
3) O relatório afirma existir um TED entre o senhor e José Merivaldo. O senhor se recorda qual o motivo do TED?
4) O Coaf identificou um depósito de R$ 401 reais em espécie em sua conta. Qual a origem desse dinheiro e por qual motivo não foi feito via transferência bancária?
5) Por que após dez anos encerradas na Receita, parte das suas empresas teve o seu distrato social feito apenas em 2016?
6) Por que passou as empresas para seu tio, senhor Abdallah Abrao Auad?
7) No documento do MP consta a informação de que o senhor adquiriu um apartamento de R$ 4,5 milhões. Procede?
8) Qual a relação do senhor com o ex-deputado Leonel Júlio?

Essa não é a primeira vez que o cunhado do deputado fala em tom ameaçador.
Em abril do ano passado, após a publicação da reportagem “As empresas da família de Capez”, na revista CartaCapital, o autor da reportagem, recebeu mensagens em tom intimidativo de Rogério Palermo.
O cunhado de Capez enviou um SMS com o endereço do jornalista, dizendo que “precisava falar com ele”.
O repórter entrou com uma representação no Ministério Público informando o ocorrido e solicitando providências por parte do Procurador-Geral. Tal incidente é, inclusive, mencionado na representação criminal de que trata esta reportagem.

Abaixo, a íntegra da representação do Ministério Público ao Tribunal de Justiça
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