ABUSO SEXUAL
Rede de pedofilia mantinha cativeiro em Campos dos
Goytacazes, no Rio
Vereadores, empresários e homens da alta sociedade estão
presos no Complexo de Bangu
Fania Rodrigues
Rio de Janeiro, 01 de Julho de 2016 às 19:01
Deputado federal suplente, Nelson Nahim, foi condenado por
estupro e outros crimes / Divulgação
O irmão do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony
Garotinho, Nelson Nahim, que é ex-vereador de Campos de Goytacazes, está
preso junto com outros políticos locais pelos crimes de estupro e
submissão de criança e adolescentes à prostituição e exploração sexual.
Eles estão no Complexo de Bangu, no Rio de Janeiro.
Os quatro políticos e outras dez pessoas, incluindo um
policial militar, foram condenados pelo caso que ficou conhecido como “As
Meninas de Guarus”, investigado desde 2009, mas nenhum dos acusados tinha sido
preso até junho passado.
Cerca de 12 crianças e adolescentes entre 8 e 16 anos de
idade foram mantidas presas em uma casa, localizada em Guarus, distrito de
Campos, onde eram obrigadas fazer sexo com homens adultos e a consumir drogas,
como cocaína, haxixe, crack, ecstasy e maconha.
A sentença foi divulgada, no mês passado, pela juíza Daniela
Barbosa Assunção, da terceira Vara Criminal de Campos, após 17 juízes se
declararem suspeitos para julgar o caso, justamente por envolver figurões de
cidade. “A juíza veio do Espírito Santo, veio escoltada, quase em uma operação
de guerra, para julgar o caso”, conta a professora Odisséia Carvalho, que na
época era vereadora (PT), e foi uma das pessoas que denunciou o caso e batalhou
para que fosse investigado.
Nelson Nahim, que nesse momento é deputado federal suplente
(PSD-RJ), foi apontado como um dos integrantes da rede pedofilia por uma das
vítimas, uma adolescente de 15 anos, com quem manteve relação por diversas
vezes. Ele também foi acusado de ameaçar uma das vítimas, para não revelar o
esquema.
Segundo Odisséia Carvalho, essa organização criminosa atuou
durante pelo menos 3 anos seguidos. “O chefão da rede, conhecido como Alex,
chegou a construir uma pousada, onde eram feitos os ‘atendimentos’. Inclusive
os materiais de construção fornecidos em troca de sexo com as crianças e
adolescentes”, afirma a professora.
As crianças chegaram a fazer 30 programas por dia. Muitas
vezes com o nariz sangrando, devido ao uso de cocaína. Duas dela morreram em
2009. Uma das meninas, de 12 anos, fugiu e procurou a mãe. Ela tinha
presenciado a morte de uma criança de 8 e outra de 12 anos, que tinham se
recusado a fazer sexos com os comerciantes Thiago Calil e Fabricio Calil,
segundo informações delacionadas às investigações.
As duas tinham sido estupradas, em uma visita anterior dos
dois homens. Muito machucadas, as crianças se recusaram a praticar o ato sexual
e foram obrigadas a cheiras cocaína até a morte por overdose. “Uma espécie de
punição, para servir de exemplo”, relata a ex-vereadora Odisséia Carvalho.
O caso que só foi denunciado porque uma das vítimas
conseguiu fugir do cativeiro. A casa tinha as portas e janelas trancadas com
correntes e cadeados e era vigiada por homens armados. Os clientes eram
políticos, empresários e homens ricos e influentes de Campos Goytacazes.
Algumas dessas crianças vinham de casas-abrigos do Conselho
Tutelar de Campos e muitas eram de outros estados, como Minas Gerais e Espírito
Santo. “Algumas delas estavam em listas de desaparecidas, vítimas de tráfico de
pessoas”, explica Odisséia.
Os condenados recorreram da decisão da juíza e agora,
presos, esperam novo julgamento.
A reportagem procurou o escritório Bergher & Mattos
Advogados Associados, que faz a defesa de Nelson Nahim, mas não foi atendida.
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