Marco Feliciano volta a afirmar que africanos são amaldiçoados
Marco Feliciano reafirma que africanos são amaldiçoados. O
pastor argumentou que essa maldição tem sido curada com a conversão de
africanos ao cristianismo, aos “caminhos do Senhor
Em defesa protocolada no STF (Supremo Tribunal Federal), o
deputado Marco Feliciano (PSC-SP) reafirmou que paira sobre os africanos uma
maldição divina e procurou justificar a fala com uma afirmação que,
publicamente, tem rechaçado: a de que atrelou seu mandato parlamentar à sua
crença religiosa.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara é
alvo de inquérito no STF por preconceito e discriminação por uma declaração no
microblog Twitter.
Em 2011, ele escreveu que “a podridão dos sentimentos dos
homoafetivos leva ao ódio, ao crime, à rejeição”.
Na época, Feliciano também postou que africanos são
amaldiçoados pelo personagem bíblico Noé. “Isso é fato”, escreveu no microblog.
O post depois foi deletado.
As declarações provocaram protestos que tomaram conta de
redes sociais e das sessões da comissão. A Procuradoria Geral da República o
denunciou ao STF –onde também responde a uma ação acusado de estelionato.
Feliciano é acusado de induzir ou incitar discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia, religião, sujeito a prisão de um a três anos e
multa. Não existe tipificação penal para homofobia.
Em sua defesa no STF, protocolada no dia 21, Feliciano diz
que não é homofóbico e racista. Reafirma, porém, a sua interpretação de que há
a maldição contra africanos.
“Citando a Bíblia […], africanos descendem de Cão [ou Cam],
filho de Noé. E, como cristãos, cremos em bênçãos e, portanto, não podemos
ignorar as maldições”, afirmou, na peça protocolada em seu nome pelo advogado
Rafael Novaes da Silva.
“Ao comentar [no Twitter] acerca da ‘maldição que acomete o
continente africano’, diz sua defesa, o deputado quis afirmar que é “como se a
humanidade expiasse por um carma, nascido no momento em que Noé amaldiçoou o
descendente de Cão e toda sua descendência, representada por Canaã, o mais moço
de seus filhos, e que tinha acabado de vê-lo nu”.
A defesa do deputado diz ainda que há uma forma de “curar a
maldição”, entregando “os seus caminhos ao Senhor”. “Tem ocorrido isso no
continente africano. Milhares de africanos têm devotado sua vida a Deus e por
isso o peso da maldição tem sido retirado”, diz o texto.
Historicamente, interpretações distorcidas do trecho da
Bíblia citado pelo pastor serviram como justificativa para atitudes e
manifestações racistas, como as dos proprietários de escravos no Brasil e nos
EUA no século 19.
Ao STF, Feliciano não entra em detalhes sobre sua afirmação
sobre os gays –diz apenas que não há lei que criminalize sua conduta.
FÉ E MANDATO
O pastor também afirma que seu mandato está atrelado à
religião, embora tenha dito durante a atual crise que sua crença não afeta sua
atuação na Câmara. Usou esse argumento para se manter na presidência da
comissão.
Ao STF, afirmou que suas manifestações no Twitter estão
“ligadas ao exercício de seu mandato”. As estratégia é vincular as declarações
à imunidade parlamentar.
Feliciano foi eleito para a comissão em março. Após os
protestos, o pastor conseguiu aprovar requerimento fechando-as para o público.
Rubens Valente, FolhaPress
Nenhum comentário:
Postar um comentário