Obama em Orlando: "Se não agirmos, continuaremos a ver
massacres como este"
EL PAÍS Joan Faus8
horas atrás
© CARLOS BARRIA Obama e Biden rendem homenagem às
vítimas da boate Pulse.
O presidente dos Estados
Unidos, Barack Obama, e o vice-presidente, Joe Biden, se reuniram
na quinta-feira em Orlando com familiares das 49 vítimas do ataque
que aconteceu no domingo na boate gay Pulse. Em seus sete anos e meio de
presidência, Obama visitou outros locais de massacres. A viagem evidencia a
frustração do presidente diante de sua incapacidade de convencer o Congresso a endurecer
o acesso às armas, além da dificuldade de evitar ataques solitários de
inspiração jihadista e acalmar a opinião pública.
A condenação de ataques a tiros tornou-se um triste ritual
para Obama, que revelou que a coisa que mais lamenta é não ter conseguido
restringir a compra de armas. A seis meses do fim do seu mandato, enfrenta o
pior ataque a tiros da história dos Estados Unidos e o pior ataque cometido por
um norte-americano de origem afegã simpatizante do extremismo islâmico desde os
ataques de 11 de setembro, em 2001. Desde que chegou ao Salão Oval, em 2009,
Obama condenou cerca de vinte ataques a tiros.
Obama e Biden se reuniram num pavilhão esportivo com os
familiares das vítimas, sobreviventes (houve 53 feridos) e representantes da
polícia. Em seguida, colocaram flores num memorial e o presidente discursou por
cerca de 20 minutos, fazendo um apelo ao endurecimento das leis. “Se não
agirmos, continuaremos a ver massacres como este porque decidiremos permitir
que aconteçam”, disse.
Obama lamentou que a classe política tolere que um
terrorista possa comprar “legalmente” armas “extremamente poderosas”. Disse que
as famílias das vítimas não se importam com o debate político sobre armas e
instou os defensores do atual acesso às armas de assalto a conhecer essas
famílias: “Mais uma vez abracei famílias de luto e me perguntaram por que isso
continua acontecendo. Eles não se importam com os aspectos políticos, e eu
também não. Esse debate tem que mudar”.
O presidente insistiu que a primeira potência mundial se
manterá firme na luta contra o terrorismo jihadista no exterior, mas argumentou
que, paralelamente, é necessário restringir o acesso às armas para impedir
ataques solitários de inspiração jihadista nos EUA. Argumentou que é impossível
detectar cada pessoa perturbada, mas se pode limitar o “dano” que elas podem
provocar.
Obama também teve palavras para as famílias das vítimas.
“Nossos corações estão partidos também. Estamos com vocês”, disse. E pediu para
refletir sobre a discriminação à comunidade gay. “Para muitas lésbicas e gays,
a Pulse sempre foi um refúgio, inclusive para muitas pessoas cuja família era
originária de Porto Rico. Foi um ataque contra a comunidade LGBT”.
A violência armada transforma os EUA numa anomalia no mundo
desenvolvido. Todos os dias, 297 pessoas recebem disparos de armas de fogo (89
morrem), segundo um estudo da Campanha Brady. Com 321 milhões de habitantes,
estima-se que existam 270 milhões de armas de uso particular, um direito
protegido pela Constituição. É a maior proporção do mundo: nove armas para cada
dez cidadãos.
Depois da morte, em 2012, de 20 crianças e 6 adultos numa
escola em Connecticut, Obama propôs aumentar o controle dos antecedentes,
proibir os fuzis de assalto e limitar o número de balas. Não conseguiu os votos
suficientes no Congresso. Depois de cada matança, reiterou, numa desesperadora
litania, suas propostas. Mas o debate não vingou.
“Desejo que Orlando seja um ponto de inflexão”, diz Sarah
Wisick, de 30 anos, numa homenagem às vítimas da boate. “É diferente quando o
ataque acontece na sua cidade. Torna-se muito mais real”.
É difícil saber se o que aconteceu em Orlando mudará alguma
coisa. Crescem as vozes a favor de novas restrições, mas tudo
dependerá da maioria republicana no Capitólio. Depois de falar durante 15
horas, um senador democrata conseguiu, na madrugada de quinta-feira, que o
plenário vote duas propostas que poderão ampliar a revisão dos antecedentes
criminais do comprador e proibir a venda de armas a pessoas inscritas na lista
de suspeitos de terrorismo do FBI.
Ambas as propostas não teriam impedido que Omar Mateen, que
morreu abatido pela polícia, comprasse há poucas semanas o fuzil e a pistola
que usou na boate. O atirador, que jurou fidelidade ao Estado Islâmico, tinha sido investigado duas vezes pelo FBI
por possíveis ligações com terroristas, mas a agência encerrou a investigação
em 2014 e o tirou de sua lista de suspeitos. Depois do massacre, o FBI recebeu
críticas por essa decisão. O ataque deixa clara a dificuldade de detectar
atacantes solitários seis meses depois da morte de 14 pessoas num ataque a
tiros de dois simpatizantes jihadistas na Califórnia.
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