16 de Junho de 2016
A Globo – ou, mais especificamente seu principal produto jornalístico,
o Jornal Nacional – derrubou Dilma. Veiculou entrevistas em que especialistas
escolhidos a dedo testemunharam que as pedaladas eram crime de
responsabilidade. Convocou o povo a ocupar as ruas pedindo impeachment, o que
serviu de forte pretexto para os deputados votarem contra a presidente, para
atenderem ao que as ruas pediam. Deu certo.
A Globo – ou, mais especificamente o Jornal Nacional,
estrategicamente encaixado entre as duas novelas de maior ibope – derrubou
Eduardo Cunha. A pá de cal foi a matéria que denunciou a manobra envolvendo o
governo Temer, o presidente do PRB, ministro Marcos Pereira e a desconhecida
deputada Tia Eron (que nome!) unidos na tentativa de salvar Cunha na comissão
de ética. Flagrados no conluio, o Planalto tirou seu cavalinho da chuva e Tia
Eron votou contra Cunha. Mais uma vez deu certo.
Agora a Globo – ou, mais especificamente, o Jornal Nacional,
em cujo noticiário, a exemplo do que ocorre nas novelas o bem tem que
prevalecer sobre o mal - está derrubando Temer. E tem tudo para dar certo.
A longa matéria veiculada ontem que detalha a sua
interferência na distribuição de 40 milhões de reais arrecadados ilicitamente
pelo presidente da Transpetro, Sérgio Machado, para irrigar as hostes do PMDB,
reassumindo, em 2014, a presidência do partido então ocupada por Valdir Raupp,
seu vice, a pedido dos deputados que se queixavam de serem preteridos na
distribuição e o áudio em que o mesmo Machado conta a Sarney que Temer
solicitou 1,5 milhões para a campanha de seu pupilo Gabriel Chalita a prefeito
de São Paulo, em 2012, informação que também detalhou por escrito aos
procuradores da Lava Jato, foi devastadora.
O impacto foi imediato, pois a narrativa do delator premiado
faz muito sentido: ele estava na presidência da estatal por indicação de um dos
caciques do PMDB, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, Renan
Calheiros e sua tarefa consistia em, além de cuidar da empresa em si, atender
aos pedidos dos peemedebistas de verba para campanhas, oriunda de repasses das
empresas privadas que mantinham negócios com a Transpetro. Nada mais justo do
que fornecê-la, também, ao principal cacique do partido. Não há desmentido do
Palácio do Planalto que convença os 30 milhões de brasileiros que assistem ao
Jornal Nacional de que Temer não participava desse rachuncho.
Sabedores da força da Globo e da importância cada vez maior
da opinião pública, cada vez menos tolerante com malfeitos, venham de onde
vierem, e da qual dependem para se reelegerem, os senadores que participam da
comissão do impeachment terão muito menos disposição para defender o presidente
em exercício. Levando-se em conta, que, do ponto de vista formal ele ainda é o
vice-presidente da República e os fatos narrados por Machado ocorreram durante
seu mandato, não se afasta a possibilidade de que eles deem sustentação a um
pedido de impeachment de Temer.
Pelas mesmas razões, as denúncias, que podem transformá-lo
em réu, tal como aconteceu com Eduardo Cunha, terão impacto sobre o conjunto
dos senadores que vão votar, provavelmente em agosto, pela deposição definitiva
ou pela volta da presidente Dilma ao poder. Mais uma vez pressionados pela
opinião pública, que certamente não será estimulada pela Globo a sair às ruas
em defesa de Temer eles não terão respaldo para trocar uma presidente acusada
somente de irregularidades administrativas, mas que jamais foi denunciada por
algum dos muitos delatores, por um sério candidato a julgamento na Lava Jato.
Temer deveria ter pensado dez vezes antes de transformar em
ministro um empregado de Edyr Macedo e representante da TV Record.
Mas agora Inês é morta.
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