21 de outubro de 2016 - 18h06
Krassimir Ivandjiiski: A iminência de uma Terceira Guerra
Os Estados Unidos moveram a nova cortina de ferro para as
fronteiras da Rússia
Os inimigos e aliados, com poucas exceções, são os mesmos –
o Ocidente contra o Oriente. E novamente é uma guerra de aniquilação. O
Ocidente quer destruir a Rússia de uma vez por todas, erradicá-la da história.
Por Krassimir Ivandjiiski*
Lembrem-se muito bem do verão e do outono [N. do T.: no
hemisfério norte] de 2016. Naqueles breves meses, a escolha entre "guerra
ou paz" no grande front da Terceira Guerra Mundial estava prestes a ser
tomada. Isso não é uma alucinação visual. E é chegada a hora de falar francamente
disso, não importa o quão desagradável seja.
E a guerra segue seu curso. A guerra entre, de um lado, os
Estados Unidos e a Otan e, de outro, a Rússia e a China. A guerra é pela
hegemonia, e irá determinar se o próximo século, ou mesmo o milênio, será
americano ou russo-chinês.
Ninguém deve se enganar quando os líderes russos e chineses chamam os inimigos
de "parceiros". Obviamente, eles não podem chamá-los de idiotas,
ainda que Serguei Lavrov tenha chegado a fazê-lo.
A guerra segue seu curso em várias dimensões – informacional, econômica,
política e militar. Ela segue como um déjà vu, tipo "algo que já foi visto
antes". E, novamente, o objetivo é a Rússia – que parece estar aceitando o
jogo.
Em 1812, Napoleão invadiu a Rússia. Kutússov ficou de início adormecido por
alguns meses, até unir as tropas de Bagration e de Tolly para então completar o
exército e iniciar uma guerra de guerrilha. A batalha-mor de Borodino não
trouxe uma vitória decisiva e os russos tiveram mais uma vez que recuar,
aglutinar forças e continuar a guerra de guerrilha.
O que teria acontecido se Kutússov tivesse partido para a batalha-mor contra
Napoleão logo de início?
Ele teria sido aniquilado e Napoleão teria conquistado não apenas Moscou, mas
poderia ter alcançado os Urais.
Hitler também quis conquistar os Urais na Segunda Guerra Mundial. Stálin, assim
como Kutússov, retardou o início da guerra contra o Reich por todos os meios,
até que, no verão de 1941, a guerra na Europa já ia avançada por vários anos. A
Áustria havia caído pelo Anschluss; a Tchecoslováquia estava fragmentada, assim
como a Iugoslávia.
Teria sido possível à União Soviética entrar em guerra em 1938? Sim, teria, mas
ela teria sido derrotada em questão de dias porque o exército não se encontrava
preparado para tal inimigo. E, quando Hitler estava a seis quilômetros de
Moscou, o exército russo começou o seu contra-ataque, que terminou em Berlim.
Agora a guerra se repete quase que nas mesmas dimensões. Os inimigos e aliados,
com poucas exceções, são os mesmos – o Ocidente contra o Oriente. E novamente é
uma guerra de aniquilação. O Ocidente quer destruir a Rússia de uma vez por
todas, erradicá-la da História.
Putin começou a sua guerra com um discurso em Munique, quando ele disse que o
colapso da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século 20. O
Ocidente compreendeu bem o que Putin disse e começou a Terceira Guerra Mundial
contra a Rússia – de formas abertas ou dissimuladas, como guerra cibernética,
como guerra de informações, como guerra geopolítica, como guerra de verdade e
assim por diante.
Ao longo dos últimos dez anos, os principais adversários – os Estados Unidos e
a Rússia – subiram o tempo todo as apostas, e os embates escalaram para níveis
mais altos. Os Estados Unidos contaram que iriam intimidar Putin, ou eliminá-lo
fisicamente. Ele aparentemente recuava, mas todo recuo era usado para apostas
mais altas, e a Rússia lentamente escalou para a posição que a União Soviética
ocupava na arena global. A estrada é longa e esconde imprevistos, mas a direção
é essa.
A situação atual é mais perigosa que qualquer outra nos anos mais quentes da
Guerra Fria, coisa que eu me lembro bem.
A questão é: o que este outono que se inicia reserva para nós, quando
surpreendentemente e logicamente os jogadores no grande tabuleiro mudaram suas
posições? Foi isso o que aconteceu na longínqua cidade chinesa de Hangzhou na
reunião do G-20 quando, pela primeira vez, o Ocidente não pode ditar, e teve
que ouvir. O G-8, após a retirada da Rússia, já fora sepultado.
O palco foi revirado. A dominância dos Estados Unidos e seus imperativos
estratégicos se foram. A partir de agora uma nova peça será encenada: "o
declínio da estrutura imperial global e a ascensão de um novo mundo".
Isso traz momentos ainda mais perigosos na guerra do Ocidente contra o Oriente,
o que se encontra evidenciado nos mapas da Europa.
A Rússia detém recursos suficientes para responder. É aí que mora o cinismo dos
Estados Unidos e da Otan, que exportam os seus potenciais nucleares e sistemas
antimísseis para a periferia (que para nós da Rússia não é de modo algum uma
periferia), sabendo muitíssimo bem que esses sistemas, mísseis e demais
parafernálias são uma ficção do ponto de vista militar porque serão destruídos
em questão de segundos, e que um dos primeiros objetivos de um ataque russo no
caso de um ataque surpresa dos Estados Unidos contra a Rússia será transformar
as bases antimísseis da Romênia, Polônia e Turquia em cinzas radioativas.
Em suma, esses países irão aprender como é viver em países mirados pelos
mísseis nucleares e de cruzeiro russos. O que os Estados Unidos oferecem em
contrapartida não passa de pura provocação. Mas esse é precisamente o objetivo.
De um ponto de vista técnico, as coisas são bastante simples. O mais provável é
que já exista uma programação de mísseis para destruir os alvos dos Estados
Unidos e da Otan na Polônia, Romênia e Bulgária. Os mísseis estarão programados
para destruir radares, navios, silos, bases ou um país inteiro.
Todo exército tem uma lei: se existir um lugar que ameace a segurança nacional,
esse lugar é um alvo – depósitos de armas nucleares e bases aéreas, sistemas
antimísseis, portos de submarinos nucleares. Isso vale para qualquer país. A
Rússia não é exceção.
Os Estados Unidos se enfraquecerão. O auge de sua capacidade de adotar
contramedidas já ficou para trás. As posições da China, da Rússia e do Brics se
fortalecerão. Isso traz esperança para os países pequenos e médios de que
emergirão outros pólos, lhes capacitando a desenvolver-se de forma independente
e justa.
A Eurásia é o maior continente sobre a Terra e é uma grande cadeia no sentido
geopolítico. O país que dominar a Eurásia controlará dois terços das regiões
mais avançadas e produtivas do planeta.
Cerca de 75% da população mundial vive na Eurásia. A maior parte da riqueza
física global se encontra lá. Como um repositório industrial e natural, a
Eurásia contribui para 65% do PIB global e três quartos dos recursos
energéticos conhecidos – um gigante econômico inédito em termos históricos que
não tem mais como ser parado.
Lá no Ocidente, no entanto, o ar ainda cheira a guerra – Obama está indo
embora, mas ele cuidou de alertar os americanos para se prepararem para
emergências. Talvez ele pudesse querer dizer uma erupção em Yellowstone ou um
abalo na falha de San Andreas. Mas o mais provável é que ele estivesse se
referindo a uma grande guerra iminente.
Angela seguiu os seus passos, ao alertar os alemães para manter estoques de
suprimentos para dez dias e de água para cinco, considerados dois litros por
dia por pessoa. É interessante que eles façam estimativas para cinco e dez
dias.
Dê uma olhada nos mapas que mostram os fronts da guerra na Europa e os estados-tampão
entre a Rússia e os Estados Unidos. Déjà-vu – como eu falei para você.
Nós com certeza vivemos em tempos históricos ou, mais precisamente, na
repetição deles.
A chave está na posição "start".
Os Estados Unidos moveram a nova cortina de ferro para as fronteiras da Rússia.
*Búlgaro, é jornalista, editor e publicista, editor-chefe do site "Strogo
Sekretno", autor de mais de 20 mil artigos sobre política externa na
Europa. Trabalhou no principal jornal da Bulgária socialista, o Rabotnitchesko
Díelo (Causa Operária) cobrindo por décadas a Organização do Tratado de
Varsóvia, O Conselho Econômico Europeu (CEE) e o Conselho de Ajúda Mútua
Econômica (Came, socialista), congressos do movimento de países não alinhados e
atividades da Organização da Unidade Africana.
Publicado originalmente em búlgaro, no site Strogo Sekrietno, sob o título "Lembrem-se do verão e
do outono de 2016". Traduzido do russo para o inglês por Valentina Tzoneva
e publicado no SouthFront em 5 de outubro. Traduzido do inglês para o português
pelo colaborador do Brasil Debate
FONTE: http://www.vermelho.org.br/
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