'Brics não vão criar novas instituições todo ano', diz Uliukaev
13 de outubro de 2016 VÍKTOR
KUZMIN, ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Às vésperas da 8ª Cúpula do Brics, que ocorre entre 15 e 16
de outubro em Goa, na Índia, ministro da Economia russo faz balanço do grupo.
Segundo ministro, atitude prática do grupo tem sido provada
especialmente
desde a presidência russa. Foto:Alexandr Korolkov/RG
Às vésperas da 8ª Cúpula do Brics, que ocorre entre 15 e 16
de outubro em Goa, na Índia, o ministro do Desenvolvimento Econômico da Rússia
avalia grupo em entrevista exclusiva à Gazeta Russa. Para Aleksêi
Uliukaev, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul passa
a priorizar mecanismos criados anteriormente:
Como a Rússia pretende intensificar a cooperação com os
países do Brics?
O Brics não tem o objetivo de surpreender a comunidade
internacional criando novas instituições todos os anos. No momento, nossa
principal tarefa é organizar o trabalho dos formatos já existentes e iniciar a
aplicação prática das iniciativas.
Pretendemos intensificar a cooperação na área do comércio
eletrônico, desenvolver a cooperação entre pequenas e médias empresas (PME),
criar um recurso eletrônico especial para essas e simplificar o acesso dessas
aos contratos públicos e de grandes empresas.
Também apoiamos as iniciativas da Índia na área do comércio
e de serviços e na eliminação de barreiras não tarifárias. A implementação
dessas iniciativas ajudará a criar uma economia inovadora e reforçar o comércio
e os laços econômicos entre os países do grupo.
No ano passado, em Ufá, os países-membros aprovaram a
Estratégia de Parceria Econômica do Brics. O que foi feito durante o
ano?
Esse é um documento muito difícil e complexo, cuja
implementação exige um trabalho coordenado de diferentes departamentos, tanto
em nível nacional, como no âmbito do Brics. Na área econômica, estamos
intensificando a cooperação no comércio eletrônico.
Por iniciativa da Rússia, será realizado o segundo “Diálogo
dos Especialistas”, onde representantes de governos e de empresas unificarão as
abordagens dos países do Brics no conceito do comércio eletrônico.
Há questões internacionais onde o Brics já tenha se tornado
um player global e possa ditar seus termos?
O Brics não pretende ditar termos. Todos os cinco países têm
alta autoridade moral na arena internacional. É um dos instrumentos mais
poderosos da nossa influência sobre as decisões na agenda global.
O Brics busca apoio, agindo no interesse de todos os países
em desenvolvimento, entre eles Argentina, México, Indonésia, Egito, Arábia
Saudita etc. Prestamos muita atenção à cooperação na área de segurança
alimentar, energia, tecnologias de informação.
O Novo Banco de Desenvolvimento do Brics visa à cooperação
com outras instituições financeiras, entre elas o Banco Mundial, AIIB e o Banco
de Desenvolvimento da Eurásia. Assim, o Brics já se tornou centro
da atração de outros países que levam em alta conta relações
internacionais mais justas, inclusive as relações econômicas.
Não é segredo que os países do Brics frequentemente têm
abordagens diferentes na resolução de questões no âmbito da OMC ou do G20. Isso
é normal, já que cada membro do grupo tem suas próprias características
nacionais de desenvolvimento. Mas o fato de que os cinco países em
desenvolvimento decidiram coordenar suas posições é um passo enorme.
Não combinamos esforços contra ninguém. Pelo contrário, nos
concentramos na promoção de uma agenda positiva e unificadora nas relações
internacionais.
Como a economia russa é afetada por sua participação no
Brics?
Originalmente, o Brics foi concebido como uma associação de
países iguais. O clube já provou sua viabilidade e sua resistência a crises.
Apesar do declínio no crescimento econômico, os países do bloco, onde vivem
mais de 40% da população mundial, continuam a ser atraentes e promissores.
Dentro do curto período de sua existência, o grupo já
alcançou resultados significativos: criou o Novo Banco de Desenvolvimento do
Brics e conseguiu formar uma visão comum de cooperação econômica e comercial,
cujos principais objetivos foram incluídos na Estratégia de Parceria Econômica
do Brics.
Apesar dos fatores econômicos externos negativos, no
primeiro semestre de 2016, o comércio entre a Rússia e os países do Brics, em
volumes físicos, cresceu 12,6%, em comparação com o mesmo período do ano
anterior.
O Brics é frequentemente acusado de retardar os trabalhos
práticos. Essa situação mudou durante o ano da presidência da Rússia?
Acho que essas acusações são completamente infundadas. A
criação do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics e do fundo de moeda de
reserva é uma prova disso. O banco já começou a financiar os primeiros
projetos nos países do grupo.
Durante sua presidência, a Rússia ofereceu a seus colegas a
Estratégia de Parceria Econômica, além de uma lista de projetos para
implementação conjunta no formato multilateral.
Somos gratos aos indianos pela continuidade e aprofundamento
do trabalho iniciado pelos russos. Especialmente na implementação da
Estratégia. Além disso, entre 12 e 14 de outubro será realizada a Feira do
Brics, que é considerada um dos eventos mais importantes da presidência
indiana.
Quando começará a implementação dos primeiros projetos do
Banco do Brics?
Os primeiros projetos já foram aprovados. Os países-membros
receberão US$ 911 milhões para a implementação de projetos de energia
renovável. A Rússia, por exemplo, receberá investimentos na construção de miniusinas
hidrelétricas na Carélia [região
russa que faz fronteira com a Finlândia]. Além disso, o Banco também está
interessado em outros projetos na Rússia, inclusive no desenvolvimento de
infraestrutura de transporte.
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