PF envia ao STF diálogo em que Cunha teria dito 'vai dar
m... com Michel'
Breno Pires e Rafael Moraes Moura20 horas atrá 05/08/2017
Imagem do Google
BRASÍLIA - Em relatório encaminhado ao Supremo Tribunal
Federal (STF), a Polícia Federal apontou conversas mantidas por mensagens de
texto entre os então deputados Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, em
período próximo às eleições de 2012, em que eles estariam falando de maneira
cifrada sobre repasses do grupo JBS ao PMDB e mencionam então vice-presidente
da República, Michel Temer.
Alvos da Operação Lava Jato, Cunha e Alves estão
presos preventivamente. O relatório se baseia em mensagens dos celulares de
ambos.
Segundo a PF, em um dos trechos, Henrique Alves narra que
interveio junto a Joesley Batista, dono do grupo JBS, para que, de 3
"convites" acertados com o grupo JBS, 1 fosse destinado ao Rio Grande
do Norte, ao que Cunha reagiu afirmando que "isso vai dar m... com
Michel".
A PF afirma que "a utilização do termo 'convites' pode
ser uma tentativa de mascarar uma atividade de remessa financeira ilegal".
"Caso fosse um procedimento que obedecesse estritamente as normas legais,
não haveria o porquê do uso deste termo", diz o relatório.
"Joes aqui. Saindo . Confirme dos 3 convites , 1 RN 2
SP!Disse a ele!", teria dito Henrique Eduardo Alves.
"Ou seja ele vai tirar o de sao paulo para dar a vc?
Isso vai dar m... com michel", teria respondido Cunha.
A PF conclui que "Joes" seria Joesley Batista e
que "michel" seria Michel Temer.
"A hipótese seria que 3 (três)
repasses originados do acerto com o grupo JBS fossem relacionados a Michel
Temer, lembrando que era um momento eleitoral, porém houve a intervenção de
Henrique Alves para que 1 (um) fosse direcionado ao Rio Grande do Norte, fato
que poderia gerar alguma indisposição com Michel Temer, segundo Eduardo
Cunha".
Procurados, o Palácio do Planalto e a defesa de Eduardo
Cunha informaram que não vão comentar.
A reportagem ainda aguarda resposta da
defesa de Henrique Alves.
O empresário Joesley Batista disse por meio de sua
assessoria que continua à disposição para cooperar com a Justiça.
Há outras menções a Joesley Batista e a Temer. Em uma delas,
os deputados estariam falando sobre um encontro na "casa dele
joeslei".
"Acredita-se que Henrique Alves estaria interessado no
suposto repasse que foi mencionado em dialogo anterior (dos 3
"convites", 1 para o RN), contudo Eduardo Cunha sugere que resolveria
de outra forma sem ter quer alterar o que seria relacionado a Michel Temer
("Vou resolver dentro de outra ótica,sem tocar em michel) e, ainda, sobre
"Joes', diz "O cara foi malandro e vc caiu e não vamos nos atritar
por isso,ele vai resolver e pronto,deixa para lá'.
Henrique Alves responde que
não caiu e diz que seria problema de, supostamente, Joesley Batista e Michel
Temer ("Cai nso. Me garantiu, concordei. De onde problema dele com
Michel.,,! Ok."), diz o relatório da PF.
As informações constam do Relatório de análise de Material
apreendido nº 137/2016, parte da Ação Cautelar 4044, na qual Eduardo Cunha e
Henrique Alves estão entre os investigados.
Em um ponto mais adiante no relatório, a PF faz ponderações
sobre o teor das conversas e sobre o uso de termos como "convite".
"Observa-se que algumas referências a repasses foram
apresentadas neste tópico, uma fração continha características de doações
eleitorais, contudo não se pode ainda evidenciar se tais remessas são lícitas
ou motivadas por contrapartidas.
Muito dos diálogos abrem campo para
aprofundamento ou fornecem substancial informações para investigações que
ocorrem paralelamente.
Contudo, é importante ressaltar que em algumas conversas
ocorreram tentativas de mascarar a intenção de transferências financeiras, coma
exemplo o usa dos termos 'convites' e 'turistas'.
Fato este que sugere a
possibilidade de serem recursos ligados a ilícitos", diz a PF.
Ao concluir o relatório, o agente da PF Paulo Marciano
Cardoso retoma este raciocínio.
"Das informações apuradas neste relatório, destaca-se
atenção para os repasses financeiros, principalmente aqueles que há a suposição
de utilização de termos para mascarar as transações, 'convites' e 'turistas'.
Pois, outras menções foram tratadas normalmente como valores e o fato da suposta
tentativa de ocultar que seria remessas financeiras gera uma situação
suspeita", diz o agente da PF.
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