Testemunha da Lava Jato que denunciou ex-gerente da
Transpetro é morta na Bahia
18/01/2018
Dois meses depois de prestar depoimento à Polícia Federal, a
principal testemunha das investigações que resultaram na prisão do ex-gerente
da Transpetro na Bahia José Antonio de Jesus foi assassinada.
José Roberto Soares Vieira, 47, foi morto nesta quarta-feira
(17) com nove tiros na rodovia BA-522, em Candeias, Região Metropolitana de
Salvador.
Ele era um dos donos da JRA Transportes, empresa que teve
como sócio entre 2011 e 2013 o filho do ex-gerente da Transpetro, conhecido
como Zangado.
José
Antônio de Jesus foi preso provisoriamente no dia 21 de novembro do
ano passado na 47ª fase da Operação Lava Jato.
Ele foi acusado de receber
propinas de subsidiárias da Petrobras por meio de empresas e contas bancárias
de familiares. Os recursos, segundo o Ministério Público Federal, seria
destinado ao PT da Bahia.
À Polícia Federal José Roberto Soares Vieira afirmou que a
JRA Transportes foi usada por José Antônio de Jesus para receber pagamentos de
empresas fornecedoras da Transpetro sem ter prestado qualquer tipo de serviço.
Com base no depoimento, o Ministério Público Federal rastreou pagamentos de R$
2,3 milhões para o ex-gerente da Transpetro.
O depoimento também foi um dos elementos que embasaram o
pedido da Procuradoria-Geral da República, acatado pelo juiz Sergio Moro, para
que a prisão temporária de José Antônio de Jesus fosse transformada em
preventiva –por tempo indeterminado.
O ex-gerente da Transpetro está preso há
quase dois meses em Curitiba.
CRIME
A delegada Maria das Graças Barreto, titular da delegacia de
Candeias que comanda as investigações, disse à Folha que
“não há
dúvida” de que a morte de José Roberto Soares Vieira foi vítima de crime
planejado.
Segundo as investigações, o homem que o matou foi à sede da
transportadora à procura de Vieira nos últimos dois dias e informou a
funcionários que estava oferecendo serviços para capinar e limpar o terreno da
transportadora.
Por volta das 11h40 de quarta, o homem abordou Vieira quando
ele entrava na empresa, o atingiu com nove tiros e fugiu.
Testemunhas também afirmam que Vieira andava preocupado com
sua segurança. Horas antes de ser morto, ele deixou seu carro em uma
revendedora em Salvador.
O objetivo seria comprar um novo automóvel, com vidros
blindados. No momento em que foi morto, ele estava em um carro locado.
Segundo a delegada, a polícia trabalha com três linhas de
investigação: queima de arquivo, vingança e crime político, já que a vítima era
filiada ao PT e foi vice-prefeito da cidade de Ourolândia, norte da Bahia entre
2013 e 2016.
O ESQUEMA
As investigações do Ministério Público Federal apontam que o
ex-gerente da Transpetro usou familiares e intermediários para receber R$ 7
milhões em propina da empresa de engenharia NM, fornecedora da Transpetro,
entre setembro de 2009 e março de 2014.
Segundo os procuradores, o ex-gerente teria pedido,
inicialmente, o pagamento de 1% do valor dos contratos da NM com a Transpetro
como propina, mas o acerto final ficou em 0,5%. Esse valor teria sido pago
mensalmente em benefício do PT.
Para dissimular e ocultar a origem ilícita dos recursos, o
valor teria sido pago por depósitos realizados em contas bancárias de terceiros
e familiares, vindo de contas de titularidade da empresa de engenharia NM e de
seus sócios.
José Antônio de Jesus é investigado pela prática dos crimes
de corrupção e lavagem de dinheiro.
Em nota, a defesa de José Antônio de Jesus disse esperar
“que a polícia identifique rapidamente os autores desse grave crime”.
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