Vazamento da
delação de Palocci confirma a suspeita: vem aí mais uma farsa. Por Joaquim de
Carvalho
Publicado
por Joaquim
de Carvalho 3 de julho de 2018
Aos poucos,
com os vazamentos da Polícia Federal que começam a alimentar a velha imprensa,
se vai conhecendo detalhes da farsa da delação de Antonio Palocci.
O Globo
publica hoje um ponto do acordo feito entre a PF e o ex-ministro da Fazenda,
homologado no dia 22 de junho pelo desembargador João Pedro Gebran Neto, do
Tribunal Regional Federal da 4a. Região.
O acordo
está sob sigilo, mas tal condição não impediu que “fontes da PF” liberassem
parte do seu conteúdo:
Palocci vai entregar os arquivos dos computadores da sua
consultoria, que estavam desaparecidos.
Quando a PF
fez a operação de busca e apreensão na sede da consultoria do ex-ministro em
São Paulo, em setembro de 2016, encontrou monitores, teclados e mouses, mas não
o desktop — no lugar, havia notebooks novos.
Esse
cenário, aparentemente montado para dissimular a retirada dos desktops com os
arquivos mais importantes da consultoria, é que teria levado ao pedido de
conversão do decreto de prisão temporária do ex-ministro em prisão preventiva,
condição que o mantém encarcerado até hoje.
No acordo
homologado pelo desembargador Gebran, Palocci prometeu entregar o conteúdo dos
arquivos, mas fará isso através de uma perícia particular.
Segundo o
jornal, os dados dos computadores da Projeto (nome da empresa de Palocci)
ainda não foram entregues à PF porque estão passando por uma análise de peritos
contratados por Palocci.
Os
consultores particulares estariam fazendo esse serviço para “facilitar o
trabalho dos investigadores”: organizarão “o material de maior relevância”,
supostamente filtrariam apenas os conteúdos que envolvem crimes.
Aí é que
está o perigo, a manobra para proteger alguns e incriminar outros, sem falar na
possibilidade de forjar provas.
Exagero?
Quando a
Odebrecht celebrou acordo de delação premiada, também foi feita essa filtragem
antes, através de uma empresa suíça, a FRA.
A empresa
fez supostas “cópias forenses” do sistema My Web Day (contabilidade) e Dousys
(comunicação, tipo whatsapp), armazenados em servidores da Suíça. A PF recebeu
um HD e alguns pen drives.
Ao mesmo
tempo em que se tornavam públicas as inconsistências de alguns arquivos,
claramente adulterados, a defesa do ex-presidente Lula contratou uma empresa
inglesa para fazer uma perícia dessas cópias.
A CCL, que
tem entre seus integrantes antigos peritos da Scotland Yard, concluiu que não é
possível garantir que não houve havido adulteração, pois, para ter essa
garantia, era preciso comparar as cópias com o sistema original.
Mas este
sistema original está inacessível, já que foi cadeado digitalmente e ninguém
consegue abri-lo.
Em outras
palavras, as cópias extraídas pela FRA são imprestáveis do ponto de vista
forense.
Isso não
impediu, entretanto, que houvesse decreto de prisão e até condenação com base
nas “provas” fornecidas pela Odebrecht.
A maior
evidência de que provas foram forjadas no caso da Odebrecht é a revelação de
documentos por parte do advogado Rodrigo Tacla Durán, que prestou serviços para
a Odebrecht e hoje mora na Espanha.
O juiz
Sergio Moro, no entanto, indeferiu todos os pedidos de que ele fosse ouvido
como testemunha.
Tacla Durán,
que tinha acesso ao Drousys da Odebrecht, possui extratos e planilhas originais
e os comparou com as cópias juntadas pelo Ministério Público Federal: são
diferentes.
No caso da
Odebrecht, outro indício de que o sistema foi adulterado é o depoimento de um
diretor da empresa, Fernando Migliaccio.
Ele admitiu
que, em 2015, antes que as supostas cópias dos sistemas da Odebrecht fossem
entregues, houve reunião de executivos da empresa em Madri, na Espanha.
Lá,
decidiram tomar providência para se protegerem.
Tacla Durán contou que
participou dessa reunião e ali houve a decisão de cortar o tracking do
dinheiro, isto é, impedir seu rastreamento.
Segundo o
advogado que Moro se recusa a ouvir, foi assim, por exemplo, que contas do
publicitário João Santana desapareceram das planilhas entregues à Lava Jato em
Curitiba.
No caso de
Palocci, a PF diz que ele entregará também os HDs originais, assim como a
Odebrecht fez no caso do acordo de leniência dela. Mas para que serviram?
Ninguém abriu.
O que está
em jogo, além da saída dele da prisão para usar tornozeleira eletrônica em casa
durante algum tempo, é a quantia de R$ 30 milhões da empresa de consultoria,
que estão bloqueados.
Segundo o
acordo, caberá a Moro decidir sobre sua liberação — há alguma dúvida de que,
depois de dizer a Moro o que este quer sobre Lula, o dinheiro será liberado?
A Odebrecht
também recebeu varias imunidades em troca da entrega do seu sistema e do
depoimento dos seus executivos.
Mas, quando ficou evidente que ela havia
entregado gato por lebre, o acordo não foi rescindido.
Pelo
contrário: ao manterem as cláusulas do acordo, os agentes do Estado chancelaram
o que fez a empresa. Com Palocci, tudo indica o mesmo caminho.
O
ex-ministro, ao oferecer a Moro a cenourinha da grande empresa de comunicação
(leia-se Globo) que ele ajudou a não quebrar, lubrificou a engrenagem que levou
ao acordo.
Hoje, o
jornal do grupo publica o vazamento de que Palocci vai entregar os arquivos da
consultores, depois de bondosamente peritos contratados por ele selecionarem o
que vale a pena ser investigado.
Quem
acredita que os dados (ou registro de pagamentos, sabe-se lá) referentes à
grande empresa de comunicação estarão nesses arquivos?
.x.x.x.
PS: O vídeo
sobre a recompensa de Palocci para entregar Lula:
Palocci vai receber 30 milhões para
incriminar Lula
Publicado em 7 de mai de 2018
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