Vidas
paralelas: Dallagnol é uma espécie de Neymar sem a parte do talento, mas com a
da canastrice. Por Kiko Nogueira
Publicado
por Kiko
Nogueira 3 de julho de 2018
Menino Deltan
Deltan
Dallagnol é o Menino Ney do Ministério Público — não o dos gols e do talento
inegável, mas o do mimimi e do esperneio estéril.
É a estrela
do time da Lava Jato, ao lado do parceiro Carlos Fernando dos Santos Lima, que
lhe dá as principais assistências.
Até quando
Dallagnol vai abusar da paciência dos brasileiros com suas cambalhotas?
Até quando
vai afrontar o STF?
Na noite de
segunda, dia 3, usou o Twitter para reclamar do juiz.
Criticou o
ministro Dias Toffoli, do STF, que cassou decisão de Moro impondo tornozeleira
eletrônica a José Dirceu.
“Naturalmente,
cautelares voltavam a valer.
Agora, Toffoli cancela cautelares de seu
ex-chefe”, escreveu, atropelando a pontuação numa pressão que só pode ser
explicada como a ansiedade do guerreiro do povo brasileiro em salvar a nação.
A insinuação
de favorecimento se deve ao fato de Toffoli ter sido, antes de assumir o posto,
advogado do PT e sub-chefe da Casa Civil na gestão de Dirceu.
Pode isso,
Arnaldo? Claro que sim.
Dallagnol
tem carta branca para agir politicamente e exercer sua demagogia barata — com o
benefício indelével de não correr risco algum de perder cargo para o qual não
foi eleito.
Detona o
Supremo sem medo de ser feliz porque é inimputável.
Em novembro
de 2017, o Conselho Nacional do Ministério Público concluiu que suas famosas
palestras são corretas e “filantrópicas”.
Isso apesar
de a Constituição proibir, no artigo 128, § 5º, II, “receber, a qualquer título
e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais” e
“receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas
físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em
lei”.
A Lei
Complementar nº 75, de 1994, a Lei Orgânica do Ministério Público da União,
repete parcialmente a disposição constitucional em seu artigo 237.
Há alguns
dias, o corregedor nacional do MP, Orlando Rochadel Moreira, abriu contra ele
um processo administrativo disciplinar.
Em 20 de
fevereiro, Menino Deltan replicou a mensagem do colega em seu Twitter com um
comentário luminoso.
“Se cabem
buscas e apreensões gerais nas favelas do Rio, cabem também nos gabinetes do
Congresso.
Aliás, as evidências existentes colocam suspeitas muito maiores
sobre o Congresso, proporcionalmente, do que sobre moradores das favelas, estes
inocentes na sua
grande maioria”, disse.
“Com tal
conduta, mascarada através de suposto exercício da liberdade de expressão, incitando
o ódio e ofendendo o Congresso Nacional, deixou o processado de observar o seu
dever funcional de guardar decoro pessoal em respeito à dignidade de suas
funções e à da Justiça, e também ao prestígio do Ministério Público”, afirma
Moreira.
Deltan
Dallagnol se defendeu com o teatro de sempre.
“Calar a verdade, dita
contra poderosos, é próprio de ditaduras, não de democracias”, alega.
“Tapar o sol
com a peneira, esconder o diagnóstico que a Lava Jato e a imprensa fazem ou
varrer a sujeira para debaixo do tapete não contribuirá para o amadurecimento
de nossa democracia ou para o controle da corrupção.”
Rodrigo
Tacla Durán teria muito a esclarecer sobre a questão de tapar o sol com a
peneira e esconder diagnósticos.
Tão certo
quanto o Menino Ney vai dar seu chilique em seus próximos jogos, Dallagnol será
absolvido no CNMP.
Como fazê-lo
respeitar a democracia ou o decoro no Judiciário num país em que isso virou uma
ficção?
Menino
Deltan leva uma vantagem sobre Neymar:
se o atacante já não engana os
juízes com sua canastrice, o procurador continua fazendo-os de bobos na
maior.
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